Os olhos não conseguiram segurar o espanto, a sensibilidade falou mais alto, a emoção transbordou, e, assim, nasceu um mural que tem “parado” o trânsito na esquina da Rua Coronel Alberto Gomes com Avenida José Cândido Silveira, no Bairro Penha, Região Nordeste de Belo Horizonte. Quem passa a pé pela vias públicas também não esconde a emoção diante do grafite retratando as tragédias em Mariana, em 5 de novembro de 2015, e a mais recente, em 25 de janeiro, em Brumadinho. O autor, Saymom Oliveira de Assis Costa, de 25 anos, agradece os elogios e diz que se espelhou em imagens publicadas pela imprensa para prestar a homenagem à memória dos mortos e desaparecidos durante o rompimento de barragens de rejeitos de minério.
Leia Mais
Documento simulava hipótese de liquefação de barragem da Vale em BrumadinhoVale, auditoria e engenheiros culpam uns aos outros pela tragédia em BrumadinhoBombeiros localizam mais um corpo em Brumadinho; 101 pessoas seguem desaparecidasArte das ruas toma conta da Esplanada do MineirãoCores de arte urbana mudam paisagem no Complexo da LagoinhaCentro de BH ganha novas pinturas pelas mãos de artistas de ruaMuros do Conjunto IAPI, na Lagoinha, são grafitados por 100 artistas Vale usou empresa de auditoria para obstruir órgãos de fiscalização, diz MPHistórias de vítimas de barragens em Brumadinho e Mariana são levadas à ONUBelo Horizonte celebra o dia de São José com missas
Já sobre Bento Rodrigues, subdistrito praticamente destruído pelo rompimento da Barragem do Fundão, da Samarco, o artista retratou a imagem da Igreja de São Bento, desaparecida do mapa, e outra emblemática no desastre que deixou 19 mortos e devastou a Bacia do Rio Doce. “Fiz toda a composição durante o carnaval. Fiquei pensando muito nessas tragédias, como todo mundo, né.? Pensei muito nos índios que sofreram tanto com a devastação de suas terras, do seu rio”, conta o jovem, autodidata, que usou como tela a parede lateral cedida pelo proprietário de uma loja – a superfície tem 11,5 metros de largura e 6,5 metros de altura. Saymom disse que pensou também, com desgosto, na liberação de armas pelo atual governo, nos problemas do país e outras questões que o afligem.
POESIA Sem título, a obra encantou o balconista de uma oficina de alinhamentos na avenida, Wallace Renê Silva de Assis, que gosta do que vê a todo minuto e considera muito importante a homenagem às duas cidades atingidas em pouco mais de três anos. O delegado aposentado José Judson da Silva também elogiou o trabalho. “Faço caminhada na José Cândido da Silveira e sempre paro para observar e não esquecer”, afirmou.
Como parte da tela gigante, o artista escreveu uma poesia, com os versos: “O ano de 2019 começou em tragédia. Encher cadeia e cemitério pro governo é estratégia (…) O ser humano esquece sua humanidade. Dando valor a mentiras, deixa de ver a verdade (…) Deus, olhai por nós. Nosso povo está dividido”.