“A persistência é o caminho para o êxito”. A frase de Charlie Chaplin inspira o estudante Ramon Afonso, de 17 anos, de Montes Claros, no Norte de Minas. E tem tudo a ver com ele. Mesmo enfrentando o tratamento de um câncer, Ramon conta os dias para um novo desafio: estudar medicina. Ele foi aprovado para o concorrido curso na Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), por meio do Sistema de Avaliação Seriada para o Acesso ao Ensino Superior (PAES) da instituição e já fez a matrícula.
Para conquistar a vaga na universidade, o jovem teve que se dedicar aos estudos dentro do hospital do Grupo de Apoio ao Adolescente e Criança com Câncer (GRAACC), em São Paulo, onde segue em tratamento. Um dos maiores centros especializados no tratamento do câncer infantil na América Latina, bancado pelo SUS e com doações de parceiros, o hospital oferece o sistema de escola móvel, que possibilita que as crianças e adolescentes contiuem estudando enquanto são submetidos a quimioterapia, radioterapia e a outras formas de tratamento da doença.
Em 2 de outubro de 2018, Ramon Afonso retornou a São Paulo para exames de monitoramento. A menos de dois meses do vestibular, recebeu a notícia da recidiva (volta) da doença. Acompanhado pela mãe, Rosemary Mota Afonso, ele permaneceu na capital paulista, realizando as novas sessões de quimioterapia. Retomou os estudos na escola móvel do GRAACC.
Inscrito no processo seletivo pelo sistema de reserva de vagas, o adolescente foi a Montes Claros somente para fazer as provas na Unimontes, aplicadas em 17 de dezembro. Imediatamente depois, o estudante retornou para o hospital em São Paulo, iniciou novo tratamento (de radioterapia) e ficou aguardando o resultado do vestibular.
“Atribuo minha conquista ao esforço e à dedicação. Mesmo passando por uma situação difícil, consegui conciliar as duas coisas, mantendo o foco nos estudos, mas também sem deixar de fazer o tratamento”, afirma Ramon, confessando que também aproveitava o tempo em que estava sendo submetido às sessões de quimioterapia para se dedicar à leitura.
“Meu sentimento é de gratidão a Deus, à família, aos meus amigos, ao colégio, ao hospital, aos médicos, aos professores, enfim, a todos os que proporcionaram essa grande oportunidade”, afirma o futuro acadêmico de medicina. Ele continua realizando o tratamento em São Paulo, a 1 mil quilômetros de sua cidade, para onde desloca uma vez por mês.
Ele espera servir de exemplo para outras pessoas que enfrentam dificuldades na vida. “As pessoas têm que pensar positivo sempre e acreditar que os obstáculos serão superados. As pedras que hoje são colocadas em nosso caminho, mais adiante vão enfeitar esse mesmo caminho”, afirma, confiante, o futuro médico.
O pai de Ramon, Paulo Mota Afonso, que é dono de um pequeno supermercado em Mirabela, cidade vizinha de Montes Claros, comemorou muito a superação do filho. “Ramon é realmente muito determinado e dedicado. Vamos dar todo o suporte para que ele continue sua jornada de sucesso e superação”, diz Paulo, salientando que seu outro filho, Renan, tem as mesmas qualidades.