Jornal Estado de Minas

Fósseis de nova espécie de preguiça-gigante são encontrados em Minas

Minas Gerais protagoniza mais uma descoberta científica. Em território mineiro, foram encontrados fósseis de uma espécie única de prequiça-gigante, que viveu no Brasil há cerca de 20 mil anos. Foram mais de duas décadas de pesquisa até a publicação dos resultados numa revista inglesa, referência em paleontologia, na semana passada. Do tamanho de um boi, o animal recebeu o nome de Glossotherium phoenesis, numa remissão à fênix, ave que renasceu das cinzas, e homenagem a todas as pessoas que ajudaram na reconstrução do Museu de Ciências Naturais da PUC Minas, depois de ele pegar fogo em 2013.

Essa espécie extinta de prequiça-gigante foi descoberta pelo paleontólogo do museu e professor da universidade, professor Cástor Cartelle Guerra, e sua equipe. O material começou a ser encontrado há 20 anos e, inicialmente, convergia com espécies descritas na Inglaterra, Canadá, França, Uruguai e Argentina, de predominância nas regiões mais frias da América do Sul.

“Estudamos esse material e vimos que era diferente. Examinamos material em outros países e concluímos que a nossa era espécie desconhecida, uma forma intertropical. Somos os primeiros seres humanos a ver um bicho desses”, afirma Cartelle.
Logo, segundo o professor, a descoberta chama a atenção ainda para a adaptação de espécies pelos trópicos. Com base nos fósseis encontrados, muito provavelmente esse animal vivia em São Paulo, seguiu para Minas Gerais, Mato Grosso, Bahia, Pernambuco e Paraíba e foi até a Venezuela, sem ultrapassar os Andes.

Um outro aspecto diferencia a Glossotherium phoenesis: a proporção dos ossos, especialmente do crânio. “As preguiças que moram nas árvores têm o tamanho máximo de um cão pequeno. A que descobrimos tem volume de quase um boi. O crânio deve ter 40 centímetros do focinho até a parte de trás. Conseguimos ainda, pelo crânio, diferenciar macho de fêmea”, explica. As pesquisas mostram também outro ponto importante na formação desses animais.
Entre a pele e a musculatura havia centenas de ossinhos, do tamanho de um bago de feijão grande. Os pesquisadores acreditam que serviam para dar maior rigidez à pele e talvez regular a temperatura.

Esse animal único vivia na região de Lagoa Santa (Região Metropolitana de Belo Horizonte) e no Norte da Bahia, onde foi encontrada a maioria do material. Foram achadas 200 peças, incluindo dois crânios. Um deles ficará em exposição ao púbico no museu da PUC. O restante ficará na coleção de paleontologia para a continuação dos estudos.

O nome Glossotherium significa animal de língua grande. Trata-se do nome genérico do animal, que não pode ser mudado. A nova espécie descoberta foi denominada phoenesis, em referência ao pássaro fênix, que segundo a lenda grega ressurgia das próprias cinzas. Com esse achado, a equipe do Museu de Ciências Naturais da PUC Minas chega a seu décimo holótipo, ou seja, descrição original de uma espécie, que serve como referência para as novas que forem encontradas posteriormente.
“A variedade de espécies que temos nessa região é um espetáculo. São animais esplendorosos, que se extinguiram por casa de mudanças climáticas. Estamos com nossas intervenções na natureza e é preciso pensar o que vai ocorrer com tudo isso no futuro.”

Também integram a equipe de trabalho o paleontólogo do Museu Real de Ontário (Canadá) Gerardo De Iullis; Alberto Boscaini e François Pujos, ambos do Conselho Nacional de Pesquisa Científica e Técnica (Conicet) da Argentina. O artigo com a descrição da espécie foi publicado no Journal of Systematic Palaeontology, uma das principais revistas de paleontologia do mundo.

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