O destino de aproximadamente 2,5 mil moradores das proximidades da Barragem Casa de Pedra, em Congonhas, na Região Central de Minas, será decidido nos tribunais. Pelo menos é o que indica a postura da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), que até ontem não havia respondido ao Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) se acata ou não a recomendação de evacuar a população dos bairros Cristo Rei e Residencial Gualter Monteiro. Depois de a empresa ignorar pela segunda vez o prazo dado pelas autoridades para avaliar, promotoria diz que tentativas de acordo estão encerradas.
“Não estou disposto a discutir a aceitação da recomendação, apenas a forma, como prazos e condições. Só não entrarei com ação civil se a empresa disser que acata o que pedimos”, avisa o promotor Vinícius Alcântara Galvão, da comarca de Congonhas. A recomendação para retirada dos moradores feita no dia 12 do mês passado é uma medida de segurança pelo medo de rompimento da Casa de Pedra. A empresa tinha 10 dias úteis para dizer se acatava ou não, antes de o assunto ir parar na Justiça.
Em 26 de março, venceu o primeiro prazo, sem que a CSN se manifestasse. Um dia depois de esgotado o período de resposta e com uma ação civil pública para ser ajuizada, a companhia voltou atrás e pediu mais tempo para avaliar a possibilidade de negociar a evacuação. Anteontem, venceu o segundo prazo, novamente sem que a mineradora se manifestasse.
O promotor se reuniu ontem com líderes comunitários para pegar informações que vão nortear a ação a ser proposta nos próximos dias. “A necessidade de remover as pessoas é algo que consideramos inegociável. Em caráter emergencial, propusemos o aluguel para, mais à frente, estudar a viabilidade de indenizações e outras medidas”, diz. “Essas pretensões são as mais justas que já vi. Acredito nos argumentos colocados ali e na necessidade de serem cumpridos.”
Além da retirada de moradores, a promotoria pede que a empresa forneça aluguel de R$ 1,5 mil para cada núcleo familiar e arque com as despesas das mudanças.
A empresa terá ainda que apresentar, em caráter emergencial, solução para o fechamento da Creche Dom Luciano e a transferência da Escola Municipal Conceição Lima Guimarães. A recomendação é alugar imóveis que comportem essas instalações. Além disso, deverá arcar com todas as despesas de mudança e ajustes dos prédios aos enquadramentos técnicos necessários.
ÁREA URBANA A CSN foi procurada para se posicionar, mas não havia respondido até o fechamento desta edição. A Casa de Pedra é a maior barragem de Congonhas e está localizada próxima à área urbana. Tem 21 milhões de metros cúbicos, atualmente – há quem conteste a informação, dizendo que o total chega a 50 milhões. Além do impacto com o rejeito, um colapso da estrutura provocaria estancamento no Rio Maranhão, represando o mesmo e causando inundação de toda a Área Central, até que sua fluidez fosse normalizada, o que levaria muitos dias, dependendo de uma série de fatores climáticos e de material acumulado.
O Ministério Público está de olho também na situação das outras 23 barragens instaladas em Congonhas. Em 19 de março, a promotoria deu 20 dias a cinco mineradoras – CSN, Vale, Gerdau, Ferrous e Ferro + – para elas apresentarem plano de trabalho com medidas que possam diminuir danos em caso de rompimento de barragem ou mesmo evitar uma catástrofe.