Um jovem de 25 anos está internado depois de ser atingido por um tiro disparado por engano pela Polícia Militar (PM). O caso aconteceu quando a PM rastreava um carro roubado em Juiz de Fora, na Região da Zona Mata. O veículo baleado tinha as mesmas características do procurado.
Segundo os relatos do contador Alexandre Gonçalves, motorista do veículo confundido, três pessoas ocupavam o carro. Elas retornavam de Varginha, no Sul do estado, com destino a Ubá, também na Zona da Mata.
De acordo com Gonçalves, naquela altura, eles pensavam que eram barulhos do cano de descarga. Só depois perceberam que eram tiros, o que causou a suspeita de um assalto e pânico nos trabalhadores. “No intuito de seguir, eu decidi procurar a Polícia Rodoviária para buscar refúgio lá”, comenta Alexandre.
Ainda segundo os relatos de Gonçalves, quando ele chegou a um trevo que dava acesso ao posto policial havia um carro parado na faixa de acesso. Com isso, ele seguiu em outro sentido, em direção a Ubá, com objetivo de fugir da abordagem.
Justamente no trevo, a polícia, de acordo com Alexandre, disparou mais vezes. Neste momento, o jovem de 25 foi atingido próximo à coluna.
“Ele começou a espernear e gritar dentro do carro. 'Me acertaram (sic) aqui'. Foi quando passamos no primeiro ou segundo radar e eles ligaram o giroflex e a sirene. Foi quando eu pensei: 'será que é polícia? Por que os caras vêm atirando desde lá de trás e não pararam?'”, relata.
Neste momento, o contador afirma que decidiu parar o veículo, pois o amigo estava ferido. O empresário Rodrigo Souza, passageiro, descreve como foi este momento. “Descemos do carro e eles abordaram a gente no chão. Mas Deus é tão bom que naquele mesmo momento o rádio deles tocou, dizendo que haviam achado o carro roubado”, diz.
Descaso
O jovem foi levado ao Hospital de Pronto-Socorro Doutor Mozart Geraldo Teixeira, em Juiz de Fora, onde permaneceu até a última sexta-feira (3). Depois, a equipe médica o transferiu para a Santa Casa da cidade, onde passou por cirurgia para retirada da bala no nesse sábado (4).
“Os três policiais não me deram atenção. Só mandaram o Rodrigo e o Alexandre deitarem no chão. Eles não me deram socorro. Só quando outra viatura chegou que eles me levaram até um posto de gasolina. Chegando lá, encontramos com um Samu, que também não me deu atenção necessária”, destaca o jovem.
Ele também reclamou do atendimento do pronto-socorro. “Também não tive um bom atendimento. A única coisa que eles estavam fazendo era controlar minha dor. Depois, graças a Deus, consegui a transferência aqui para a Santa Casa”.
Discussão
A remoção do veículo baleado também gera questionamentos às vítimas. Segundo eles, o carro foi levado a um pátio credenciado pelo Departamento de Trânsito (Detran) sem passar pela perícia da Polícia Civil. Ou seja, não houve a preservação da cena da ocorrência, obrigação da PM.
“O rapaz do guincho disse assim: 'eu não posso tirar não. O correto é chamar o guincho particular'. Não foi feita a perícia no local. O policial mandou e ele (responsável pelo reboque) obedeceu”, descreve Rodrigo Souza, proprietário do carro confundido.
Outro lado
De acordo com o Boletim de Ocorrência, os militares dispararam, ao todo, 18 balas. Eles relataram que não havia informação sobre a placa do veículo roubado nas proximidades. Por isso, segundo a corporação, os oficiais ligaram as sirenes e as luzes desde o início da abordagem.
Novamente, a versão é negada por Rodrigo Souza. Segundo ele, seu carro tem placa de Ubá, enquanto o até então roubado tem placa de Belo Horizonte.
Ainda conforme o documento gerado pelos policiais, o condutor (Alexandre Gonçalves) dirigia de maneira perigosa e colocava outras pessoas em risco. Tal fator motivou os militares de plantão a atirarem contra o carro, segundo a versão da corporação.