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Estado de Minas

Fósseis de nova espécie de preguiça-gigante são encontrados em Minas

Depois de mais de 20 anos de pesquisa, resultado foi publicado em uma revista especializada. Animal viveu no Brasil há mais de 20 mil anos


postado em 23/04/2019 06:00 / atualizado em 23/04/2019 09:13

O paleontólogo Cástor Cartelle com fósseis da Glossotherium phoenesis, preguiça-gigante que viveu shá cerca de 20 mil anos(foto: Raphael Calixto/PUC Minas/Divulgação)
O paleontólogo Cástor Cartelle com fósseis da Glossotherium phoenesis, preguiça-gigante que viveu shá cerca de 20 mil anos (foto: Raphael Calixto/PUC Minas/Divulgação)

Minas Gerais protagoniza mais uma descoberta científica. Em território mineiro, foram encontrados fósseis de uma espécie única de prequiça-gigante, que viveu no Brasil há cerca de 20 mil anos. Foram mais de duas décadas de pesquisa até a publicação dos resultados numa revista inglesa, referência em paleontologia, na semana passada. Do tamanho de um boi, o animal recebeu o nome de Glossotherium phoenesis, numa remissão à fênix, ave que renasceu das cinzas, e homenagem a todas as pessoas que ajudaram na reconstrução do Museu de Ciências Naturais da PUC Minas, depois de ele pegar fogo em 2013.

Essa espécie extinta de prequiça-gigante foi descoberta pelo paleontólogo do museu e professor da universidade, professor Cástor Cartelle Guerra, e sua equipe. O material começou a ser encontrado há 20 anos e, inicialmente, convergia com espécies descritas na Inglaterra, Canadá, França, Uruguai e Argentina, de predominância nas regiões mais frias da América do Sul.

“Estudamos esse material e vimos que era diferente. Examinamos material em outros países e concluímos que a nossa era espécie desconhecida, uma forma intertropical. Somos os primeiros seres humanos a ver um bicho desses”, afirma Cartelle. Logo, segundo o professor, a descoberta chama a atenção ainda para a adaptação de espécies pelos trópicos. Com base nos fósseis encontrados, muito provavelmente esse animal vivia em São Paulo, seguiu para Minas Gerais, Mato Grosso, Bahia, Pernambuco e Paraíba e foi até a Venezuela, sem ultrapassar os Andes.

Um outro aspecto diferencia a Glossotherium phoenesis: a proporção dos ossos, especialmente do crânio. “As preguiças que moram nas árvores têm o tamanho máximo de um cão pequeno. A que descobrimos tem volume de quase um boi. O crânio deve ter 40 centímetros do focinho até a parte de trás. Conseguimos ainda, pelo crânio, diferenciar macho de fêmea”, explica. As pesquisas mostram também outro ponto importante na formação desses animais. Entre a pele e a musculatura havia centenas de ossinhos, do tamanho de um bago de feijão grande. Os pesquisadores acreditam que serviam para dar maior rigidez à pele e talvez regular a temperatura.

Esse animal único vivia na região de Lagoa Santa (Região Metropolitana de Belo Horizonte) e no Norte da Bahia, onde foi encontrada a maioria do material. Foram achadas 200 peças, incluindo dois crânios. Um deles ficará em exposição ao púbico no museu da PUC. O restante ficará na coleção de paleontologia para a continuação dos estudos.

O nome Glossotherium significa animal de língua grande. Trata-se do nome genérico do animal, que não pode ser mudado. A nova espécie descoberta foi denominada phoenesis, em referência ao pássaro fênix, que segundo a lenda grega ressurgia das próprias cinzas. Com esse achado, a equipe do Museu de Ciências Naturais da PUC Minas chega a seu décimo holótipo, ou seja, descrição original de uma espécie, que serve como referência para as novas que forem encontradas posteriormente. “A variedade de espécies que temos nessa região é um espetáculo. São animais esplendorosos, que se extinguiram por casa de mudanças climáticas. Estamos com nossas intervenções na natureza e é preciso pensar o que vai ocorrer com tudo isso no futuro.”

Também integram a equipe de trabalho o paleontólogo do Museu Real de Ontário (Canadá) Gerardo De Iullis; Alberto Boscaini e François Pujos, ambos do Conselho Nacional de Pesquisa Científica e Técnica (Conicet) da Argentina. O artigo com a descrição da espécie foi publicado no Journal of Systematic Palaeontology, uma das principais revistas de paleontologia do mundo.


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