As comprovações de que o alto escalão da Vale sabia dos riscos de ruptura da Barragem 1 da Mina Córrego do Feijão tomam proporções mais robustas a cada novo passo das investigações. Depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito do Senado, em Brasília, de um dos integrantes do setor de gestão Riscos Geotécnicos da Vale, o engenheiro Felipe Figueiredo Rocha, da área de Recursos Hídricos da mineradora, reforça as conclusões da força-tarefa responsável pela investigação da tragédia. De acordo com o funcionário, os problemas da estrutura foram apresentados tanto à diretoria quanto à diretoria-executiva da mineradora. Passados três meses do rompimento da represa, ninguém está preso pelo crime.
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Os riscos foram apresentados ainda, segundo Felipe Rocha, no Subcomitê de Riscos Operacionais, chefiado pelo gerente-executivo Eduardo Montarroz e do qual era membro também o gerente-executivo de Governança de Geotecnia Corporativa, Alexandre de Paula Campanha, também preso e solto por habeas corpus. Felipe Rocha destacou que foram apresentados nesse comitê os riscos das barragens que estavam posicionadas na zona de atenção, sendo a Barragem 1 uma dessas estruturas.
O engenheiro se disse ainda incomodado com o fato de o diretor de Relações Institucionais da Vale, Luciano Siani, ter comentado em uma coletiva de imprensa que não sabia do painel de especialistas ocorrido em novembro do ano passado, embora o relatório de sustentabilidade da Vale, assinado pelo presidente, mencione que a mineradora usa o painel para tratar de barragens. “Esses pontos me fazem afirmar que os riscos da Barragem 1, apesar de não serem iminentes – eram riscos possíveis – foram apresentados tanto para a diretoria quanto para a diretoria-executiva”, ressaltou.
Duas operações comandadas pelo Ministério Público em níveis federal e estadual e Polícia Civil resultaram na prisão de 11 funcionários da Vale e dois engenheiros da consultora alemã Tüv Süd, nos meses de fevereiro e março. Todos foram soltos dias depois por habeas corpus, cujo mérito foi negado pela 7ª Câmara Criminal Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG). A volta imediata à penitenciária foi decretada em meados do mês passado e os investigados chegaram a se entregar para o cumprimento do restante da prisão temporária. Poucas horas depois de serem reintegrados ao sistema prisional, nova liminar do STJ liberou os 13 novamente..