Jornal Estado de Minas

Este local deveria minimizar as cheias em BH, mas virou ponto de 'descarte de tudo'

Porcos chafurdam na área, aumentando ainda mais o incômodo de moradores. O dono dos animais defende a criação - Foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press
A bacia de detenção na Avenida Desembargador Felippe Immesi, no Bairro Copacabana, na Região de Venda Nova, virou local para criação de porcos e cavalos e ponto de descarte de lixo, como sofás e televisores velhos.

Construída para impedir enchentes na região, a bacia tornou-se problema ainda maior. Em março de 2016, a reportagem do Estado de Minas foi até lá e registrou o temor dos moradores de que o local se tornasse criadouro do Aedes aegypti, vetor da dengue, zica e chikungunya. O EM retornou ao local nesta semana e constatou que a situação é ainda mais preocupante.

A sujeira atrai habitantes indesejados, como urubus que sobrevoam a área, ratos e insetos. Os moradores ainda têm que lidar com o mau cheiro, que arde as narinas, mas esse acaba não sendo o maior problema para quem vive às margens do córrego que passa por lá.

A sujeira carreada ameaça inverter o papel do ''piscinão" e termina facilitando o t6ransbordamento do córrego - Foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press
O maior temor é que o manancial transborde, invadindo as casas. Tendo no histórico do bairro outras enchentes, os moradores temem que a bacia não suporte as pancadas de chuva e o refluxo torne as enchentes ainda mais destruidoras.

A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) informou, por meio de nota, que a bacia de detenção foi projetada para minimizar as cheias, além de contribuir para a redução do risco de inundações na região da bacia hidrográfica do Córrego do Nado.

Segundo a prefeitura, “o aporte de sedimentos para as bacias de detenção faz parte de um processo natural.
Os cursos d’ água transportam esses materiais.”

A sujeira que toma conta de espaços urbanos, como a bacia de detenção do Copacabana, se torna uma preocupação ainda maior quando a cidade passa por uma epidemia de dengue. Neste ano, já foram confirmados 4.185 casos de dengue em Belo Horizonte. Há 14.271 registros pendentes de resultados.

O Aedes aegypti, cuja reprodução está relacionada à água parada, pode ser encontrado em locais onde o lixo se acumula. A região de Venda Nova registrou, de acordo com boletim divulgado pela Secretaria Municipal de Saúde, 343 casos confirmados de dengue e 1.280 suspeitos.


O motorista Sebastião Baldoíno, de 68 anos, precisa passar pela Avenida Desembargador Felippe Immesi para levar o neto à escola. Ao passar pela bacia, ele sempre é questionado pelo menino, que teme o mosquito. “Tem dia que tem tanto lixo que não damos conta de tanto mau cheiro.
A comunidade tem que ajudar não jogando lixo no local”, afirma Sebastião, que mora no bairro há 25 anos.

O comerciante Gilmar Pereira Ramos, de 59, sofreu com as consequências do assoreamento da bacia. Há cerca de quatro meses, ele e a família perderam os móveis da casa, quando o córrego transbordou.

“A água vai para a bacia e não consegue sair. É muito lixo. Quando a bacia enche muito, a água volta toda”, afirma. Ele acredita que parte da responsabilidade pelo assoreamento é dos moradores que fizeram o local de “lixão”.

A casa do motorista Talisson Pereira, de 27, está longe do córrego. Ele mora na Rua França, a cerca de 200 metros da bacia, mas, ainda assim, teme a proliferação das doenças advindas de condições sanitárias inadequadas.

“Virou ponto para descarte de tudo. Tem até animais sendo criados ali”, afirma.
Segundo ele, a prefeitura fez a limpeza da área, mas os próprios moradores voltaram a descartar o lixo na bacia. “A galera joga muito lixo ali. Com tanto bicho, o local virou uma fazenda”, denuncia.

A prefeitura informou que os serviços de desassoreamento não têm a mesma eficácia no período chuvoso, pois o transporte de sedimentos é maior nessa época. Além disso, as bacias de detenção da Várzea da Palma sofrem com o constante acúmulo de lixo e demais resíduos sólidos, que são lançados de forma clandestina nessas áreas e nos afluentes que chegam até elas.

“Isso faz com que as bacias fiquem assoreadas, diminuindo a sua eficiência no controle das cheias. Cabe ressaltar que o lançamento desses resíduos promove a obstrução das galerias que chegam nas bacias, bem como as que seguem para a Avenida Várzea da Palma, causando problemas de inundações na região.

PORCOS A vizinhança considera inadequado que porcos sejam criados na bacia de detenção. No entanto, a criação foi defendida pelo comerciante Mixon de Araújo Martins, de 30, que assume ser dono dos suínos.

Ele diz que não há relação entre a criação de suínos, a proliferação de doenças e as enchentes na região. “O projeto de construção da bacia foi mal calculado.

Em vez de a água descer, ela volta e molha a casa do povo”, critica.
Segundo ele, são três porcos e alguns leitões. “Não tem nada a ver com os animais. Se a prefeitura colocasse uma caçamba no local e recolhesse o lixo, os problemas na bacia não ocorreriam”, justifica.

De acordo com a legislação vigente (Decreto Municipal 5.616/Art. 216), animais encontrados soltos nas vias e logradouros públicos, sem a presença de responsável, serão apreendidos e recolhidos ao Centro de Controle de Zoonoses. O órgão faz o recolhimento mediante solicitação da população feita por telefone (3277-7411 ou 7413) , presencialmente e por e-mail (cczsmsa@pbh.gov.br) ou por meio da Polícia Militar, Civil, Rodoviária, Corpo de Bombeiros e BHTrans.

A Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) informou que a Avenida Desembargador Felipe Immesi é atendida por serviços regulares de limpeza urbana, como coleta domiciliar três vezes por semana, varrição a cada quinze dias e remoção diária de resíduos de deposição clandestina..