Incerteza, transtornos e, ainda por cima, aproveitadores marcam os momentos de tensão que antecedem o desabamento, já dado como certo, do talude da cava da Mina Gongo Soco, em Barão de Cocais, na Região Central de Minas. Sem saber se a Barragem Sul Superior sofrerá consequências, sendo a pior delas o rompimento, moradores vivem com a atenção voltada para um alerta que pode soar a qualquer momento.
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O prazo máximo para rompimento apontado por ele é ligeiramente diferente do que a Vale havia informado na semana passada, quando previu o dia 25 como data-limite para o evento. “É uma questão imponderável se esse rompimento do talude na cava vai afetar a barragem. Isso não é possível precisar. O consultor da auditoria independente, uma empresa estrangeira, registrou que essa chance é de uma em 10 ou uma em oito, que levaria de 10% a 15% de probabilidade”, afirmou o secretário.
O rompimento pode gerar dois tipos de impacto para a Barragem Sul Superior, que armazena 6 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério de ferro, conforme o Cadastro Nacional de Barragens, da Agência Nacional de Mineração (ANM). O primeiro deles é a vibração da barragem, que está a 1,5 quilômetro da cava da mina. O segundo impacto seria o início de um processo de liquefação da estrutura a partir das vibrações, o que poderia levar ao colapso da estrutura do reservatório.
No mesmo evento o coronel Edgar Estevo, comandante-geral do Corpo de Bombeiros, disse que uma equipe de 12 militares está passando pelos imóveis da zona de autossalvamento da área que seria inundada pela barragem para garantir que todas as casas estão vazias. Segundo ele, se tudo for feito dentro do que está previsto, não haverá perda de vidas caso a Barragem Sul Superior se rompa.
O coordenador estadual de Defesa Civil, coronel Evandro Geraldo Ferreira Borges, ressaltou a importância do plano de segurança. “Esse plano tem grande significado pela oportunidade que traz para o sistema de defesa civil. As várias instituições contribuem e trabalham de forma integrada para ajudar nossa população em momentos difíceis”, afirmou o coronel.
Desde o início de fevereiro, 458 moradores da zona de autossalvamento (ZAS) foram retirados de suas casas. Em março e no último sábado, foi feito treinamento com quem vive nas chamadas zonas secundárias. Ontem, a Defesa Civil de Minas Gerais fez um plano para socorrer acamados e pessoas com dificuldades de locomoção já que, em caso de rompimento, o atendimento a esse grupo é mais difícil, segundo coordenador-adjunto da Cedec, tenente-coronel Flávio Godinho. Entre acamados e cadeirantes, 13 pessoas foram realocadas.
TRANSPORTE A queda iminente do talude e o risco de colapso da Barragem Sul Superior levou a Vale a interditar, para o transporte de carga, o ramal de Belo Horizonte, entre Sabará e Barão de Cocais, que é atendido pela Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM). “A empresa está avaliando alternativas para minimizar os impactos decorrentes dessa paralisação”, informou a mineradora. Ela acrescentou que a interrupção está alinhada com a Agência Nacional de Mineração (ANM) e foi feita por medida de segurança.
O trem circula nas imediações da cava da Mina Gongo Soco. Segundo a empresa, a medida busca preservar a segurança das pessoas e ficará em vigor até que sejam feitas análises de risco mais aprofundadas. Desde a última quinta-feira, a viagem de trem de passageiros entre Belo Horizonte e Vitória (ES) foi alterada. As pessoas que fazem o percurso estão sendo levadas da capital mineira até a Estação Dois Irmãos, em Barão de Cocais, por meio de ônibus locados pela empresa. De lá, fazem o restante do trecho por trem. No sentido contrário, desembarcam na Estação Dois Irmãos e seguem por meio rodoviário até o destino final.
A Vale informou que o transbordo da carga está sendo feito em alguns ramais para que a viagem por trem continuem depois do ramal Belo Horizonte, mas não detalhou como a operação está ocorrendo.
Lentidão preocupante
O secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais, Germano Viana, está apreensivo com o baixo número de mineradoras que apresentaram cronograma para a realização do descomissionamento das barragens a montante. “Os cronogramas devem ser apresentados imediatamente e me causa preocupação que, até o momento, apenas 10 os entregaram”, afirmou.
Quadrilhas de aproveitadores
O sofrimento e as incertezas de pessoas desalojadas de áreas sujeitas ao rompimento de barragens da Vale não são suficientes para inibir que quadrilhas de estelionatários continuem tentando se aproveitar da situação para desviar auxílios.
A Polícia Civil já rastreou pelo menos 18 pessoas suspeitas de se passar por atingidos, sendo que 15 foram presas em Brumadinho, onde barragem da Vale se rompeu em 25 de janeiro, e as demais em Nova Lima, todos municípios da Grande BH. Ontem, mais uma pessoa que recebia auxílio a desalojados da mineradora devido a risco em reservatório da região foi presa. Outra está foragido.
Samuel Batista dos Santos, de 25 anos, é a segunda pessoa presa na Operação Chacal, da Polícia Civil de Nova Lima. Na verdadeira residência, uma surpresa: cerca de R$ 10 mil em artigos alimentícios e temperos de alto padrão, que a polícia afirma terem sido comprados com o auxílio irregular para serem vendidos posteriormente.
Na semana passada, Luiz Carlos da Silva, de 56, residente do Bairro Betânia, Oeste de BH, foi preso depois de se passar por morador de São Sebastião das Águas Claras, o distrito de Nova Lima conhecido como Macacos. Ele estava na fila para obter vouchers de alimentação quando recebeu voz de prisão. Só esses três teriam dado um prejuízo de R$ 90 mil, estima a polícia.
Em Macacos, distrito ameaçado pelo rompimento das barragens B3/B4, da Mina de Mar Azul, em Nova Lima, cerca de 250 pessoas foram realocadas para hotéis, mas, devido à operação, muitos beneficiários estão pedindo desligamento dos auxílios para não serem investigados.
Ele e o outro suspeito detido em Macacos utilizavam comprovantes de residência de outra família, que realmente morava em área de risco e está amparada licitamente pela mineradora. “Não há relação entre a família atingida e os suspeitos. Eles disseram que obtiveram facilidade para usar esses documentos e, por atravessarem dificuldades financeiras, resolveram praticar o golpe”, afirma o delegado responsável pelo caso, Murillo Ribeiro de Lima, da 3ª Delegacia Regional de Nova Lima.
A polícia apurou que os presos e o suspeito foragido chegaram a ter gastos diários na pousada acima de R$ 1 mil para conseguir os artigos encontrados na residência. “Os representantes da pousada desconfiaram, mas como os gastos estavam sendo cobertos regularmente pela Vale, não interferiram”, disse o delegado do caso. As apurações continuam e mais pessoas estão sendo procuradas. “Devido ao grande número de golpes em auxílios a atingidos pelas barragens que a polícia detectou, foi possível identificar mais esse. É importante frisar que essa operação inibe os crimes e garante que os auxílios cheguem a quem realmente precisa”, destaca o delegado.
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