Jornal Estado de Minas

Ciclistas reclamam da redução das bicicletas compartilhadas em Belo Horizonte

Thamires Brant usa as bicicletas para se locomover do trabalho para a faculdade, ainda tem créditos e dúvidas sobre o ressarcimento - Foto: Leandro Couri/EM/D.A Press

As bicicletas laranjas, modelo compartilhado, já não eram vistas com frequência pelas ruas de Belo Horizonte. Agora, serão ainda mais raras. Dos 40 pontos que recebiam as bikes, apenas os que ficam na Pampulha, no total de seis, vão permanecer. Os outros, localizadas na Região Central da capital mineira, serão fechados hoje. O motivo foi a falta de empresa interessada na prestação de serviço.

Uma das apostas da BHTrans é o serviço de mobilidade ativa com “magrelas” que não ficam em ponto fixo e podem ser deixadas fora de pontos determinados. Um chamamento público já foi aberto e será encerrado em maio. Já as estações desligadas vão continuar instaladas e poderão ser usadas pela população.
Moradores que utilizavam as bicicletas laranjas lamentaram a retirada delas das vias. Quem ainda tem crédito em vigor terá ressarcimento.

O sistema Bike BH era operado pela empresa Serttel desde abril de 2013. O contrato tinha duração de 60 meses e se encerra hoje. Por isso, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) publicou um chamamento público para o credenciamento de empresas para implantação, instalação, manutenção e operação de sistemas de compartilhamento de bicicletas. “Resolvemos fazer de uma forma diferente. Em vez de uma licitação para concorrência pública, resolvemos usar um chamamento público para que mais empresas venham para a cidade.
Foram nove lotes licitados em diversas regiões da cidade. Mas o único que interessou foi da Região da Pampulha”, explicou Marco Antônio Silveira, gerente de Planejamento da Mobilidade da BHTrans.

NOVO SISTEMA A empresa vencedora foi a própria Serttel, que vai operar apenas na orla da Lagoa da Pampulha. A empresa assinou o novo contrato com a BHTrans em 4 de abril e tem 90 dias para colocar o novo sistema em operação. As seis estações que já existiam na região serão mantidas, mas ganharão um novo visual. Além disso, serão criados outros oito pontos. Com a diminuição das estações na cidade de 40 para 14, serão 200 bicicletas a menos. “É um momento de transição, no qual a cidade está se preparando para qualificar e receber um novo sistema. Na Região da Pampulha é rentável, o próprio uso das bikes paga a operação.
As outras regiões precisavam de patrocinador, porque não há retorno”, comentou o gerente.

As estações desativadas continuarão instaladas nas ruas e poderão ser usadas pelos ciclistas para deixar suas bicicletas.

Uma das apostas da BHTrans para a utilização das bicicletas é o compartilhamento, mas com modelo diferente, como já é feito pela Yellow desde de janeiro na capital mineira. A empresa dispensa um ponto fixo. “Um chamamento público foi feito para as bicicletas sem estação. Os documentos das empresas interessadas podem ser entregues até 21 de maio”, disse Marco Antônio Silveira. 



REAÇÕES
A estudante Thamires Brant, de 20 anos, depende das bicicletas para se locomover do trabalho para a faculdade. “Gosto muito de andar de bike. Não pego trânsito nem ônibus lotado. Diminui muito meu tempo de locomoção e ainda acho prazeroso. Sinto-me bem prejudicada pelo fim das bicicletas do Itaú. Gosto de ter um ponto físico. Um deles é bem perto do meu trabalho e facilita bastante”, disse.

Ela contou que de um tempo para cá não tem visto uma grande oferta das laranjinhas: “Achei até que tinham sido roubadas.” Ontem, o Estado de Minas circulou por três pontos. Mas apenas uma deles, localizado na Avenida João Pinheiro, ainda ofertava bikes em seu último dia.

A BHTrans afirmou que a empresa faça um comunicado aos usuários que possuam passes ativos, informando-os sobre procedimento de ressarcimento. A usuária Thamires conta que não foi comunicada e que ainda há créditos para serem gastos. “Não recebi nenhum tipo de notificação. Ir até a Pampulha não vale para mim. Uso como meio de transporte e não lazer”, acrescentou. Apesar de ter bicicleta própria, o empresário Roberto Scheinkan, de 29, também acredita que será uma grande perda para cidade. “Quanto mais possibilidades a gente tiver para se locomover, melhor.”

Por meio de nota, a Associação dos Ciclistas Urbanos de Belo Horizonte (BH em Ciclo) criticou a diminuição das bikes compartilhadas. “É muito ruim a gente ter dado um passo tão grande em relação à mobilidade há alguns anos na Região Central e agora dar esse passo atrás.
Ainda mais com outras empresas investindo na cidade nesse começo de 2019. É realmente uma surpresa o sistema Bike BH estar acabando. É um sistema que muda a lógica da mobilidade na cidade, favorecendo conexões intermodais e em alguns casos dispensando o uso do carro”, disse. “A BHtrans que deveria ser a maior incentivadora do modal, o ignorou durante todo os anos. O sistema era de longe o pior do país com relação à qualidade de serviço e do produto apresentado. A empresa pública que deveria fazer uma fiscalização correta do contrato fez vista grossa até o final. A operadora fez o que bem quis em Belo Horizonte, desrespeitando o contrato e ignorando sugestões dos usuários”, completou.

Por outro lado, a BH em Ciclo comemora a permanência e ampliação dos pontos de compartilhamento de bicicletas na Pampulha. “Essa região vai receber uma infraestrutura de ciclovia em breve, a renovação na orla da Lagoa vai favorecer aquele local principalmente para prática de esportes, como já é feito pelos usuários”.

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