O trecho pela Avenida João Pinheiro, entre a Praça da Liberdade e a Igreja da Boa Viagem, em Lourdes, já foi corredor de travessia de manifestantes, em 2013, e de foliões da Banda Mole, na década de 1990. Esse espaço democrático, nesta sexta-feira (19), abrigou pela terceira vez a expressão de fé dos católicos com a procissão da Via-Sacra, uma das mais importantes e representativas celebrações do cristianismo, contendo as estações da Paixão de Cristo, em seu trajeto até o Monte do Calvário, onde foi crucificado. A procissão iniciada ao anoitecer, às 18h, reuniu a comunidade cristã da Basílica de Lourdes, Igreja de São José e Igreja da Boa Viagem com dezenas de fiéis para a procissão da Via-Sacra, em 13 estações da Paixão da Cristo - o julgamento, iluminação e crucificação de Jesus Cristo - nos edifícios históricos da Parça da Liberdade.
A procissão em linha, ao redor da praça e a caminho da igreja, trilhou o caminho do Messias tendo uma matraca e a fragrância de incensos à frente de uma fileira de fiéis com velas às mãos. Cada passagem foi ritmada por músicas de louvor e orações entoadas de um carro de som.
Ao longo da caminhada, em intervenções a cada estação, como o julgamento de Cristo, seu flagelo e crucificação, temas sociais atuais e desafios da nação foram destacados e relacionados à celebração religiosa, como os dramas de pessoas injustiçadas, famintas, discriminadas e até os atingidos de Brumadinho.
Um grupo de atores encenou a Paixão de Cristo, representando Jesus com uma cruz de madeira sendo levado para a morte, os soldados romanos que o escoltavam, os carrascos que o castigavam, o povo que o julgou e os personagens que se compadeceram com o seu martírio nesse caminho.
"Essa é a mais emocionante encenação e procissão da Via-Sacra que acontece em Belo Horizonte. No ano passado já tinha vindo e hoje consegui trazer as pessoas da minha paróquia para participar. É uma história de injustiça, perdão e amor que mexe muito com a gente", disse a aposentada Dorotéia Lima, de 76 anos.
O advogado Curitiba o Gabriel Alves passeava com a esposa e os filhos pela praça quando se surpreendeu com a procissão. "Vim de férias com minha família para BH, aproveitando que a mulher ia trabalhar.
Ficamos para a semana santa e foi uma grata surpresa ver uma manifestação tão linda como essa numa praça que já estávamos admirando pela beleza cênica. Somos católicos fervorosos e participamos também de festas e comemorações na nossa comunidade", disse o turista.
Mesmo não sendo católico, o professor de educação física Elbert Gomes, de 42 anos, também admirava a procissão. "Pelo lado histórico, pela expressão de fé é algo muito bonito. Vemos um amor verdadeiro e sincero das pessoas aqui. E isso é muito Minas Gerais. É muito as nossas origens", considera.
Ao chegar na igreja da Boa Viagem, o bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte, Dom Geovane Luis da Silva, celebrou o Sermão da Paixão do Senhor. "Neste sermão, buscamos trazer para a reflexão sobre a reconciliação neste tempo de divergências, intolerância, ódio e de disputa. Nossa caminhada é da luz e pela reconciliação", disse.
O objetivo de trazer a celebração e a procissão para a praça, segundo Dom Geovane, é propagar a palavra de Deus por meio da Via-Sacra. "Belo Horizonte se torna a capital da fé na semana santa e uma encenação, a reflexão e a celebração no coração da cidade São uma forma de proclamar a palavra de Cristo. E, nesse caminho, ainda que não seja o objetivo central, as edificações históricas acabam sendo valorizadas", disse o religioso.