As sirenes voltaram a tocar. Mas, dessa vez, para treinar as pessoas que podem ser atingidas pelo rompimento de barragem. A elevação do nível de risco das barragens B3/B4, em Macacos (Nova Lima), e Forquilhas I e III, em Ouro Preto, para o estágio de pré-rompimento, fez com que o dia de ontem fosse marcado por centenas de pessoas deixando suas casas. As barragens já estavam no nível 2 desde 20 de fevereiro, o que culminou na necessidade de evacuar regiões em Ouro Preto e Nova Lima. Na última quarta-feira, a situação dos reservatórios mudou. Passou para o nível 3 – o último da escala de risco, que significa risco iminente de ruptura. Diante disso, moradores de Nova Lima e Raposos, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, e em Itabirito, na Região Central do estado, participaram dos simulados como preparação para eventual rompimento de barragem.
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Rompimento em Brumadinho e risco em outras barragens pressionam água da Grande BHCidades mineiras fazem simulado de evacuação para rompimento de barragemMoradores participam de simulado de rompimento de barragem em Betim Ônibus é incendiado e fogo também atinge carro em ContagemOs treinamentos nas três cidades começaram pontualmente às 15h. Em Honório Bicalho, comunidade de Nova Lima, assim como em Macacos, a lama demoraria 1h03m para chegar em caso de rompimento da B3/B4. Lá, foram sete pontos seguros distribuídos. Muitos moradores relataram que o treinamento ocorreu com tranquilidade, mas a adesão foi menor do que esperado: o simulado foi finalizado em 55 minutos e contou com a participação de 2.400 pessoas, 57% do esperado.
Em Itabirito, o público estimado pela Defesa Civil era de 4.363 pessoas, com cinco reuniões de preparação. Segundo a corporação, Itabirito seria atingida, no pior cenário, em 1h36m após o rompimento da barragem Forquilha. O simulado de ontem foi completado em 40 minutos.
Nos três simulados, compareceram 65 militares da Polícia Militar, 806 funcionários da Vale, 25 ambulâncias e uma aeronave empenhada. Houve reclamações quanto ao som emitido pelos carros que simulavam as sirenes. “A simulação funciona para detectar esse tipo de problema. Essa é a segunda vez que temos essa reclamação. Em Barão de Cocais (Região Central de Minas) tivemos essa ponderação de que o som não foi audível por algumas pessoas. Maia uma vez, vamos demandar isso ao responsável”, acrescentou Godinho.
Outro desafio é convencer as pessoas a participar dos próximos simulados, para que não ocorra como em Raposos.
TEMOR Presente na simulação, a doméstica Maria Vitória da Silva, de 75 anos, moradora de Honório Bicalho há 48, em região “bem pertinho da barragem”, conta. “Após a sirene, conseguimos chegar aqui num tempo razoável, graças a Deus. O som está bem alto, dá para ouvir. Ainda assim, ficamos com medo de não acordar, de não conseguir pegar os remédios a tempo”, descreve. Na simulação, apenas trancou a porta e deixou a casa.
A recepcionista Katerine Santos, de 29, revela que o filho de 3, que faz tratamento contra convulsões, é uma preocupação a mais em caso de rompimento. “Ele estuda na creche e seria levado para outro ponto de encontro.” A cabeleireira Denise Ferreira Mendes, de 57, mora em Honório Bicalho há 16 anos. “Nunca havia passado por isso, vivendo sob suspense.