Barão de Cocais – O prazo para o desabamento do talude de 10 milhões de metros cúbicos de rochas, que é parte da estrutura da Mina Gongo Soco, em Barão de Cocais, e que pode ocasionar o rompimento da Barragem Sul Superior, terminou ontem, mas mobilização das estruturas de defesa civil e a apreensão da população permanecem. Essa estimativa de que até ontem a estrutura cederia foi feita pela Vale. A Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) e a Agência Nacional de Mineração (ANM) deram prazo até este domingo. Os trabalhos, agora, seguem três possíveis cenários, sendo que a situação de alerta será mantida enquanto a estabilidade do barramento não for atestada. Ontem, o talude, que se movia num ritmo de 10 centímetros por dia, chegou a se deslocar 19 centímetros, superando o ritmo anormal de 10 centímetros diários registrados nesta última semana – um indicativo de eventual ruptura.
Caso o talude não caia, a atenção e toda estrutura de alertas e prontidão continuam. Se a estrutura ceder e isso não ocasionar uma ruptura do reservatório, a situação também se mantém, com os alertas e prontidões das equipes de resgate da Vale, bombeiros, defesas civil estadual e municipal. Se a barragem se desmantelar as quatro sirenes soam, carros de alertas começam a circular em Barão de Cocais, Santa Bárbara e São Gonçalo do Rio Abaixo. Funcionários da Vale serão enviados aos bairros mais baixos, onde a lama pode soterrar, para ajudar na evacuação das pessoas até os pontos seguros. A estimativa é de que a lama e os rejeitos de minério de ferro que por ventura venham a escoar do barramento consigam atingir Barão de Cocais em cerca de 1 hora e 30 minutos, se movendo a 10 km/h, no máximo.
TREINAMENTOS De acordo com o capitão Júnior Silvano Alves, da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil, os dois simulados realizados para treinar a população sobre como proceder em caso de necessidade de evacuação foram bem-sucedidos. “Em todas as sete zonas de inundação a população conseguiu evacuar as áreas em menos de 1 hora, o que nos dá até uma margem de conforto, caso seja realmente necessário”, afirma. O capitão informa que o aparato de emergência só será removido quando a barragem voltar a ter sua estabilidade garantida. No momento, a segurança da estrutura se encontra em nível 3, que é risco iminente de ruptura. “Em nível 2, que é necessidade de medidas de emergência, já recomendamos a remoção das pessoas. Apenas em nível 1, ou seja, situação regular de operação, é que a prontidão e essa estrutura emergencial podem ser desmobilizadas”, detalha.
Enquanto isso, a angústia das irmãs Ana Caldeira, de 65 anos, e Aparecida de Almeida Moreira, de 61, continua. “Acabou o sossego de Barão de Cocais. Fizemos o simulado e foi bom para saber para que lado está a nossa salvação. Mas nada disso devolve a tranquilidade. Se a barragem romper de noite, imagina que confusão será”, diz Aparecida. “Acho que aquela tranquilidade que a gente tinha nunca mais vai voltar. Mas, também, a gente nunca soube como estavam as condições dessas barragens. Agora, sabemos”, comenta Ana
A atendente Rosemeire Angelo, de 48, conta que o movimento diminuiu bastante no comércio da cidade. “Antes, a loja nossa aqui no Centro (de Barão de Cocais) tinha um movimento muito bom. Não sei quanto caiu, mas com certeza não é mais o que era. As pessoas deixaram de vir, os turistas estão evitando vir para a cidade”, afirma. “A gente quer uma definição. Que digam o que precisa ser feito para termos nossa segurança de volta”, cobra a também atendente Karine Morais, de 22.
SIMULADO EM BH Um treinamento de evacuação de emergência realizado ontem nos bairros Maria Tereza e Beija-Flor, nas regiões Norte e Nordeste de Belo Horizonte, contou com a participação de menos de um terço dos moradores. Organizado pela Defesa Civil e pela Vale, o procedimento teve como objetivo treinar comunidades que estão em uma zona de segurança secundária da Barragem Forquilha I, que fica em Ouro Preto. Apesar de a capital ficar a 120 quilômetros da barragem, em caso de rompimento, os moradores estariam dentro da chamada mancha de inundação. Um possível aumento no volume do Córrego do Onça poderia atingir imóveis das duas comunidades. Desta forma, os rejeitos levariam 11 horas e 24 minutos para atingir a comunidade de Beija-Flor e 13 horas e 17 minutos a comunidade de Maria Tereza.