A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) vai criar uma comissão para tratar de assuntos referentes ao meio ambiente e desenvolvimento, em especial a mineração, com foco no diálogo da Igreja com setores da sociedade, o Poder Legislativo e outros, disse, ontem, o presidente recém-eleito da instituição e arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo. Na presença do secretário do Vaticano para o Desenvolvimento Integral, monsenhor Bruno Marie-Duffé, dom Walmor presidiu, na PUC Minas, em Belo Horizonte, o seminário A mineração e o cuidado com a casa comum, organizado pela Arquidiocese de BH, CNBB e a Rede Igrejas e Mineração, uma plataforma ecumênica que integra diferentes Igrejas na América Latina, mobilizadas na ajuda às comunidades sob o impacto da mineração.
Portador de uma mensagem de solidariedade do papa Francisco às quase 300 vítimas, entre mortos e desaparecidos, do rompimento da Barragem do Córrego do Feijão, em Brumadinho, o francês Bruno Marie-Duffé, na companhia de integrantes do clero, visitará hoje as áreas atingidas pelo tsunami de lama de rejeito de minério que devastou a região e comoveu o mundo. A programação de hoje inclui visita à comunidade de Córrego do Feijão, encontro com famílias das vítimas no Parque da Cachoeira e missa na Matriz de São Sebastião. No domingo, junto com o Grupo de Trabalho de Mineração da CNBB, será redigido documento para envio ao sumo pontífice.
O seminário tem entre seus objetivos apresentar ao Vaticano o impacto da tragédia na população de Brumadinho, além das contradições da mineração em Minas e no Brasil. Durante o evento, o secretário para o Desenvolvimento Integral reafirmou o compromisso do Vaticano em permanecer no apoio às comunidades que defendem seus territórios.
TENSÃO Um dos organizadores do seminário, o professor Miguel Ângelo Andrade, coordenador da Agência de Desenvolvimento Regional Integrado (Aderi) da Arquidiocese de BH, disse que o objetivo das discussões é fortalecer ações em prol das famílias e de forma a se evitarem novas tragédias. “A casa comum citada pelo papa Francisco é nosso planeta, com seus recursos humanos, naturais e espirituais”, afirmou o professor.
O frei Rodrigo de Castro Amédée Péret, do Grupo de Trabalho (GT) Mineração da CNBB e Rede Igrejas e Mineração, afirmou que “vivemos tempos de tensão, com a situação em Barão de Cocais”. O religioso explicou que Minas enfrenta a expansão ilimitada da extração, ocasionando problemas socioambientais, violação dos direitos humanos e negligência com a segurança. “Não bastam apenas discussões técnicas”, resumiu.o.
O seminário teve ainda a participação da moradora de Brumadinho e articuladora social Marina Oliveira, do promotor de Justiça André Sperling, da defensora pública Caroline Morishita, do bispo auxiliar da Arquidiocese de BH e reitor da PUC Minas, dom Joaquim Giovani Mol e do presidente do GT da CNBB, dom Sebastião Lima Duarte. O encerramento ficou a cargo do monsenhor Bruno-Marie Duffé, Secretário do Pontifício Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral, do Vaticano.