As autoridades mineiras dispararam as sirenes e elevaram o risco de rompimento da Barragem Sul Superior na Mina de Gongo Soco, em Barão de Cocais, na Região Central do estado, para o nível 3 – o último previsto pela mineração antes do vazamento. A informação foi confirmada pelo Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG), que entrou em contato com socorristas da Vale para checar a situação do local.
Por meio de nota, a mineradora confirmou o aumento do nível de alerta da barragem . De acordo com a empresa, após vistoria técnica, um auditor independente informou que a estrutura está em condição crítica de estabilidade, com possibilidade de liquefação. No entanto, conforme os bombeiros que atendem Barão de Cocais, a Vale assegurou que não há possibilidade de rompimento.
De acordo com a Coordenadoria de Defesa Civil de Minas Gerais (Cedec), a previsão é de que, no domingo ou na segunda-feira, seja feito um treinamento de resgate em uma área secundária que está fora da Zona de Autossalvemento (ZAS). Em caso de rompimento da barragem, demoraria cerca de 1 hora e 12 minutos para os rejeitos atingirem a comunidade. Na região, vivem aproximadamente 3 mil pessoas.
Ainda segundo a coordenadoria, as sirenes foram acionadas por volta das 21h30 após uma reunião entre autoridades de vários órgãos. Atualmente, há sete viaturas da Polícia Militar (PM) na cidade para realizar os regastes em caso de rompimento.
A previsão é de que intervenções técnicas sejam feitas na barragem para diminuir o risco de colapso da estrutura. No entanto, visto que uma intervenção poderia causar maior instabilidade na represa, será feito um estudo anterior com a área técnica.
Segundo documento oficial da Cedec, esse nível “caracteriza-se por uma situação de ruptura iminente ou que está ocorrendo”.
As comunidades próximas à barragem foram evacuadas do local em 8 de fevereiro. No total, 452 pessoas saíram às pressas de suas casas naquela ocasião, durante a madrugada de uma sexta-feira, após o acionamento dos sinais sonoros de emergência. As medidas, segundo a Vale, faziam parte do Plano de Ação de Emergência de Barragens de Mineração (PAEBM).
A barragem sul superior é uma das 10 barragens de alteamento a montante inativas remanescentes da Vale. A estrutura está incluída no programa de descomissionamento anunciado pela mineradora. O alteamento é o mesmo utilizado nas barragens de Mariana e Brumadinho, que se romperam em 2015 e em janeiro deste ano, respectivamente.
Bloqueio
Em 1º de março, a Justiça mineira bloqueou R$ 50 milhões da Vale como forma de garantir o ressarcimento por possíveis prejuízos causados pela evacuação de moradores de Barão de Cocais. A medida foi tomada depois que uma consultoria avaliou que a barragem Sul Superior da Mina Gongo Soco tinha risco de se romper.
A ação é de autoria do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e da Defensoria Pública. No entanto, na ocasião, os órgãos solicitaram o bloqueio de R$ 1 bilhão, o que foi diminuído pela Justiça. O valor acatado corresponde a 5% do solicitado.
Sítio histórico
Gongo Soco é um sítio histórico de grande importância para Minas Gerais, em Barão de Cocais, distante 76 quilômetros de Belo Horizonte. A mina, provavelmente uma das mais antigas do estado, viveu períodos de apogeu durante o ciclo do ouro no século 18, a decadência na extração dessa riqueza e uma outra fase de exploração de minério de ferro.
Foi operada pela Vale entre 2000 e 2016, com produção que baixou de 6 milhões de toneladas por ano até o seu fechamento. A extração de ferro foi iniciada em 1987 e 11 anos depois houve nova etapa de pesquisas para buscar ouro.
O patrimônio e a cultura de Minas também estão sob risco das barragens. Historiadores contam que um comerciante de madeira, chamado Manuel da Câmara Bittencourt, descobriu ouro na antiga vila de Gongo Soco no início do século 18, quando a mina ficou conhecida.
A reserva foi herdada pelo Barão de Catas Altas, João Batista Ferreira de Sousa Coutinho. No século 18, tanto a vila quanto a mina foram vendidas à companhia inglesa Imperial Brazilian Mining Association.
Os ingleses construíram aldeia, ponte, fundição de pedra e duas igrejas. Era o próprio Barão de Catas Altas quem guardava sob chaves em um grande palácio que ergueu no local.
As ruínas da vila e o palácio foram tombados em 1995 pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iphan).
*Estagiário sob supervisão da subeditora Regina Werneck