Jornal Estado de Minas

Simulados de barragens em três cidades de Minas tiveram 72% de adesão


As sirenes voltaram a tocar. Mas, dessa vez, para treinar as pessoas que podem ser atingidas pelo rompimento de barragem. A elevação do nível de risco das barragens B3/B4, em Macacos (Nova Lima), e Forquilhas I e III, em Ouro Preto, para o estágio de pré-rompimento, fez com que o dia de ontem fosse marcado por centenas de pessoas deixando suas casas. As barragens já estavam no nível 2 desde 20 de fevereiro, o que culminou na necessidade de evacuar regiões em Ouro Preto e Nova Lima. Na última quarta-feira, a situação dos reservatórios mudou. Passou para o nível 3 – o último da escala de risco, que significa risco iminente de ruptura. Diante disso, moradores de Nova Lima e Raposos, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, e em Itabirito, na Região Central do estado, participaram dos simulados como preparação para eventual rompimento de barragem.

Os treinamentos foram feitos pela Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec). “Essa foi uma operação muito difícil.
Até então, a Defesa Civil nunca tinha feito um simulado dessa proporção, com essa quantidade de pessoas”, disse coordenador adjunto de Defesa Civil, tenente-coronel Flávio Godinho, que classificou as operações como “sucesso”. Eram esperados pela Defesa Civil a participação de 11.117 pessoas nos três simulados que ocorreram ontem. Desses, foi contabilizada a presença de 7.964 pessoas. Ou seja, uma adesão de 72%.

Os treinamentos nas três cidades começaram pontualmente às 15h. Em Honório Bicalho, comunidade de Nova Lima, assim como em Macacos, a lama demoraria 1h03m para chegar em caso de rompimento da B3/B4. Lá, foram sete pontos seguros distribuídos. Muitos moradores relataram que o treinamento ocorreu com tranquilidade, mas a adesão foi menor do que esperado: o simulado foi finalizado em 55 minutos e contou com a participação de 2.400 pessoas, 57% do esperado.
Outra localidade atingida pela B3/B4, a cidade de Raposos, na Grande BH, também terá nove pontos de encontro. Eles estão divididos entre os bairros Matadouro 1 e 2, Vila Bela, Praça da Estação, Morro das Bicas, Várzea do Sítio, Recanto Feliz, Barracão Amarelo, Retirinho e Ponte de Ferro, além do Centro do município. O simulado foi finalizado em 50 minutos. “Tiramos as pessoas da mancha de risco em 50 minutos, abaixo do tempo esperado.”, disse Godinho. Eram esperadas 2.400 pessoas e compareceram cerca de 794. Ou seja, o simulado com menor adesão, que correspondeu a apenas 33% do esperado.

Em Itabirito, o público estimado pela Defesa Civil era de 4.363 pessoas, com cinco reuniões de preparação. Segundo a corporação, Itabirito seria atingida, no pior cenário, em 1h36m após o rompimento da barragem Forquilha. O simulado de ontem foi completado em 40 minutos.
Já a última pessoa a chegar no ponto de encontrou demorou 1h16m. Os valores são bem abaixo do tempo para a lama atingir a primeira casa de Itabirito. “Participaram efetivamente do treinamento 4.770. Ou seja, 9% a mais da totalidade que esperávamos. Isso porque pessoas que estavam fora da mancha também participaram”, completou.

Nos três simulados, compareceram 65 militares da Polícia Militar, 806 funcionários da Vale, 25 ambulâncias e uma aeronave empenhada. Houve reclamações quanto ao som emitido pelos carros que simulavam as sirenes. “A simulação funciona para detectar esse tipo de problema. Essa é a segunda vez que temos essa reclamação. Em Barão de Cocais (Região Central de Minas) tivemos essa ponderação de que o som não foi audível por algumas pessoas. Maia uma vez, vamos demandar isso ao responsável”, acrescentou Godinho.

Outro desafio é convencer as pessoas a participar dos próximos simulados, para que não ocorra como em Raposos.
“A informação pode salvar vidas. A gente sabe que é um incômodo para uma pessoa sair de casa no domingo, para uma situação como essa. Porém, é uma situação hipotética, em que conseguimos medir tempo, quantidade de pessoas, força operativa e a logística empenhada, para ver se realmente estava adequada”, alertou.

TEMOR Presente na simulação, a doméstica Maria Vitória da Silva, de 75 anos, moradora de Honório Bicalho há 48, em região “bem pertinho da barragem”, conta. “Após a sirene, conseguimos chegar aqui num tempo razoável, graças a Deus. O som está bem alto, dá para ouvir. Ainda assim, ficamos com medo de não acordar, de não conseguir pegar os remédios a tempo”, descreve. Na simulação, apenas trancou a porta e deixou a casa.

A recepcionista Katerine Santos, de 29, revela que o filho de 3, que faz tratamento contra convulsões, é uma preocupação a mais em caso de rompimento. “Ele estuda na creche e seria levado para outro ponto de encontro.” A cabeleireira Denise Ferreira Mendes, de 57, mora em Honório Bicalho há 16 anos. “Nunca havia passado por isso, vivendo sob suspense.
Quando vou deitar para dormir vêm uns flashes à mente, e você não sabe se está dormindo ou acordado. Por causa do emocional abalado, né.?”.