Jornal Estado de Minas

Dengue tem aumento de casos e mortes em BH e já reduz estoques da Hemominas

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A doença que avança em Minas e em Belo Horizonte, onde as confirmações de casos e de mortes aumentaram nada menos que 50% em uma semana, provoca entre os infectados, além da febre e das dores por todo o corpo, uma ameaça silenciosa e mais profunda. Em toda as fases da dengue, da forma sem sintomas até os casos mais graves, o sangue do paciente é afetado. O vírus provoca redução das plaquetas e interfere no sistema imunológico. Nos casos mais críticos, podem ocorrer hemorragias e até a síndrome de choque por dengue – quando há perda de líquido pelos vasos sanguíneos.

Por outro lado, com mais de 247 casos prováveis em Minas, a enfermidade deixa em alerta a Fundação Hemominas, com 27 unidades no estado. Os estoques são duplamente afetados pela epidemia: faltam doadores, devido ao grande número de casos registrados, que contraindicam a doação, enquanto aumenta a demanda por transfusão em pacientes graves, fazendo o estoque ficar baixo para certos tipos sanguíneos.

Enquanto isso, a epidemia se espalha rapidamente. Em BH, segundo boletim divulgado ontem, a dengue já matou seis pessoas, duas a mais que o total registrado em uma semana. O número de casos comprovados também aumentou cerca de 50%. Em sete dias, exames identificaram mais 5 mil doentes, fazendo o total de diagnósticos positivos saltar de 10.490 para 15.491.
O total de casos prováveis, que representam a soma de confirmados e suspeitos, aumentou de 44.036 para 56.425 no mesmo período, alta de 25,8%.

A capital vive um período crítico devido à dengue. Neste ano, a média é de 114 casos confirmados por dia. A situação pode ser pior, já que ainda estão sendo investigadas 40.934 notificações. Outros 8.741 registros foram descartados. O Barreiro segue como a região com maior número de casos comprovados. Foram confirmados 5.266 diagnósticos e há 2.592 notificações sob apuração. Em seguida vem a Região Nordeste, com 1.830 confirmações e 6.830 exames pendentes.



Além das seis mortes confirmadas em BH, total que eleva o número no estado a pelo menos 40, há outros óbitos suspeitos.
A Secretaria Municipal de Saúde não divulga quantos, mas um dos casos fatais a serem investigados é o de um policial militar que perdeu a vida em um hospital particular da cidade, na noite de quinta-feira. Segundo a pasta, o caso ainda não consta como notificado, porém, será apurado assim que houver registro.


PLAQUETAS E HEMORRAGIA Pacientes com sintomas de dengue devem ter atenção aos sinais de agravamento da doença. O vírus provoca redução das plaquetas, o que pode levar a hemorragia. “A dengue acaba reduzindo o número de plaquetas, o que aumenta o risco de sangramentos  que podem ser leves – como nasal, na boca quando se escovam os dentes – ou sangramentos importantes, como no sistema digestivo ou no cérebro. Pode se tornar uma situação grave”, explicou o infectologista da Unimed Adelino de Melo Freire Júnior, médico do Hospital Felício Rocho.

Para acompanhar a evolução do paciente e evitar a piora no quadro, exames de hemograma são realizados repetidamente, normalmente de dois em dois dias. Mas não apenas as plaquetas são analisadas. Outra avaliação é feita para monitorar o surgimento de uma forma ainda mais grave da doença, a chamada síndrome de choque por dengue. “Isso acontece pela perda de líquido pelos vasos sanguíneos.
Então, o exame é importante para verificar se o sangue está mais concentrado, que é quando há sinal de alarme, ou não”, disse Júnior.

Em alguns casos, os sinais de gravidade aparecem quando alguns sintomas já foram embora. Por isso, o paciente deve tomar cuidados constantes. “A dengue tem uma característica bifásica. Há uma fase inicial de febre, em que normalmente a pessoa se sente pior, com dor no corpo. É uma fase mais aguda, com o vírus circulando. Depois, a febre cessa. É mais comum, dois dias após o fim da febre, acontecerem sangramentos. Então, o risco de haver uma complicação é importante”, alertou o infectologista.


Hemominas em alerta


A epidemia de dengue, que já atingiu centenas de milhares de pessoas em Minas Gerais, vem trazendo uma preocupação extra, além dos serviços de atendimento superlotados: estoques de tipos sanguíneos em baixa. O volume está baixo principalmente para grupos negativos, além do O positivo, o mais consumido. “Como estamos tendo muitos casos de suspeita de dengue, essas pessoas não podem doar.
Quem tem a dengue com o quadro mais simples fica até 30 dias sem poder fazer doação. Já nos casos de febre hemorrágica são seis meses sem doar, por causa da recuperação da doença. Além disso, temos situações em que pacientes precisam de transfusão de plaquetas”, explicou Júnia Cioffi, presidente da Fundação Hemominas.

Uma estratégia que está sendo usada no estado é a transferência de sangue de locais onde há menos casos de dengue. “As regiões menos afetadas pela doença conseguem captar mais doadores e coletar bolsas de sangue. Então, distribuímos para outras unidades, para evitar desabastecimento”, afirma a presidente.

Campanhas estão sendo realizadas em busca de doadores. “Estamos fazendo esse trabalho de busca e de sensibilizar pessoas que estiverem bem, para comparecer às unidades”, comentou Júnia Cioffi. Para doar sangue é preciso ter entre 16 e 69 anos. Adolescentes de 16 e 17 anos devem ter autorização do responsável legal. Já os maiores de 60 devem consultar o médico.

As pessoas que já doaram devem observar o prazo entre os procedimentos. Homens podem doar até quatro vezes por ano, respeitando o intervalo de 60 dias; já para as mulheres, o intervalo é de 90 dias, com a possibilidade de doar até três vezes por ano.
A doação pode ser agendada pelo telefone 155 (opção 8), ou pelo site do Hemominas (www.hemominas.mg.gov.br)..