Passado o período considerado mais forte do ano para pousadas, restaurantes, passeios turísticos e demais tipos de comércio de São Sebastião das Águas Claras, distrito de Nova Lima conhecido como Macacos, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, empresários do vilarejo amargaram um prejuízo desanimador. Apesar da estimativa de que o movimento do feriado prolongado seria ruim, ainda assim as ruas completamente esvaziadas quando o normal seria as ladeiras lotadas deixou todos extremamente angustiados quanto ao futuro que vem pela frente depois que a Vale ligou o alerta de rompimento para a barragem B3/B4, da Mina Mar Azul, e gerou fuga imediata dos visitantes. Como a comunidade vive quase que 100% do turismo, a vila de Macacos foi severamente impactada.
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Quando se fala em Macacos, uma das principais referências é o restaurante Acervo da Carne, que já funcionava na chegada ao vilarejo há 25 anos. Funcionava porque desde 16 de fevereiro, quando a sirene da Vale alertou a população do risco com a barragem B3/B4, o estabelecimento foi fechado. “Meus funcionários entraram em pânico e ninguém quer trabalhar. Todos os 30 estão de aviso-prévio para que eu possa ganhar um tempo”, diz o empresário Oldrich Dusanek Júnior, que comanda o Acervo junto com a irmã.
Em 2001, ele passou pela mesma situação quando houve o rompimento da barragem da mineradora Rio Verde e já sabe o que fazer para tentar evitar que o Acervo da Carne seja fechado para sempre. “Naquela época precisei fazer a demissão de 28 dos meus 45 funcionários.
ERA O MOMENTO O prejuízo com o fechamento total no carnaval vem no momento em que Macacos certamente compartilharia o aumento do movimento com a festa em BH. “Não tenho dúvidas que com BH bombando no carnaval, Macacos também seria um destino bastante procurado. É nossa melhor época do ano, a gente trabalha dia e noite praticamente 10 dias ininterruptos. O carnaval é nosso 13º, 14º salário. Momento em que a gente coloca as contas em dia”, diz Oldrich.
O restaurante Acervo da Carne está em um ponto mais baixo da vila, mas segundo o proprietário não seria impactado pela possível passagem de uma onda de lama, conforme informações que ele recebeu da Vale. De qualquer forma, ele não vê nenhuma condição para abrir. Porém, o vizinho de frente, Kleber Ribeiro, está na rota de um possível rompimento. Kleber é dono de uma locadora de quadriciclos para passeios, outro setor severamente impactado pela fuga dos turistas.
Ele tinha o costume de fazer 32 passeios por dia de carnaval, com base em folias passadas.
No restaurante Evolução da Gula, do empresário Wellington Vaz Ferreira, que fica na rua principal de Macacos, ele não vendeu 10% do que esperava para o carnaval. “Tive que dispensar seis funcionários entre freelancers e fixos e ficamos apenas eu, minha mãe e meu irmão. Se a Vale não fizer nada para modificar a imagem de Macacos, não temos previsão de recuperar o que foi perdido. Eu só não fechei pois estou recebendo o pessoal que está trabalhando para a empresa, mas diminuí bastante a margem de lucro para fazer esse atendimento. Nós sempre vivemos aqui do turismo, nunca da mineradora. Talvez seja a hora de a empresa fazer algo pelo vilarejo de Macacos”, afirma.
Justiça dá prazo para pagamentos
A Justiça intimou a mineradora Vale a apresentar um relatório parcial de pagamentos aos atingidos pelo rompimento da Barragem 1 da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho.
Se a Vale não apresentar o cronograma, o juiz vai liberar o dinheiro retido. “Só não dá para fazer agora porque não sabemos quantas pessoas vão receber o valor. Mas, assim que soubermos, o juiz precisará disponibilizar o dinheiro já bloqueado pela Justiça”, explicou André Sperling, representante do Ministério Público de Minas Gerais.
A Vale concordou em receber até hoje o cadastramento coletivo das famílias, e em usar os documentos juntados pelas comunidades do Córrego do Feijão e do Parque da Cachoeira, entregues ao Ministério Público e à Defensoria Pública. De acordo com o Tribunal de Justiça, o material passará por análise para início dos pagamentos.
Também ficou designada audiência de conciliação para o dia 21, data em que a Vale se comprometeu a apresentar a análise da documentação individual dos atingidos e a demonstrar que não haverá falta de água ou como será suprido seu fornecimento nas cidades que dependiam da captação do Rio Paraopeba.
Na mesma data, a mineradora deverá demonstrar ainda a atuação nos acessos públicos atingidos pelo rompimento da barragem, incluindo a ponte da Fazenda José Linhares. O Ministério Público manifestou preocupação com a possibilidade de haver um acidente no local.
A fim de garantir celeridade na adoção das medidas emergenciais e evitar dificuldades na tramitação dos autos da ação judicial, a Vale e o estado de Minas Gerais celebraram acordo para que a contratação de produtos ou serviços necessários seja feita extrajudicialmente, bem como as despesas emergenciais relacionadas ao rompimento. O valor de R$ 1 bilhão continua como garantia, sendo R$ 500 milhões depositados em juízo e os outros R$ 500 milhões, que poderão ser substituídos por garantias com liquidez corrente, fiança bancária ou seguros..