Quase três meses depois da tragédia que marcou para sempre a cidade de Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, foi celebrada a primeira missa na Igreja de Nossa Senhora das Dores, que fica no Córrego do Feijão, comunidade onde ocorreu o desastre. Centenas de pessoas, entre moradores da cidade, da comunidade, e militares do Corpo de Bombeiros, participaram do encontro religioso. Os bombeiros foram homenageados com uma imagem da Senhora do Rosário e também inauguraram uma placa que mostra que o templo religioso abrigou a base de operações entre 25 de janeiro e 20 de fevereiro.
Presidida pelo arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo, a celebração do domingo de Páscoa acontece na manhã deste domingo no ponto que abrigou durante semanas a base de operações do Corpo de Bombeiros e serviu como ponto para a construção das estratégias de buscas em todo território coberto pela lama da Vale.
Leia Mais
Missa em Córrego do FeijãoVeja como os impactos da atividade mineral atualizaram a história de TiradentesNegociações individuais em Brumadinho preocupam Ministério PúblicoMais cinco nomes são retirados da lista de desaparecidos da tragédia de BrumadinhoMais uma vítima de Brumadinho é identificada; mortos vão a 232Artista pinta muro da Vale com tributo às mulheres de Brumadinho Ação pede R$ 40 milhões por família morta na tragédia de BrumadinhoA celebração atraiu moradores não só do Córrego do Feijão, mas de diversos povoados vizinhos que vieram prestar solidariedade ao povo do Feijão e exercitar a fé. “Viemos para apoiar nossos irmãos do Feijão. Sabemos que a única forma de superar o que aconteceu é se apegar em Deus. Se não formos fortes na fé, não temos saída”, diz a dona de casa Sebastiana Rosária da Cruz, 52 anos, moradora do povoado de Aranha, também pertencente a Brumadinho.
O casal de voluntários Rafaela Rosa, 35, que é professora, e Eduardo Rosa, 36, publicitário, moradores de São Paulo, vieram a Brumadinho e fizeram questão de participar da celebração no Córrego do Feijão distribuindo chocolates aos presentes na missa. “É uma ação para adoçar a vida das pessoas que passaram por essa tragédia na igreja que que foi a base dos bombeiros para a operação”, diz Rafaela. Ontem, o casal esteve no Clube Aurora e na atual base militar dos bombeiros onde são coordenadas as operações de busca pelas vítimas.
Os bombeiros também participaram em peso da celebração. Eles chegaram em viaturas por terra e também de helicóptero. A aeronave deu duas voltas na igreja antes de pousar. Ao fim da missa, os militares receberam uma imagem da Senhora do Rosário e foram homenageados pelos religiosos que conduziram a celebração.
O coronel Sérgio José Ferreira, que é o comandante das operações em Brumadinho, se emocionou com a homenagem e disse que as buscas seguem para encontrar 41 desaparecidos e dar conforto às famílias dessas vítimas que ainda não tiveram condição de enterrar seus parentes. “É a renovação do nosso compromisso de continuar trabalhando cada vez mais, cada vez melhor. Certamente isso vai ser levado para todos que estão empenhados aqui ainda nessa ocorrência e com certeza vai nos fortalecer para continuar até o final, até que todos sejam encontrados”, diz ele.
O coronel acrescenta que é importante encontrar todos os desaparecidos para aliviar o sofrimento das famílias.
O militar agradeceu o apoio dos moradores, que renova os trabalhos dos bombeiros. “Este retorno da população, é muito importante para nós, porque, não obstante a gente trabalhar em lugares destruídos, lidar com perdas e sentimentos, temos o reconhecimento de que aquilo que nós fazemos é importante para as pessoas. E assim a gente se reforça, se renova e continua na missão atendendo os mineiros da melhor maneira possível”, finalizou.
Tempo de renovar
O arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo, destacou a importância simbólica da missa no Córrego do Feijão neste domingo de Páscoa para criar um marco de esperança e retomada das vidas que foram impactadas pela tragédia. “Esse é o sentido de estarmos aqui, de recomeçarmos. Não podemos viver sobre os escombros da tragédia. Precisamos nos refazer, nos levantar e o povo precisa disso.
Dom Walmor também pontuou as lições que se tiram da tragédia. “As lições a serem aprendidas de fato são muitas. Entre elas é que nós não podemos nos reger pela idolatria do dinheiro, que gera ganância e, portanto, faz com que hajam escolhas que depois são desastrosas para vida das pessoas e da sociedade. A lição que Minas Gerais precisa ser diferente depois, sobretudo, desta grande tragédia, e particularmente com a mineração”, completa.
.