Os mais de 500 mil visitantes que sobem, durante todo o ano, a Serra da Piedade, em Caeté, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), poderão ter à disposição um transporte charmoso para contemplar melhor a paisagem espetacular formada por montanhas e bens culturais. A fim de favorecer o turismo e oferecer alternativa à perigosa rodovia BR-381 no sentido Vitória (ES), a Arquidiocese de Belo Horizonte elaborou um projeto para ligar, por trem, a capital a Sabará e Caeté, com uma estação aos pés do maciço que guarda duas basílicas – no altar-mor da ermida do século 18, fica a imagem de Nossa Senhora da Piedade, padroeira de Minas, esculpida por Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1738-1814).
De acordo com a arquidiocese, a iniciativa do arcebispo metropolitano dom Walmor Oliveira de Azevedo já foi apresentada ao secretário de Estado de Cultura, Marcelo Matte, e à presidente do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG). Um fôlder sobre a futura empreitada foi divulgado (veja o mapa) e mostra trechos prontos e outros que vão demandar infraestrutura para a ideia entrar nos trilhos. E começar a circular.
Se concretizado, o trecho ferroviário deverá se somar a outro em gestação e sonhado por moradores e autoridades: o ramal unindo BH a Brumadinho, na Grande BH, em duas linhas propostas (com início na Praça Rui Barbosa (Praça da Estação) e no Bairro Belvedere, na Região Centro-Sul) para transportar brasileiros e estrangeiros interessados em conhecer o Instituto de Arte Contemporânea Inhotim. A cidade vizinha tenta se recuperar da queda no turismo após a tragédia do rompimento da Barragem da Mina Córrego do Fundão, que completa quatro meses neste domingo (25) e deixou 300 vítimas entre mortos e desaparecidos. O trem turístico terá a estação final dentro de Inhotim.
Recém-eleito presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Walmor está entusiasmado com o projeto do trem para a Piedade: “A Região Metropolitana de Belo Horizonte guarda tesouros que precisam ser apreciados e valorizados. A arte barroca das cidades coloniais, muitas belezas naturais pouco conhecidas, patrimônios da religiosidade e da história de Minas. É preciso investir para que a fé e o turismo contribuam ainda mais para o desenvolvimento sustentável do estado, da capital e da Grande BH”.
O arcebispo acredita que interligar Belo Horizonte, Sabará, Caeté, que abriga o Santuário Basílica Nossa Senhora da Piedade – Padroeira de Minas Gerais, a partir de linhas férreas, “é retomar a tradição das viagens feitas sobre trilhos, oportunidade para contemplar paisagens, conhecer regiões a partir de novas perspectivas”.
TRAJETO Uma equipe técnica da Arquidiocese de BH fez o trajeto para o projeto e a etapa atual é de contato para formar parcerias, obter recursos e deslanchar a proposta, que não tem valor de investimento definido, especialmente porque a linha férrea deverá ser complementada por um teleférico (8 quilômetros) que levará os peregrinos até topo da Serra da Piedade. Conforme o levantamento, serão 13 quilômetros de trilhos de BH a Sabará e 19 quilômetros dessa cidade a Caeté, com necessidade de implantação de trechos e obras para garantir o transporte e conduzir todos com conforto e segurança.
Quem sair da Praça Rui Barbosa (Praça da Estação), que abriga o Museu de Artes e Ofícios, terá outros atrativos ao longo do caminho, segundo o mapa elaborado pela equipe da Arquidiocese de BH. Em Sabará, estão o Santuário Santo Antônio de Roça Grande e joias barrocas como a Igreja do Ó, a Igreja Nossa Senhora do Carmo e a Matriz Nossa Senhora da Conceição. A caminho de Sabará, o turista poderá ver o pontilhão, o visitante terá diante dos olhos pontilhões (um desativado e o da ferrovia Vitória-Minas), a Igreja Santo Antônio de Pompéu, a estação Mestre Caetano e, no Centro Histórico de Caeté, a Matriz Nossa Senhora do Bom Sucesso.
Entusiasta dos trens turísticos, o engenheiro ferroviário Sérgio Motta, presidente da organização da sociedade civil de interesse público (oscip) Apito, criada há 15 anos, considera “sensacional” a ideia de dom Walmor, certo de que, além de fortalecer o turismo, poderá promover fomento de outras atividades econômicas na região, tendo em vista os problemas causados pelo rompimento de barragens de mineração no Quadrilátero Ferrífero.
“Acreditamos que o projeto de um trem turístico para a Serra poderá se estender para outras cidades do Circuito do Ouro. Devo lembrar que, infelizmente, muitos trechos foram desativados entre BH, Sabará e Caeté, então, será necessário recompor os trilhos e refazer os caminhos. O custo é alto, mas muito importante para o setor ferroviário e turístico”, afirma Motta.
INHOTIM O trem turístico para Inhotim, cujo trecho deverá ser administrado pela oscip Apito, é motivo de orgulho para Motta, que participa das ações e audiências da Comissão Extraordinária Pró-Ferrovias Mineiras da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), presidida pelo deputado estadual João Leite. “É um projeto que está bem adiantado e acredito que, dentro de cinco meses, estará em operação, com uma estação dentro do terreno de Inhotim”, afirma Motta. Há possibilidade de que o investimento venha de um banco de fomento (federal ou estadual) ou da Vale, com medida condicionante pela catástrofe em Brumadinho.
Os acertos estão adiantados. Recentemente, foi entregue ao Ministério do Turismo uma carta de anuência da MRS Logística S.A para o prosseguimento do projeto de implantação do trem de passageiros entre BH e Brumadinho. O documento destacou “o interesse público” como base para o uso da ferrovia para transporte de turistas. “Estivemos na VLI Logística, responsável por um trecho até o Barreiro e fomos muito bem atendidos. Os diretores ficaram entusiasmados”, disse Motta.