Jornal Estado de Minas

Entenda o risco que ameaça barragem na Mina de Gongo Soco, em Barão de Cocais


A Defesa Civil do estado reforçou na madrugada de hoje seu efetivo em Barão de Cocais, na Região Central do estado, por causa do risco iminente de rompimento de talude na Mina Gongo Soco. O alerta ontem foi redobrado depois de laudo da Vale, repassado ao Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e à defesa civil, apontar a possibilidade de ruptura ao longo da semana que vem.

Amanhã, haverá novo simulado com a população. Ideia é intensificar as orientações e treinar os 40% dos moradores, cerca de 2,4 mil pessoas, que não participaram da primeira simulação, feita no fim de março.

Ontem, promotores fizeram uma série de recomendações à mineradora para conter os efeitos do colapso de mais uma estrutura em Minas.

Em caso de ruptura, o material cairá na cava localizada abaixo dele e vai se integrar ao meio ambiente. O temor é de que, dependendo da velocidade e da força com que isso ocorrer, haja um abalo sísmico, que seria o gatilho para o rompimento da barragem Sul Superior, localizada a 1,5 quilômetro da cava.

Em outras palavras e conforme consta no Relatório de Monitoramento Geotécnico da Vale, a vibração é capaz de ocasionar a liquefação da Barragem Sul Superior – o mesmo processo que as investigações apontam serem a causa do rompimento da Barragem 1 da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho.

Veja o mapa com a mancha de inundação em caso de rompimento da Barragem Sul Superior




A Sul Superior teve seu risco de segurança elevado para nível 3 no fim de março. De acordo com documentos oficiais da Defesa Civil, nesse nível uma estrutura está se rompendo ou em risco iminente de colapso.

O treinamento que indica rotas de fuga e pontos de encontro contou com a participação de 3,6 mil pessoas. No início de fevereiro, 452 moradores da zona de autossalvamento (ZAS) foram retiradas de suas casas. “É uma oportunidade para quem não participou conhecer esses locais. É uma medida de precaução e proteção e pode salvar vidas”, afirmou o tenente-coronel Flávio Godinho, coordenador-adjunto da Defesa Civil de Minas Gerais.

Segundo ele, não há mais ninguém na ZAS. “Pedimos que as pessoas não usem caminhos clandestinos para entrar nessa área, que está lacrada e com segurança particular 24 horas”, avisou. De acordo com o documento da Vale, o talude tem um deslocamento diário de 3 a 4 centímetros. “Se estabilizar agora pode nem vir a romper, mas se continuar nessa progressão diária, pode se somar a uma proporção maior e, do dia 19 ao 25, indica que poderia haver rompimento.
A Vale tem prestado informações técnicas e somente geotécnico pode falar com propriedade se é possível impedir”, relatou Flávio Godinho.

As duas comunidades localizadas logo abaixo – Socorro e Tabuleiro – foram retiradas. Os moradores das cidades vizinhas de Santa Bárbara e São Gonçalo do Rio Abaixo também já participaram de simulado de rompimento. Nesses locais, a previsão é de que a lama de rejeitos chegue em 2 horas e 36 minutos. Os rejeitos atingiriam o Rio São João e chegariam ao Centro de Barão de Cocais e à entrada da cidade. A prefeitura pintou os meios-fios com cores vibrantes, para indicar as zonas de risco. Foram mapeadas pessoas acamadas e idosos e, caso a situação permaneça, elas serão orientadas a também deixar suas casas, uma vez que moradores com dificuldade de locomoção podem tornar o socorro mais lento.

“Somente quem está lá sabe o sofrimento que está passando. Somos solidários ao povo de Barão. As ações estão postas e neste momento temos de nos preocupar em salvar vidas”, ressalta o tenente-coronel.
“Se houver rompimento, largue seus bens para trás, saia caminhando. Não pegue veículo, que pode colidir com outro ou obstruir uma via em que a polícia está atuando ou por onde o Samu precisa passar para salvar alguém. Direcione-se para pontos de encontro pré-determinados.”

RECOMENDAÇÃO O risco de rompimento nos próximos dias está num documento intitulado “Cava Gongo Soco – Análise Inverso da Velocidade Talude Norte”. O MPMG expediu recomendação à Vale exigindo que a mineradora informe a população sobre os reais riscos de rompimento da Barragem Sul Superior. Eles pedem ainda que a Vale comunique, por meio de carros de som, jornais e rádios, “informações claras, completas e verídicas sobre a atual condição estrutural da Barragem Sul Superior, possíveis riscos, potenciais danos e impactos de eventual rompimento às pessoas e comunidades residentes ou que estejam transitoriamente em toda área passível de inundação”.

Outra recomendação foi que a empresa forneça às pessoas eventualmente atingidas “total apoio logístico, psicológico, médico, bem como insumos, alimentação, medicação, transporte e tudo que for necessário, mantendo posto de atendimento 24 horas nas proximidades dos centros das cidades de Barão de Cocais, Santa Bárbara e São Gonçalo do Rio Abaixo”.

O Ministério Público exigiu que esses locais contem com equipe multidisciplinar preparada para acolhimento, atendimento e atuação rápida e pronta a serviço dos cidadãos. Os promotores deram prazo de seis horas para a Vale responder se acolhe ou não a recomendação, “com informações específicas e detalhadas sobre as ações adotadas e/ou planejadas para seu cumprimento”.

Por meio de nota, a Vale informou que “não há elementos técnicos até o momento para se afirmar que o eventual escorregamento do talude Norte da Cava da Mina Gongo Soco desencadeará gatilho para a ruptura da Barragem Sul Superior”. A mineradora acrescentou que está reforçando o nível de alerta e prontidão para o caso extremo de rompimento.

A empresa disse ainda que está intensificando a veiculação de informações sobre o risco, como recomenda o MP.

“Foram enviadas notas para a imprensa nacional e regional, publicadas informações em redes sociais da empresa (incluindo postagens patrocinadas para aumentar a visibilidade das informações nas regiões possivelmente afetadas), além de informes para grupos de WhatsApps de comunidades das ZAS e das ZSS”, destaca a mineradora.

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