Um discurso e uma prática bem diferentes. Três meses depois da tragédia que matou 233 pessoas e deixou 37 desaparecidos em Brumadinho, esse é o balanço da atuação da Vale, na visão do Ministério Público de Minas Gerais. “Percebemos que a Vale está tentando escapar de um processo coletivo que foi iniciado perante a 6ª Vara da Fazenda Estadual. Ela procurou um caminho alternativo tentando driblar o Poder Judiciário, construindo padrões próprios de indenização e valores que não foram feitos com a comunidade nem com os atingidos”, afirma o promotor de Justiça André Sperling.
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Preços sobem até 80% e Brumadinho sofre com exploração econômica no pós-tragédiaTrês meses depois da tragédia de Brumadinho, ninguém foi preso'O foco é a reparação rápida ao atingido', diz diretor da ValeBombeiros mantêm buscas e projetam ao menos mais um mês de trabalho em BrumadinhoO promotor acredita que a gigante da mineração quer a todo custo evitar o processo coletivo, que vai estabelecer parâmetros comuns de indenização que, posteriormente, serão individualizados. “Não tem cabimento as vítimas de Brumadinho receberem menos que as de Mariana.
O promotor lembra que documento da própria Vale estipula em US$ 2,6 milhões (quase R$ 10 milhões) o valor da vida humana em caso de rompimento de barragem. “Querem aproveitar o desespero das pessoas para fazerem acordos favoráveis”, avalia André Sperling. Ele cita como exemplo decisão relativa à comunidade de Gesteira, no Vale do Rio Doce, atingida pela lama da Barragem do Fundão, em 2015.
Em nota, a Vale informou que, visando a uma solução célere e justa para danos individuais, celebrou com a Defensoria Pública de Minas um termo de compromisso para indenização de danos materiais e morais, referente ao desastre. Por meio dele, os atingidos podem optar por acordos individuais ou por grupo familiar. A empresa sustenta que, embora tenha criado essa via direta de negociação, caberá ao atingido optar pelo meio mais adequado para buscar seus direitos.
COMPENSAÇÃO A Vale também fez um balanço dos três meses da tragédia. Além do pagamento da compensação mensal de cerca de um salário mínimo a moradores de Brumadinho e cidades vizinhas ao Rio Paraopeba, até o momento, segundo a empresa 274 famílias de vítimas da tragédia em Brumadinho receberam como doação, cada uma, R$ 100 mil; 98 residentes de imóveis da Zona de Autossalvamento, a mais atingida, receberam R$ 50 mil; e 85 pessoas que tiveram seus negócios atingidos receberam R$ 15 mil. “As ações incluem acolhimento, assistência psicológica, atendimento médico, recuperação de infraestrutura, auxílio financeiro, indenizações e aportes a instituições que estão colaborando com a empresa no apoio humanitário”, informou a mineradora. A empresa afirma que mais de 14 mil moradores receberam os valores em Brumadinho, Mário Campos, São Joaquim de Bicas, Betim e Juatuba.
Há 10 unidades de saúde mobilizados para prestar atendimentos médicos e psicológicos.
Sobre os danos ambientais, a Vale diz que está elaborando um plano de reparação. Atualmente, são 65 pontos de monitoramento sobre os impactos do desastre..