Um caso de agressão brutal que por pouco não terminou com a morte de uma auxiliar administrativa com deficiência auditiva em Belo Horizonte chamou a atenção da Polícia Civil e deve servir de alerta para outras mulheres, segundo a delegada Danúbia Soares Quadros. Ameaçada com uma faca antes de ser espancada dentro de uma estação do Move, a auxiliar administrativa de 34 anos, que trabalha no Instituto de Identificação da Polícia Civil não procurou a delegacia no primeiro episódio de violência, o que poderia ter gerado alguma medida protetiva contra o agressor e, eventualmente, evitado a tentativa de feminicídio praticada mês passado dentro de uma estação do Move, em Belo Horizonte. Porém, a irmã da vítima aponta que o fato de ela ser deficiente auditiva dificulta bastante o entendimento da situação, ao ponto de ela não ter a dimensão da gravidade da ameaça, já que o agressor não conhece a linguagem de sinais. De acordo com a polícia, a vítima foi agredida porque não queria manter relacionamento com o autor do crime.
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Como houve um histórico antes da agressão extrema de 9 de março, a delegada reforça o pedido para que logo na primeira violência, que seja psicológica ou moral, a vítima deve ir até a polícia. “A delegacia funciona 24 horas por dia, de segunda a domingo, então a vítima desde fevereiro deveria ter pedido providência, pedido a medida protetiva, o afastamento, que agora já seria um outro crime, que é o descumprimento de medida protetiva”, acrescenta Danúbia Quadros. Mas a irmã da mulher que foi espancada, Taisná Gomes de Oliveira, de 23 anos, diz que a deficiência da vítima impediu que ela tivesse a noção do que estava ocorrendo. “Ela não conseguiu entender por que ele estava com a faca e não teve a dimensão da ameaça. Falta estrutura nesse sentido para as pessoas que têm a deficiência dela se comunicarem. Infelizmente, ela achou que o bloqueando no celular e cortando o contato a situação estaria resolvida”, afirma.
CONVÍVIO Taisná diz que o relacionamento não chegou a se transformar em namoro. Ela disse que o autor do crime e a irmã cresceram juntos e conviveram até os 11 anos, mas Leonardo foi embora de Belo Horizonte e só retornou em dezembro, quando eles se encontraram novamente e chegaram a ficar juntos em poucas ocasiões. “Ele queria iniciar um relacionamento e minha irmã não queria”, afirma Taisná. O crime ocorreu em 9 de marçodentro da Estação IAPI, e Leonardo foi preso no dia 29, de forma preventiva, depois que a Polícia Civil representou na Justiça pela prisão. Entre a primeira agressão e a segunda, Leonardo começou a fazer a mesma rotina da vítima, frequentando o mesmo culto, e também a esperando em pontos de ônibus, até que aconteceu o ato de extrema violência.
O agressor também já responde por outra tentativa de homicídio uma ex-companheira na cidade de Capelinha, no Vale do Jequitinhonha, em 2015, quando a legislação ainda não tratava especificamente do feminicídio. Leonardo, inclusive, retomou o contato com a vítima do espancamento na Estação IAPI depois de ser beneficiado por uma progressão de regime e conseguir o benefício da prisão domiciliar. Ele saiu da cadeia em novembro de 2018 e teria ficado com a auxiliar administrativa em janeiro deste ano. Leonardo disse à reportagem que cometeu o crime porque teve um distúrbio mental, mas o fato foi imediatamente refutado pela irmã da vítima. “Isso não é verdade. Espero que ele fique preso e pague pelo crime que cometeu”, completa Taisná.