O cenário de risco no entorno das barragens de mineração em Minas Gerais aumenta na medida em que cresce também a população ameaçada por novas enxurradas de lama. A Vale, investigada pela tragédia em Brumadinho, responde pela maioria dos barramentos sem garantia de estabilidade (18 no total). A incerteza quanto à segurança se deve ao fato de declarações de estabilidade terem sido negadas por auditores ou simplesmente não terem sido entregues à Agência Nacional de Mineração. Com mais de 30 empreendimentos no estado na corda bamba e pouca ou nenhuma informação fornecida pelas mineradoras responsáveis, o real perigo das estruturas se torna um mistério.
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Também por falta de esclarecimentos da mineradora ou discrepâncias com o cadastro da ANM, ontem o Estado de Minas informou, com base em cruzamento de dados anteriores das duas fontes, que o total de barragens da Vale sem estabilidade garantida, por ter atestado negado ou por falta da documentação, era de 25. Esse número considerava as estruturas sem garantia de segurança informada pela agência federal, somadas às sete represas da companhia que já haviam sido paralisadas. Porém, essas últimas já faziam parte da listagem da ANM – algumas com nomes alterados –, portanto não deveriam ser somadas a ela.
Ontem a Vale admitiu não ter considerado em sua primeira relação de represas sem estabilidade atestada a Barragem Sul Inferior. A estrutura está atualmente desativada, acumula 510 mil metros cúbicos de rejeitos e foi construída pelo método conhecido na engenharia como etapa única. Com ela, o total de barragens da Vale que estão sem declaração de estabilidade em Minas Gerais shegou a 18.
INTERDIÇÃO
Segundo informações da ANM, das 36 barragens mineiras sem DCE (13 que tiveram o laudo negado e 23 que não enviaram – incluídas aí as duas cujo descadastramento foi pedido pela Vale), 11 estão em operação e 25 desativadas. A data-limite para protocolar informações referentes ao primeiro semestre sobre as represas de rejeitos foi 31 de março. Essas barragens que agora estão sem segurança garantida foram construídas em diferentes métodos. A maioria surgiu no método chamado etapa única, seguido de perto pelo alteamento a montante, considerado o mais perigoso.
A consequência imediata da ausência dos laudos, segundo a agência que regula o setor, é a interdição das estruturas que ainda estiverem recebendo rejeitos. Essa é a realidade em 11 barragens, que estão nas cidades de Rio Acima (Região Metropolitana), Itabira, Ouro Preto, Itabirito, Belo Vale (Região Central) Arcos (Centro-Oeste), Tapira e Araxá (Alto Paranaíba). Além da Vale, que opera cinco reservatórios em funcionamento, CSN, Minerações Gerais LTDA., Mosaic Fertilizantes e Nacional Minérios (do grupo CSN) estão operando as demais seis estruturas ativas.
Algumas barragens que tiveram a declaração de segurança negada ou não tiveram o documento entregue já têm medidas em curso.
Preocupa a situação daquelas cujas medidas não estão sendo tomadas ou são desconhecidas. A CSN informou que, ao contrário do que consta na lista da AMN, suas duas barragens em Arcos, no Centro-Oeste de Minas, tiveram declarações de estabilidade entregues dentro do prazo. Acrescentou que não comentaria a situação das estruturas, nem da B2 Auxiliar, da Nacional Minérios, em Rio Acima.
Já a Bauminas informou que a Barragem de Mercês, também indicada no relatório da agência, não tem pendências administrativas e teve sua DCE entregue no prazo. O consultor de mineração da empresa, Alfredo Mucci Daniel, disse que o barramento é classe E, com risco e potencial baixo e, por causa dessa classificação, a entrega do documento deve ser feita apenas uma vez por ano.
A Mosaic Fertilizantes informou, por meio de nota, que requereu previamente à expiração do prazo de entrega da DCE que a ANM estendesse o prazo o dia 30 deste mês. "Tal requerimento se deu em razão do estudo técnico emitido por empresa especializada, que recomendou estudos complementares para suportar uma conclusão a respeito da estabilidade das barragens. A empresa reafirma que as barragens não apresentam riscos de rompimento e reitera seu compromisso com as comunidades e regiões onde atua", disse no texto.
A Cia Mineradora Catite Duo, a Emicon Mineração e Terraplenagem e a Topazio Imperial Mineração Comércio e Indústria foram procuradas pela reportagem, mas nenhum representante dessas empresas foi encontrado.