O Hospital Municipal de Paracatu pediu ontem a transferência do atirador Rudson Aragão Guimarães, de 39 anos, para outra unidade de saúde. O requerimento foi feito à Polícia Civil e à direção do presídio do município da Região Noroeste de Minas. Se aceito, é provável que o acusado do massacre que vitimou quatro pessoas, sendo três delas dentro da Igreja Batista Shalom, vá para outra cidade. A solicitação foi reforçada depois da tentativa de suicídio do paciente, internado há três dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). A Polícia Civil apura como uma lâmina de bisturi chegou às mãos do atirador. Mesmo algemado e preso a uma maca, ele desferiu três golpes em seu pescoço. A unidade hospitalar também abriu procedimento interno para saber as circunstâncias do ocorrido.
A tentativa de se matar ocorreu por volta das 6h50. Rudson, que ficou muito agressivo e agitado, foi contido pela equipe da UTI e pelos agentes da Subsecretaria de Administração Prisional (Suapi). Ele precisou de fazer transfusão de sangue, mas agora está fora de risco. A vigilância foi redobrada e o homem permanece na UTI. “Independente do que ele fez, nós o vemos como paciente e nossa preocupação é garantir a integridade física dele. Por isso, requeremos a transferência, para tirá-lo do foco. Nossa população é muito pacata e está muito consternada. Foi uma comoção grande na cidade”, afirma o diretor-administrativo do hospital, Marcelo de Andrade.
A primeira hipótese das investigações é de que Rudson se enfureceu por ter sido destituído da liderança da igreja. Ele teria tido um atrito com o pastor há dois meses, que resultou no seu afastamento da liderança do espaço religioso. Rudson ocupava o cargo de intercessor na igreja. Ele auxiliava Evandro Rama a conduzir orações para os fiéis. Mas depois de ser alertado sobre problemas pessoais do assassino, o pastor o retirou da função. Ainda tentou auxiliá-lo, mas Rudson não se mostrou interessado nos conselhos do líder religioso. Sendo assim, Evandro o expulsou da igreja.
Segundo fiéis, a partir desse episódio, o suspeito começou a proferir ofensas a Evandro nas redes sociais, o que deixou o pastor muito assustado. Na terça-feira à noite, Rudson foi até a casa da irmã dele, onde estava a ex-companheira, Heloísa Vieira Andrade, de 59, sentada em um sofá, e a atacou com um canivete. Em seguida, usando uma cartucheira calibre 36, foi a pé até a igreja, próxima à casa da irmã. À polícia, ele alegou que o alvo principal seria o pastor, que conseguiu escapar e sofreu lesões na fuga. Na igreja, ele abriu fogo contra os fiéis e matou o pai do pastor, Antônio Rama, de 67, Rosângela Albernaz, de 50, e Marilene Martins de Melo Neves, de 52.
Rudson foi autuado em flagrante pelo crime de homicídio qualificado pelas quatro mortes, com incidência de duas qualificadoras: motivo fútil e impossibilidade de resistência das vítimas. Já a tentativa de homicídio teve as mesmas qualificadoras com relação ao pastor. De acordo com a delegada responsável pelo caso, Thays Regina Silva, não foram constatadas provas materiais indicando um homicídio em virtude da condição de gênero da ex-companheira, o que caracterizaria um possível feminicídio.