Barão de Cocais – Diante da mais grave situação entre os quatro barramentos da mineradora Vale que atingiram nível de segurança 3 (risco iminente de rompimento), a mobilização de emergência instaurada na Barragem Sul Superior, na Mina Gongo Soco, em Barão de Cocais, pode ainda se arrastar por semanas, inclusive em dias com possibilidade de chuva – fenômeno que fragiliza ainda mais essa estrutura. A gravidade da situação é determinada pela expectativa de queda de um talude (paredão) dentro da mina que pode, mesmo a 1,5 quilômetro, produzir vibrações suficientes para romper a já instável represa. “O talude é constituído de minério de ferro e por isso tem comportamento específico. É muito pesado e pode levar as próximas semanas para desabar. Mas como é imprevisível, mantemos todas as nossas ações de contingência”, afirma o major Marcos Afonso Pereira, superintendente de gestão de riscos de desastres da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec). De acordo com a Agência Nacional de Mineração (ANM), o talude norte da Mina Gongo Soco já se deslocou dois metros no acumulado do ano.
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O talude que está ameaçando ruir tem 10 milhões de metros cúbicos. Segundo a Cedec, cálculos dos engenheiros contratados pela Vale para o monitoramento dessa estrutura mostram que a cava da mina pode comportar duas vezes e meia o volume do paredão.
“Já foi perguntado se o processo de escorregamento poderia ser acelerado. Mas trata-se de uma área que está interditada e tudo que é feito por lá é de forma remota, sem a presença de pessoas. Assim sendo, só resta aguardar e tomar as medidas de monitoramento e evacuação das pessoas”, afirma o superintendente.
Segundo dados da ANM, a estrutura se movimentava a 24,6 centímetros por dia em sua porção inferior na tarde de ontem. Em alguns pontos do talude, os deslocamentos chegavam a 29,1cm/dia, mostrando uma aceleração em relação aos dados do início do dia. Por volta das 8h, o deslocamento em pontos isolados da estrutura estava em 28,4cm/dia.
Empresa responsável pela Mina Gongo Soco, a Vale informou que as últimas análises indicam que há “grande possibilidade” de o talude norte escorregar para a cava do complexo minerário. (Colaborou Gabriel Ronan).