Vida nova para Córregos, distrito nascido no início do século 18 e distante 24 quilômetros da sede do município de Conceição do Mato Dentro, na Região Central. A direção do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha) informou, ontem, que começaram as obras de revitalização de 52 fachadas das edificações e do chafariz que integram o núcleo histórico. A previsão é de que os trabalhos sejam concluídos em dezembro, com investimento de cerca de R$ 582,8 mil. “Vamos ficar muito bem servidos. Nosso Córregos vai ficar bonito demais”, afirma a professora e zeladora da matriz, Maria Odete de Almeida, uma das primeiras contempladas com o programa especial.
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Do início do século 18, povoado de Córregos será inteiramente restauradoRisco de rompimento: MP quer que Vale proteja patrimônio cultural de Barão de CocaisMoradores fecham MG-10 em protesto contra a Anglo; mineradora não vai a reuniãoPolícia Federal prende falsificador de documentos em Governador ValadaresTombada em 1985 pelo estado, a Capela de Nosso Senhor dos Passos é alvo de restauração arquitetônica, incluindo instalações complementares e restauração de elementos artísticos integrados, desde outubro. A previsão é que, em setembro, o trabalho esteja concluído. Quanto à Matriz de Nossa Senhora Aparecida de Córregos, a licitação está em andamento, sendo contemplados serviços de restauração arquitetônica, incluindo instalações complementares e restauração de elementos artísticos integrados. Cerca de R$ 2,1 milhões serão investidos nesse templo barroco.
Em dezembro, o Estado de Minas mostrou o cotidiano pacato de Córregos e a expectativa dos moradores quanto ao programa especial – a localidade de paisagem bem mineira mais parece um presépio, com montanhas ao fundo, o casario formado por construções singelas, espaço gramado e um clima de paz que atrai muitos turistas. Na época, a presidente do Iepha, Michele Arroyo, destacou: “Vamos preservar a estrutura urbana, que é bem típica do período colonial, com característica local”.
PRESERVAÇÃO A comunidade está satisfeita e Maria Odete de Almeida, “nascida e criada aqui”, não esconde o entusiasmo ao falar da Rua Cônego Madureira, a mais antiga via pública do distrito e homenagem ao primeiro vigário de Córregos: “Fico feliz demais, pois preservar o patrimônio significa algo muito importante. Nesta rua, todo fim de semana passa gente de carro, moto, bicicleta ou a pé, pois é um trecho da Estrada Real”. Presidente da Associação Esperança de Córregos (Asec), ela acredita que o trabalho favorecerá o turismo no distrito tombado pelo Iepha desde 2001 e onde vivem cerca de 400 pessoas. Já a capela e a matriz têm tombamento próprio desde 1985.
A direção do Iepha explica que, para preservar os valores que motivaram a proteção do núcleo histórico e oferecer à comunidade condições para atuar de forma compartilhada, a instituição celebrou um convênio de cooperação com a Prefeitura de Conceição do Mato Dentro. O objetivo é incluir os moradores e proprietários de imóveis do conjunto tombado nas discussões sobre o processo de acompanhamento das obras de recuperação das fachadas das casas. E mais: está em pauta a realização de ações de mobilização da comunidade para adesão ao programa de revitalização do núcleo e implantação de um chamamento público para cadastramento das edificações selecionadas no projeto executivo aprovado.
A dona de casa Maria do Amparo Teixeira Duque também está satisfeita com os benefícios que chegam a Córregos, onde nasceu e se criou. E contou ao EM: “Nesta igreja, foram batizados minha filha e os netos. Tudo aqui é maravilhoso, gosto demais. Nosso distrito parece mesmo um presépio”. A visita dos repórteres foi acompanhada por dois servidores do Iepha, a historiadora Edilane Carneiro, natural de Conceição do Mato Dentro, e o técnico em gestão do patrimônio, Adalberto Andrade Mateus. Orgulhosa da sua terra, Edilane ressaltou não só a história e a beleza do patrimônio, como também a delícia do biscoito polvilho e a qualidade dos queijos ali produzidos artesanalmente.
A animação se completa com a restauração das imagens. Maria Odete disse ontem que a da imagem do Senhor dos Passos, do tipo roca e esculpida no fim do século 18 ou início do 19 em cedro vermelho, já foi concluída, a exemplo da de São Sebastião, já no altar, e de Santo Antônio. “Vão ser restauradas ainda as imagens da padroeira, Nossa Senhora Aparecida de Córregos, de Nossa Senhora do Rosário e Nossa Senhora das Dores.”
FÉ NA PADROEIRA O distrito de Córregos, em Conceição do Mato Dentro, tem uma história bem peculiar de devoção a Nossa Senhora. O nome da padroeira local é o mesmo da protetora dos brasileiros, Nossa Senhora Aparecida, mas há uma diferença que os moradores se apressam em frisar bem. “A daqui é Nossa Senhora Aparecida de Córregos”, esclarece a zeladora da igreja, Maria Odete de Almeida. Conforme a tradição oral, em 1722 “apareceu” no cemitério, onde depois foi erguida a matriz, uma imagem de Nossa Senhora que hoje “mora” no altar-mor, conforme diz Maria Odete, bem à mineira. A peça teria sido deixada por um bandeirante em busca de ouro, que bateu em retirada, seguindo o Rio Santo Antônio, sem conseguir grandes riquezas.
História em dois templos
Capela de Nosso Senhor dos Passos
» Com a ação de proteção desse templo em 1985, o Iepha-MG revelou um patrimônio singelo, expressivo e em harmonia com o sítio onde está inserido. A edificação passou por intervenções naquele ano, ocasião em que foram executadas obras estruturais, carpintaria, telhados e drenagem do adro. Evidências de um estilo arquitetônico característico do século 18 apontam para a antiguidade da edificação, apesar da carência – inexistência ou desconhecimento – de qualquer registro ou documentação histórica que lhe faça referência. A capela e seu cemitério ficam no ponto mais alto do povoado, de onde podem ser vistos por qualquer pessoa em diferentes pontos do distrito.
Matriz de Nossa Senhora Aparecida de Córregos
» Localizada na parte central do distrito e com visada privilegiada, a Igreja Matriz de Nossa Senhora Aparecida de Córregos tem padrão arquitetônico típico dos primeiros templos mineiros. Sua planta é composta por duas seções retangulares, com divisões em nave, capela-mor, consistório, corredores laterais, sacristia e estrutura autônoma de madeira com vedações em adobe. No interior, pisos em madeira substituem as tábuas originais, os forros são abobadados, arco-cruzeiro em madeira revestida de pintura decorativa, púlpito, coro com balaustrada e mesa de comunhão em jacarandá, com balaustrada torneada, bem executada.
Fonte: Iepha-MG