Barão de Cocais – No dia em que o paredão, ou talude, norte da Mina de Gongo Soco, em Barão de Cocais, atingiu sua maior distância de fraturamento, com 21,5 centímetros de deslocamento, a mineradora Vale começou a abrir acessos alternativos para a cidade. As vias estão sendo construídas para impedir que mais de 2 mil pessoas do município da Região Central mineira fiquem ilhadas caso a Barragem Sul Superior, a 20 quilômetros de distância, se rompa, lançando parte dos seus 6 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério de ferro no Rio São João, manancial que corta o Centro da cidade e que pode levar o material às vizinhas Santa Bárbara e São Gonçalo do Rio Abaixo. Ontem, parte da população que chegou a ficar até 15 dias sem atendimento presencial bancário voltou a ter esse tipo de serviço disponível, bem como o dos Correios, retomando, ainda que parcialmente, a rotina interrompida no fim de semana em que o município se manteve em alerta máximo.
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Movimentação no talude de mina em Barão de Cocais já ultrapassa os 21 cm/diaBancos voltam a funcionar em Barão de Cocais nesta segunda-feiraEm missa, moradores de Barão de Cocais pedem proteção para a cidadeMineradora cava represa para conter lama caso barragem se rompa em Barão de CocaisDeslocamento de talude já chega a 24,5 cm/dia em Barão de CocaisVale diz que talude deve deslizar para a cava de mina em Barão de CocaisMovimentação de talude em Barão de Cocais aumenta quase 3cm em pouco mais de 12 horasAs novas estradas passarão pela capela de Nossa Senhora Aparecida, em um dos pontos mais altos da cidade, e só se tornaram viáveis após acordo entre donos de terrenos e mineradora. “Na semana passada, a Vale nos procurou pedindo a liberação do terreno para ligar os dois bairros, para impedir que essa população ficasse ilhada no caso de um rompimento”, conta o corretor Cláudio Marques, da Imobiliária Jogogo, responsável pela liberação da área. “Neste momento, entendemos que temos de ser solidários, pois estamos todos no mesmo barco”, afirma.
A Barragem Sul Superior se tornou centro das atenções após a ruptura dos barramentos 1, 4 e 4A, em Brumadinho, responsável pela morte já confirmada de 243 pessoas e por 27 desaparecidos, quando 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos foram despejados sobre o Vale do Rio Paraopeba. A tragédia foi o gatilho para uma crise no setor, com revisão dos critérios de estabilidade das represas de rejeitos. Em 9 de fevereiro, a barragem de Barão de Cocais foi declarada como sem garantia de estabilidade, atingindo o nível três de alerta, que indica risco iminente de ruptura.
Dois simulados de evacuação foram feitos e 400 pessoas foram retiradas da comunidade de Socorro, a cerca de 2 quilômetros da represa.
Uma das esperanças é de que o talude desça aos poucos, não gerando uma onda de choque considerável. A probabilidade de que o deslizamento gere um rompimento da Barragem Sul Superior é estimada em aproximadamente 15%, de acordo com avaliação da área de meio ambiente do estado. Uma das medidas para evitar que os rejeitos destruam Barão de Cocais é a construção de uma barragem a seis quilômetros da mina, no curso do Rio São João, que já está em andamento, como mostrou ontem reportagem do Estado de Minas.
BANCOS Ontem, depois de até 15 dias de interrupções, os bancos de Barão de Cocais voltaram a funcionar. As agências suspenderam o atendimento devido ao fato de a região central da cidade ser uma das mais vulneráveis ao rompimento, localizada bem na calha do Rio São João. O Banco Bradesco deslocou até a cidade um caminhão que funciona como agência e logo cedo a população pode resolver várias pendências que demandavam atendimento pessoal.
Apesar de a apreensão continuar, entre os moradores há quem tente retomar o cotidiano depois de uma semana de tensão.
Ontem, o comércio voltou a funcionar normalmente e era possível observar crianças e adolescentes indo e voltando das escolas. Uma das tentativas de não deixar que o medo de um desastre paralise a vida na cidade são aposentados, que não deixaram de lado os jogos na pracinha principal.