Jornal Estado de Minas

Missa de Páscoa é celebrada no Córrego do Feijão quase três meses após tragédia de Brumadinho



Quase três meses depois da tragédia que marcou para sempre a cidade de Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, foi celebrada a primeira missa na Igreja de Nossa Senhora das Dores, que fica no Córrego do Feijão, comunidade onde ocorreu o desastre. Centenas de pessoas, entre moradores da cidade, da comunidade, e militares do Corpo de Bombeiros, participaram do encontro religioso. Os bombeiros foram homenageados com uma imagem da Senhora do Rosário e também inauguraram uma placa que mostra que o templo religioso abrigou a base de operações entre 25 de janeiro e 20 de fevereiro. 



Presidida pelo arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo, a celebração do domingo de Páscoa acontece na manhã deste domingo no ponto que abrigou durante semanas a base de operações do Corpo de Bombeiros e serviu como ponto para a construção das estratégias de buscas em todo território coberto pela lama da Vale.

Morador de um sítio no Córrego do Feijão, Wilson Oliveira, de 71 anos, veio à celebração com a camisa da sobrinha Camila Aparecida da Fonseca Silva, uma das vítimas da barragem. Ela trabalhava na Pousada Nova Estância. “Essa missa é muito importante para amenizar nossa dor. Temos que nos apegar em Deus para conseguir recomeçar”, diz ele. Segundo Wilson, a tristeza causada pela tragédia foi enorme e não ficou restrita apenas ao Córrego do Feijão.
“Prejudicou muita gente e por isso ainda demora até conseguir retomar a vida”, completa.

A celebração atraiu moradores não só do Córrego do Feijão, mas de diversos povoados vizinhos que vieram prestar solidariedade ao povo do Feijão e exercitar a fé. “Viemos para apoiar nossos irmãos do Feijão. Sabemos que a única forma de superar o que aconteceu é se apegar em Deus. Se não formos fortes na fé, não temos saída”, diz a dona de casa Sebastiana Rosária da Cruz, 52 anos, moradora do povoado de Aranha, também pertencente a Brumadinho.

O casal de voluntários Rafaela Rosa, 35, que é professora, e Eduardo Rosa, 36, publicitário, moradores de São Paulo, vieram a Brumadinho e fizeram questão de participar da celebração no Córrego do Feijão distribuindo chocolates aos presentes na missa. “É uma ação para adoçar a vida das pessoas que passaram por essa tragédia na igreja que que foi a base dos bombeiros para a operação”, diz Rafaela. Ontem, o casal esteve no Clube Aurora e na atual base militar dos bombeiros onde são coordenadas as operações de busca pelas vítimas.
“Entregamos 140 bombons e ovos de chocolate também para os bombeiros”, acrescenta Eduardo.

Os bombeiros também participaram em peso da celebração. Eles chegaram em viaturas por terra e também de helicóptero. A aeronave deu duas voltas na igreja antes de pousar. Ao fim da missa, os militares receberam uma imagem da Senhora do Rosário e foram homenageados pelos religiosos que conduziram a celebração.

O coronel Sérgio José Ferreira, que é o comandante das operações em Brumadinho, se emocionou com a homenagem e disse que as buscas seguem para encontrar 41 desaparecidos e dar conforto às famílias dessas vítimas que ainda não tiveram condição de enterrar seus parentes. “É a renovação do nosso compromisso de continuar trabalhando cada vez mais, cada vez melhor. Certamente isso vai ser levado para todos que estão empenhados aqui ainda nessa ocorrência e com certeza vai nos fortalecer para continuar até o final, até que todos sejam encontrados”, diz ele.

O coronel acrescenta que é importante encontrar todos os desaparecidos para aliviar o sofrimento das famílias.
“O Corpo de Bombeiros trabalha para os mineiros, para os moradores de Minas Gerais. Este evento marcou profundamente a nossa sociedade e o município de Brumadinho. E mais profundamente ainda a comunidade de Córrego do Feijão. Estamos alinhados com este sentimento, estamos colocando todos os nossos recursos aqui para continuarmos na operação com o número suficiente de efetivos e equipamentos, técnicas, inteligência de buscas para encontrar todos e possibilitar a essas famílias um encerramento de um ciclo. Possibilidade para estas famílias saber, com paz no coração, o destino de seus familiares”, afirmou.

O militar agradeceu o apoio dos moradores, que renova os trabalhos dos bombeiros. “Este retorno da população, é muito importante para nós, porque, não obstante a gente trabalhar em lugares destruídos, lidar com perdas e sentimentos, temos o reconhecimento de que aquilo que nós fazemos é importante para as pessoas. E assim a gente se reforça, se renova e continua na missão atendendo os mineiros da melhor maneira possível”, finalizou.

Tempo de renovar


O arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo, destacou a importância simbólica da missa no Córrego do Feijão neste domingo de Páscoa para criar um marco de esperança e retomada das vidas que foram impactadas pela tragédia. “Esse é o sentido de estarmos aqui, de recomeçarmos. Não podemos viver sobre os escombros da tragédia. Precisamos nos refazer, nos levantar e o povo precisa disso.
Por isso estamos aqui junto com as pessoas que mais sofreram, nesta esperança, e sabendo que no horizonte de Deus e da fé é possível reconstruir. O caminho é longo mas é preciso reconstruir. Então é por isso que estamos aqui para reacender a chama desta esperança”, diz o chefe da Arquidiocese de BH.

Dom Walmor também pontuou as lições que se tiram da tragédia. “As lições a serem aprendidas de fato são muitas. Entre elas é que nós não podemos nos reger pela idolatria do dinheiro, que gera ganância e, portanto, faz com que hajam escolhas que depois são desastrosas para vida das pessoas e da sociedade. A lição que Minas Gerais precisa ser diferente depois, sobretudo, desta grande tragédia, e particularmente com a mineração”, completa.

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