Igualdade salarial, mesmas oportunidades profissionais, legalização do aborto e o fim da violência doméstica. Essas são só algumas das pautas levantadas em bandeiras e nos gritos de centenas de mulheres que se reúnem no centro da capital mineira no fim da tarde desta sexta-feira. O ato do dia Internacional da Mulher, organizado por movimentos de mulheres, por coletivos, agrupações, movimentos sociais e mulheres independentes, concentrou-se pela tarde em dois pontos da capital – a Praça da Estação e a Praça Raul Soares. Posteriormente, seguiram até a Praça Sete, onde foi lido um manifesto.
A programação começou com o lançamento do livro "Guaicurus - A Voz das Putas", obra coletiva, escrito por mulheres de muitas idades, todas trabalhadoras sexuais. Trata-se de uma realização da Associação de Prostitutas de Minas Gerais (Aprosmig) . Logo o ato contou com intervenções artísticas de distintos grupo.
O bloco Sagrada Profana foi um deles, que fez uma breve apresentação neste primeiro momento, com sua bateria, sopristas e performers e esteve junto com outros grupos artísticos da cidade. O cortejo seguiu para a Praça Sete, no centro da capital, onde mulheres de várias frentes se encontraram num grande ato.
"O que me trouxe aqui hoje é a luta pelos direitos das mulheres de todas as gerações, de todas as orientações sexuais. Nós queremos nossos direitos, nós queremos viver e nós queremos liberdade. O dia das mulheres é um dia de luta, é o dia de reconhecer os direitos que nós já conquistamos e de continuar lutando por tantos outros.", disse a psicóloga Louise Pinheiro, de 25 anos.
Lídia Silva, de 29, destaca a importância da presença da mulher negra no ato. "Estamos aqui para ser resistentes, principalmente, nós, mulheres negras. Ser mulher negra é muito mais difícil. Nós somos guerreiras", contou. Já Renata Barros, de 29,é bancária e luta contra o machismo no trabalho. "Nós falamos tanto sobre isso, mas, os homens continuam nos cargos mais altos. O tratamento continua sendo diferenciado", disse. Além do mais, lamenta os retrocessos quanto a legalização do aborto no país. A bandeira pela legalização estava por todas as partes – tanto em cartazes e faixas quanto em mensagens estampadas nos corpos das mulheres.
O Brasil e Minas Gerais ostentam números preocupantes. Segundo os diagnósticos de violência doméstica e familiar contra a mulher divulgados pela Secretaria de Estado e Segurança Pública, em Minas, no ano de 2016, foram registrados 406 feminicídios (138 consumados e 268 tentados); no ano de 2017, 459 feminicídios (150 consumados e 309 tentados); e, em 2018, 433 feminicídios (156 consumados e 277 tentados). Mais de 300 nomes de mulheres envolvendo casos relacionados a feminicídio foram bordados em varal que compôs exposição a céu aberto na Praça Sete.
O Dia Internacional da Mulher contou com uma série de manifestações por igualdade de gênero em ao menos 48 países. Pelo menos 34 protestos estão marcados para cidades brasileiras. O protesto M8 foi concretizado após as greves realizadas por ativistas na Polônia e na Argentina, como resposta à violência social, legal, política, moral e verbal enfrentada pelas mulheres. A proposta é que elas suspendam por um dia as tarefas domésticas e as atividades remuneradas, se reúnam e debatam a desigualdade de gênero.
Mais cedo, a Polícia Militar (PM) e a Ordem dos Advogados do Brasil-OAB-MG apresentou a população de Belo Horizonte com uma apresentação da Banda de Música da corporação na Praça Sete. As policiais femininas distribuíram flores à plateia e, junto com advogadas, panfletos sobre prevenção à violência doméstica e garantias de direito ao público feminino. Uma iniciativa da entidade de advogados da Companhia Independente de Prevenção à Violência Contra a Mulher.
Devido à manifestação, o trânsito na Avenida Afonso Pena, via que corta a Praça Sete, ficou congestionado.