Na semana em que a Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) começou a divulgar dados sobre modalidades diferentes de roubos em Minas Gerais, a Polícia Civil desmontou uma quadrilha altamente especializada nos assaltos a residências em Belo Horizonte. O principal articulador do grupo é Anderson Teixeira Alves, de 34 anos, conhecido na capital mineira por atirar em um porteiro de um prédio na Avenida Raja Gabaglia durante uma tentativa de assalto em dezembro. Entre todos os tipos de roubos, o crime praticado contra pessoas dentro de suas casas ou apartamentos foi o que menos diminuiu entre os primeiros trimestres de 2018 e 2019 em BH. Enquanto outras modalidades caíram no mínimo 28%, chegando a recuos de até 50%, a invasão de residências para roubar só diminuiu 4%, mantendo-se praticamente estável (veja quadro). Foram 71 casos de janeiro a março de 2018, contra 68 nos três primeiros meses deste ano. Em média, ocorre um caso a cada 1,3 dia, dando a dimensão do tamanho do desafio. Além de Anderson, foram presos outros três membros do mesmo grupo, segundo a Polícia Civil, o que pode contribuir para minimizar esse tipo de crime.
O modus operandi dos ladrões varia, conforme o delegado Gustavo Barletta. As investigações ainda estão em andamento para saber se eles agiam sempre com informações privilegiadas sobre acesso e disponibilidade de bens de alto valor. Até o momento, já é certo que eles atuam arrombando as casas e apartamentos, sempre com alto grau de sucesso nos casos com envolvimento de Anderson. Se encontram moradores, os amarram e ameaçam empunhando armas de fogo. Se não há ninguém, eles fazem a limpa no imóvel sem serem percebidos. Depois de ficar 10 anos preso pelo crime de roubo, Anderson Alves voltou às ruas há sete meses, quando começou a articular vários roubos. Aos investigadores da 2ª Delegacia de Furtos e Roubos do Departamento Estadual de Investigação de Crimes Contra o Patrimônio (Depatri), ele disse que acumulou muitas dívidas no período em que esteve preso e por isso movimentou R$ 1 milhão com os assaltos nessa janela de curta liberdade.
Segundo Gustavo Barlleta, ele era o grande articulador dos assaltos, apontado como um dos principais ladrões de residência de BH. Ele buscava os comparsas para participar dos crimes, que não necessariamente eram praticados por todos juntos. “O assaltante de residência tem um perfil. Ele procura fazer um levantamento dos bairros nobres, daquelas casas que acredita ser de maior poder aquisitivo e então arromba a porta e busca primeiramente dinheiro ou joias. A partir do momento em que consegue dinheiro e joias, se achar que existem outros materiais de fácil revenda, como televisores, computadores e notebooks, ele também os subtrai”, afirma o policial. No caso de Anderson, uma situação específica chama a atenção: preso em dezembro pela 1ª Delegacia Sul, do Bairro Santo Antônio, Centro-Sul de BH, por atirar em um porteiro de um prédio na Avenida Raja Gabaglia, no Bairro Luxemburgo, na mesma região, durante uma tentativa de assalto, ele estava nas ruas novamente praticando outros assaltos. “A critério da Justiça, ele estava gozando de um benefício. Ficava a semana inteira na rua, livre, solto, praticando crimes. E no fim de semana retornava para o local onde deveria cumprir a sua pena somente para dormir”, afirma o delegado.
O próximo passo da investigação é a busca por receptadores. No grupo preso, essa era a função de Cleiton Luiz Coura Ribeiro, de 32, detido no Bairro Ipiranga, Nordeste de BH. Ele recebia os eletrônicos roubados pelo grupo, segundo o delegado. Antes de os objetos roubados chegarem até Cleiton, a violência era empregada com frequência contra os donos dos produtos. De acordo com o delegado, o grupo é marcado por aterrorizar as vítimas, com ameaças e armas em punho o tempo todo. Barletta também explica que o Depatri entrou na investigação desse grupo a partir do momento em que um assalto foi registrado no Bairro Buritis, Oeste de BH, quando os bandidos entraram na casa de um homem e lá renderam seus dois filhos jovens e o pai dele. Foram levadas televisões, laptop, e 5 mil euros em dinheiro. O carro conduzido pelos bandidos na ocasião também foi usado em um segundo assalto no Bairro São Luiz, na Região da Pampulha, em que duas senhoras, sendo uma a dona da casa, de mais de 80 anos, e uma funcionária foram rendidas e a responsável pela residência teve R$ 800 mil em joias roubados.
Com base nas informações levantadas desses dois casos, a Polícia Civil começou a preparar uma operação para desmanchar o grupo, que também é investigado por outros casos. Em um terceiro crime, praticado no Bairro Planalto, Norte de BH, um dos assaltantes esqueceu o celular no local, o que levou a polícia até ele. Trata-se de Bruno Simões Gonçalves de Souza, o Bizoca. Um quarto crime chegou a ser abortado no Bairro Heliópolis, também na Região Norte, quando o grupo entrou na casa de um policial militar e levou apenas a arma dele, desistindo de fazer a limpa na residência. Mais um crime é imputado ao grupo no Bairro Buritis.
A operação desencadeada para prender os outros três membros da quadrilha, além de Bruno, teve início na última segunda-feira, quando ocorreu um assalto no Bairro Belvedere, Centro-Sul da capital mineira. Dois homens que participaram desse crime já eram monitorados dentro de outra investigação, da Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos, vinculada ao Departamento Estadual de Trânsito de Minas Gerais (Detran/MG). Eles foram presos em Santa Luzia, mas Anderson Teixeira, o Pica-Pau, que também estava no assalto fugiu. Aí entraram em cena os policiais do Depatri, que como já estavam monitorando Anderson, iniciaram uma campana e conseguiram pegá-lo em um hotel de Ouro Preto. Na volta para BH, os agentes da Polícia Civil cumpriram os mandados de prisão contra os outros dois presos, Ronald Guimarães Vilar, de 28, vulgo Japão, e o receptador Cleiton. O trabalho continua para identificar e prender pelo menos outros três envolvidos com as ações criminosas.