A força-tarefa que apura o desastre da mina da Vale em Brumadinho investiga se a mineradora responsável pela operação da barragem que se rompeu em 25 de janeiro na cidade da Grande BH mudou de auditoria técnica para conseguir um parecer favorável sobre a estabilidade da estrutura, que acabou entrando em colapso. A ruptura das barragens 1, 4 e 4A provocou a maior catástrofe humana e socioambiental do Brasil, deixando 186 mortos e 122 desaparecidos sob mais de 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração.
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Em 29 de janeiro, os engenheiros da Tüv Süd Makoto Namba e André Jum Yassuda foram detidos, assim como três funcionários da Vale – o geólogo Cesar Augusto Paulino Grandchamp, o gerente de Meio Ambiente, Saúde e Segurança do complexo minerário de Córrego do Feijão, Ricardo de Oliveira, e o gerente-executivo operacional Rodrigo Artur Gomes Melo. Em depoimento à força-tarefa, Makoto Namba afirmou ter se sentido pressionado pela mineradora para atestar a estabilidade da barragem, que viria a se romper. Segundo o profissional, representantes da Vale insistiam em saber quando o laudo de garantia de estabilidade seria emitido. Ele garantiu ter informado à empresa que deveria seguir as 17 recomendações que fez para que a operação continuasse, mas admitiu ter assinado o atestado temendo perder o contrato.
A equipe de reportagem do EM ouviu a defesa dos funcionários da Vale, que negaram essa pressão.
ELES SABIAM Em 15 de fevereiro, outros oito funcionários da Vale foram detidos e ouvidos pela força-tarefa. Nos depoimentos, os trabalhadores indicaram que executivos da mineradora sabiam que havia ocorrido um decréscimo no nível de segurança na barragem, mas mantiveram a operação da estrutura. Em paralelo a essas investigações, o MP requisitou na Justiça o descomissionamento de outras oito barragens da empresa, por não serem consideradas seguras, segundo os próprios critérios da mineradora.
Por meio de sua assessoria de imprensa, a Tüv Süd informou que “com o apoio de especialistas da própria empresa e externos está investigando minuciosamente seus processos internos, bem como possíveis causas para o trágico colapso da barragem em Brumadinho”. “Caso essas investigações revelem qualquer conduta indevida por parte de funcionários, a empresa tomará as providências necessárias”, concluiu. A Tractebel foi procurada, mas até o fechamento desta edição não havia respondido aos questionamentos da reportagem do EM. A Vale também não se posicionou sobre as suspeitas investigadas pela força-tarefa..