Mais de dois meses depois da catástrofe em Brumadinho, com o número de mortos identificados chegando a 216 e 88 pessoas ainda procuradas, a Polícia Civil retirou da lista de desaparecidos ontem – no 62º dia de buscas – um homem que se descobriu estar vivo. João Carlos de Oliveira tinha sido dado como uma das pessoas que sumiram logo após o rompimento da barragem. Porém, reapareceu já nos primeiros dias de buscas, mas seus familiares não avisaram às autoridades. “Tivemos notícia de que essa pessoa estaria viva e investigamos até descobrir que ela apareceu, mas seu nome permaneceu na lista. Como não houve nenhuma tentativa de recebimento de valores de compensação, não foi identificada fraude”, diz a delegada de Brumadinho, Ana Paula Gontijo. Outro nome já havia sido retirado da relação há mais tempo, por razão semelhante.
A situação é diferente de outras, que podem se multiplicar neste momento, segundo a Polícia Civil. Até agora, 11 estelionatários foram presos pela corporação por colocar quatro nomes de pessoas que não existiam na lista de desaparecidos na tragédia, e também por tentarem incluir outros nomes sem sucesso na mesma relação. Essa ação obrigou a Polícia Civil a retirar esses quatro nomes, o que diminuiu a quantidade de pessoas ainda não encontradas desde o início dos trabalhos de busca.
A tentativa de fraude é motivada pela ânsia de obter os valores de R$ 100 mil anunciados pela Vale com as doações para parentes de mortos na tragédia. A delegada Ana Paula Gontijo diz que, de agora em diante, é possível que esse trabalho de investigação sobre tentativas de fraude aumente, pois, após o pagamento das três modalidades de doações (R$ 100 mil para quem perdeu parentes, R$ 50 mil para quem perdeu casas e R$ 15 mil para quem perdeu atividade produtiva), agora a Vale começa a pagar o valor mensal por um ano para toda a população de Brumadinho.
“Já tivemos notícias de aumento de procura de postos de saúde para emissão de declaração de residência. A Secretaria Municipal de Saúde foi orientada no sentido de que servidores dos postos tomem nota das datas em que esses pedidos foram feitos. E a própria Vale terá que exigir os documentos que foram acordados com o Ministério Público para comprovar a residência na cidade e, portanto, direito à compensação”, afirma a delegada. Qualquer indício de fraude pode ser comunicado à Polícia Civil, que segue investigando casos em que já houve suspeita de estelionato.