Capacidade de se colocar no lugar de outra pessoa para sentir o que ela sentiria em determinada circunstância. Esse é o conceito de “empatia”, que alunos do Colégio Magnum Cidade Nova, na Região Nordeste de Belo Horizonte, exerceram na prática ontem. O grupo Batucabrum – composto por crianças e adolescentes de Brumadinho – foi convidado para a realização de atividades culturais e, também, para receber brinquedos e alimentos arrecadados pelos alunos do 2º ao 5º ano, doados aos que sofreram perdas na tragédia. Ontem, foram doados cerca de 500 brinquedos e arrecadadas aproximadamente 1,5 mil unidades de produtos para lanche (biscoitos, achocolatados e sucos) –, número que deve dobrar ao longo da semana.
Leia Mais
Fraudes em áreas de risco de barragens que extrapolam Brumadinho podem levar a mais prisõesJustiça já homologou 12 acordos individuais em BrumadinhoBombeiros fazem homenagem às mães vítimas da tragédia em BrumadinhoNow United: conheça a banda que atrai multidão para show em BHDe olho na alta temporada, Brumadinho convida turistas para áreas não afetadas pela tragédiaEscolas particulares de Minas serão proibidas de ter refrigerante, salgados e outros lanches populares a partir de junhoGrupo cria campanha para recuperação do turismo em BrumadinhoPolícia Civil identifica mais duas vítimas de Brumadinho; mortos são 240Atingidos pelo desastre de Brumadinho negociam mais 47 acordos individuais com a ValeCom o rompimento da barragem, no desastre com 240 mortes já confirmadas e 30 desaparecidos, a demanda aumentou, e o grupo passou a prestar assistência às crianças e adolescentes que perderam entes queridos na tragédia. “O trabalho começou há nove anos e, hoje, atendemos 150 crianças. Estamos aqui para valorizar a vida e resgatar os sonhos. Após a tragédia, famílias atingidas pelo rompimento da barragem passaram a procurar ainda mais pelo grupo. Isso porque muitos diziam que ‘é preciso confortar o coração das crianças’. A procura aumentou em 40%. Gostaríamos de atender ainda mais, mas, infelizmente, precisamos de recurso”, contou Leci Giovane.
Imagine, de um dia para outro, perder familiares, amigos, não ter mais sua casa, seus animais... Ficar sem seu mundo, inesperadamente, é um trauma que afeta qualquer ser humano, mas fica ainda mais difícil quando é enfrentado por crianças e adolescentes. “Assim que aconteceu, muitas das crianças tinham crise de choro. Muitas não conseguiam dormir. Algumas tinham medo até de sair de casa ou pegar um ônibus. São muitos os traumas. Tem amigos meus sumidos. Estamos um abraçando o outro, caminhando juntos. E está longe disso terminar”, completou o coordenador, ao explicar que, apesar de difícil, vê um avanço no quadro pós-trauma que muitas delas carregam. “Por meio da cultura e da arte vamos conseguir”, acrescentou.
Ontem, 12 crianças foram até a escola para se apresentar e receber muito amor e carinho de outros pequenos, que, apesar de terem a mesma idade, vivem uma realidade muito diferente. Baldes viram surdos que, bem ensaiados, produzem um batuque harmonioso acompanhado por palmas dos alunos no ginásio do colégio.
Os violões feitos a mão também chamam a atenção. Denilso de Oliveira Porto, de 13, e Victor Gabriel Paiva Reis, da mesma idade, saíram cedo de Brumadinho para se apresentar. “Entrei no projeto há cinco meses. Sempre quis fazer aula de violão, mas não podia. Agora é muito legal aprender e poder tocar aqui. É uma honra representar minha cidade”, disse Denilso. O colega, Victor, frisa que a solidariedade é muito importante em um momento tão difícil: “É o que dá força para nós e para o projeto”, complementou.
Ana Villela, aluna do Magnum, tem apenas 9 anos, mas entende a dimensão do que ocorreu em 25 de janeiro. “Algumas pessoas sofreram muito perdendo familiares e aqui elas podem ser acolhidas. A gente fez cartas bem legais. Escrevi uma mensagem para eles: ‘Você pode ter perdido algum familiar, mas a vida não para aí. Você tem que seguir’”,contou a pequena.
Laura Menezes, de 10, também disse que tem aprendido muito sobre a palavra empatia: “A gente se coloca no lugar deles. Se fosse a gente que tivesse perdido alguém da família, a gente também ia ficar triste.” Henrique Figueredo, de 11, fica muito impressionado com o trabalho dos bombeiros. “Eles não têm superpoderes, mas são super-heróis. Não heróis que podem voar, são heróis que podem salvar as vidas”, contou.
“Colocar em prática o que ensinamos na teoria”, complementou. Em 2010, foi conferido ao Magnum o certificado de inclusão no Programa de Escolas Associadas (PEA) da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). O certificado representa o compromisso em criar e praticar educação de qualidade na busca da paz, liberdade, justiça e desenvolvimento humano, a fim de atender às necessidades educacionais de crianças e jovens em todo o mundo.
O grupo também vai à escola na sexta, quando serão entregues as doações de lanches. O Corpo de Bombeiros Militar também estará presente para receber homenagens, cartas e desenhos feitos pelas crianças, que foram transformados em um “livrão”. E, quem tiver interesse em ajudar o projeto Batucabrum pode entrar em contato pelo Instagram @Batucabrum ou pelo telefone: (31) 99978-1588.