Uma bicicleata na manhã deste domingo tenta chamar a atenção de turistas para a estrada alternativa que leva ao Centro histórico do povoado de São Sebastião de Águas Claras, distrito de Nova Lima conhecido como Macacos, na Grande BH. O local que tem no turismo sua principal atividade econômica está praticamente paralisado depois do alerta de rompimento da barragem de rejeitos B3/B4, da mineradora Vale.
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Macacos: como novo disparo de sirene virou golpe de misericórdia no turismoSem aula, alunos de escola de Macacos aguardam solução da ValePor que alarmes constantes podem agravar risco de morte em ruptura de barragens?Moradores de Macacos enfrentam fila para receber voucher-refeiçãoA arquiteta Márcia Taveira que mora no povoado há 37 anos, precisou deixar sua casa às pressas e fechou seu restaurante, Fazenda do Engenho dias depois do primeiro alarme. “São vários estabelecimentos fechados e a economia está paralisada.” Ela mora com a família em um hotel em Belo Horizonte, para onde foi transferida pela Vale. “O turismo acabou na cidade. As pessoas precisam entender que não se trata apenas de Macacos mas o risco de comprometimento do abastecimento de grande parte da população da Região Metropolitana de BH, uma vez que as bacias do Rio das Velhas e do Paraopeba com a tragédia em Brumadinho, foram atingidas e põem em risco uma extensa região”.
O analista de sistema Fábio Ernesto Coelho, também precisou sair de sua casa às pressas depois de soarem os alarmes. O condomínio onde mora, o Mata do Engenho, não seria afetado, entretanto a única entrada estaria na rota da lama em caso de rompimento e precisou ser mudada de local.Paulo Neto, engenheiro florestal e morador do Passárgada, e integrante do Movimento Fechos Eu Cuido, disse que de imediato é preciso resolver os problemas emergenciais da pessoas que foram evacuadas.
“São vários problemas, pessoas morando em hoteis, que saíram de sua casa que estão sem renda. A cidade ficou com problemas pela perda do turismo. A médio e longo prazo precisamos pensar na segurança das barragens. Elas precisam ser descomissionadas e todas as sete existentes na região precisam ser repensadas no seu sistema operacional. A empresa tem que atuar com responsabilidade. A ideia é fortalecer o turismo de Macacos, pensar outras atividades produtivas a mineração não pode ser único modal de desenvolvimento do local e temos enorme potencial para isso”, conclui.
O passeio também aproveitou as manifestações do mês de março, considerado o período das águas e dedicado ao cuidado com os mananciais, para conclamar a população à reflexão sobre a qualidade e gestão do precioso líquido.
Gente de todas as idades e vindas de todas as partes se reuniu no Vale do Sol, bairro de Nova Lima, a partir das 10h deste domingo e seguiu pela Estrada Campo do Costa, até o Bairro Jardim Amanda na entrada de Macacos, lugarejo que foi evacuado em 16 de fevereiro, e desde então permanece em estado de alerta constante, devido ao risco de rompimento da barragem de rejeitos B3/B4, da Vale.
O acesso ao povoado pela Estrada Campo do Costa foi liberado pela Vale depois da interdição de outros acessos. O caminho era fechado ao público e é o único que não oferece qualquer risco de rompimento uma vez que não há barragem ou represa que possa atingi-la. “Ela passa atrás da barragem de contenção de águas Passárgadas, e além de não oferecer riscos, possui uma paisagem exuberante”, explica Flávia Stortini, da Aspas Pasárgada, entidade que compõe a Rede Águas Claras, uma união de associações de moradores e movimentos socioambientais da região.
Stortini considera o movimento importantíssimo para chamar atenção das pessoas sobre a necessidade da abertura definitiva da estrada “que é uma via pública encampada pela Vale dentro de sua área e ficou fechada à população até fevereiro”. Ela diz ainda ser essa uma luta não só da população atingida mas de toda a sociedade. “Uma barragem que se rompe compromete uma série de nascentes, contamina o solo e no nosso caso pode comprometer o abastecimento de grande parte da região Centro-Sul de Belo Horizonte”, alerta.
Além de reivindicar o descomissionamento imediato e seguro das barragens, a Rede Águas Claras também alerta para a importância de se impedir novos empreendimentos minerários predatórios na região e ampliar áreas de proteção ambiental - como a Estação Ecológica de Fechos, responsável pelo abastecimento de água de 29 bairros da capital e outros 6 de Nova Lima.
O ato também chama a atenção e convoca os turistas e ciclistas a não abandonarem Macacos, pois, mais do nunca, o distrito precisa explorar seus atrativos ecológicos, culturais e esportivos.