Os dias passados no front daquela terra estrangeira estão bem vivos na memória. Alguns os relembram, embora a dor insista em vir junto. Outros preferem não falar do assunto, principalmente com a família. Mas, a manhã deste domingo foi dia de reviver a época de glória e também de apreensão e sofrimento. Vinte e seis bravos guerreiros mineiros que fizeram história na Itália durante a 2ª Guerra Mundial foram homenageados na Praça da Liberdade, em Belo Horizonte.
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Monumento à Força Expedicionária emociona pracinhas em BHMuseu da Força Expedicionária Brasileira será reaberto hoje em BH após mudar de endereçoCorpo do último piloto brasileiro da 2ª Guerra, mineiro de Juiz de Fora, é sepultadoVeterano da 2ª Guerra Mundial morre aos 101 anos no Sul de MinasPracinhas da Força Expedicionária Brasileira (FEB), familiares, militares do Exército, da Aeronáutica e da Polícia Militar comemoraram Dia da Vitória, data em que os alemães se renderam às Forças Aliadas, dando fim à 2ª Guerra Mundial, em 1945. Os veteranos de guerra e os familiares que representaram aqueles que já morreram receberam a Medalha da Vitória.
Além das condecorações, o evento, organizado pela 4ª Região Militar do Exército Brasileiro, teve desfile de carros antigos das Forças Armadas. Mulheres, filhos, netos e bisnetos lembraram e homenagearam seu herói com camisas que tinham a foto do combatente estampada.
A família do ex-combatente soldado Hélio do Espírito Santo estava em peso na Praça da Liberdade, para homenagear o patriarca ilustre. Aos 94 anos, ele se lembra com detalhes dos dias passados em Roma. Hélio ficou um ano na Itália. Desembarcou em Nápoles quando tinha apenas 18 anos e passou a maior parte do tempo na capital. “Nunca me saiu da memória o combate, o enfrentamento. Vi muita coisa triste e não acreditava que eu iria voltar”, conta.
As lembranças parecem vir como avalanche e, a cada palavra dita, transparece a fusão de emoções. “O dia que pisei de novo no Brasil foi fogo. Era como se não fosse eu mesmo que estava chegando”, relata, com o sorriso do alívio. Hélio deu baixa no Exército logo depois do retorno. Casou-se com Alaídes do Espírito Santo, de 93, e se de dedicou à carreira na construção civil e à numerosa família.
“Ele não é muito de contar como foi o combate. Não entra em detalhes”, diz a neta, a professora Talita do Espírito Santo, de 31. O avô se restringe a falar dos casos dele na cidade italiana, dos amigos, como viviam lá. “É algo que mexe muito com ele. Sou grata por tê-lo comigo. É um privilégio poder ouvir essas histórias.”
A professora aposentada Marisa de Abreu Brito, de 69, também estava com a família para homenagear o pai, soldado Benvindo de Brito, que morreu em 1982, aos 62 anos. Ele tinha 24 anos quando foi para a Itália. E não comentava com a família o que vivera por lá. “Ele voltou neurótico e muito nervoso. Chorava muito, era emotivo e não podia ouvir barulho de avião. Falava muito dos amigos metralhados ao meio. Não tive a oportunidade de conversar com ele sobre o assunto”, diz.
De lembrança, restou a imagem de Santo Antônio que o acompanhou durante toda a guerra e a bênção do Papa Pio XII. As duas relíquias vieram da Itália e são guardadas com carinho pela família.
O pequeno Frederico Tolentino Sizenando, de 4 anos, foi homenagear o bisavô, soldado Gustavo José Tolentino, de 98 anos. Sempre avesso aos eventos envolvendo os ex-combatentes, pela primeira vez, ele decidiu comparecer a uma homenagem. O menino se encantou com a movimentação. Entrou nos carros, viu os jipes, mas gostou mesmo foi de algo bem particular. “Os soldados estavam parados e começaram a se mexer”, disse, em referência ao momento em que começaram a marchar. “Mas demora muito”, disse com toda sinceridade o cansado garotinho.