Jornal Estado de Minas

Em missa, moradores de Barão de Cocais pedem proteção para a cidade

Área onde será erguida uma megaestrutura para conter eventual rompimento da barragem. Trabalhos na região começaram no dia 18 - Foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press


Barão de Cocais – O dia após a previsão de desabamento de parte da cava da Mina Gongo Soco, em Barão de Cocais, na Região Central, foi de aflição para a população, uma vez que a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec) afirma que mesmo sem o deslizamento a Barragem Sul Superior está em risco iminente de rompimento. As igrejas, ontem, amanheceram repletas de fiéis e os pedidos mais urgentes em orações foram pela segurança da comunidade. Vários trabalhadores estão chegando e se hospedando na cidade para a construção de uma defesa a seis quilômetros do barramento, que muitos chamam de “muro”, mas que se trata de uma barragem, uma vez que será usado para reter os rejeitos, impedindo que sigam pela calha do Rio São João até Barão de Cocais, Santa Bárbara e São Gonçalo do Rio Abaixo. Pelo monitoramento, partes do talude da mina prestes a desabar se movimentaram 20 centímetros só ontem, o que representa o dobro do ritmo anual que a estrutura apresentava.


A estrutura que a Vale prepara para bloquear o avanço da lama está em construção desde o dia 18, a 6 quilômetros da barragem Sul Superior. A área onde será erguida, no vale do Rio São João, já foi aberta pelas máquinas e o canteiro de obras está pronto. Caminhões, tratores e escavadeiras também aguardam para ser utilizadas na construção dessa estrutura de concreto que pode salvar as três cidades abaixo.

A dona de casa Andreia Aparecida Chaves levou a filha Emanuelle, de 8 anos, para participar da celebração na igreja e pediu proteção em suas orações - Foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press

A barragem Sul Superior entrou no mapa das barragens em crise após a ruptura dos barramentos 1, 4 e 4A, em Brumadinho, responsável pela morte já confirmada de 242 pessoas e 28 desaparecidos, ao despejar 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos sobre o Vale do Rio Paraopeba. Após essa tragédia, iniciou-se uma crise no setor de barragens, após terem sido revistos os critérios que caracterizam a estabilidade dos represamentos.
Em 9 de fevereiro, a população de Barão de Cocais recebeu o primeiro alerta de que a barragem não tinha garantia de estabilidade e que atingira seu nível três de gravidade – risco iminente.

De lá para cá, foram realizados dois simulados e 400 pessoas foram evacuadas da comunidade de Socorro, a cerca de 2 quilômetros da barragem. A Sul Superior retém 6 milhões de metros cúbicos de rejeitos e pode, ainda, atingir e incorporar o conteúdo menor da Barragem Sul Inferior. Desde o dia 18, a situação piorou com a detecção da movimentação acelerada de uma porção do talude (paredão) de 10 milhões de metros cúbicos da mina, que pode desabar.




MÃO DE OBRA Trabalhadores de todo o Brasil chegam a Barão de Cocais para a obra. Um deles, de 29 anos, que pediu para não ser identificado, veio de Rondônia para trabalhar na obra. “Estou aqui hospedado com uma turma no hotel para trabalhar na construção desse muro. O contrato é até dezembro.

Para mim foi bom, porque estava parado”, disse o homem. Na cidade, o Corpo de Bombeiros já iniciou os informes de uma operação própria, denominada Barão de Cocais. Ontem, 11 viaturas e 30 militares trabalharam em reforço ao efetivo do 6º Pelotão, ligado a Itabira. Parte desses militares foram posicionados em locais estratégicos para acompanhamento da situação e orientação à população em caso de necessidade de evacuação. As obras de contingenciamento ao longo do curso dos rejeitos também foram acompanhadas. O efetivo realizou ainda testes com um aplicativo de georreferenciamento que poderá facilitar um trabalho de resgate caso os rejeitos se desprendam da barragem e soterrem parte da cidade, incluindo o Centro.


Na Igreja Matriz de São João Batista, que guarda obras de Aleijadinho e mestre Ataíde, os moradores aproveitaram a missa de domingo para pedir proteção. Muitos contaram que evitam sair de suas residências, mas como haveria uma coroação de Nossa Senhora, decidiram participar levando os filhos vestidos de anjos. A cerimônia com 14 crianças foi um momento de alento em meio à tensão.

“Nas nossas orações, estamos pedindo que Deus tenha misericórdia de nós”, disse a dona de casa Andreia Aparecida Chaves, de 37 anos, que levou a filha, Emanuelle Aparecida Chaves de Carvalho, de 8, para a coroação.

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