Vídeo registrado na segunda-feira durante sobrevoo do secretário de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável mostra trincas na estrutura
Após mais de uma semana de aumentos constantes da velocidade de deformação, a Vale confirmou que, na madrugada desta sexta-feira, foi registrado o desprendimento de fragmentos do talude norte da cava da Mina de Gongo Soco, em Barão de Cocais, Região Central de Minas. O processo vem sendo acompanhado desde a detecção, diante do temor de que a queda do paredão pudesse resultar no rompimento da Barragem Sul Superior, que se encontra instável.
“Esses blocos se acomodaram no fundo da cava. As primeiras avaliações indicam que o material está deslizando de forma gradual, o que até o momento corrobora as estimativas de que o desprendimento do talude deverá ocorrer sem maiores consequências”, informou a Vale, por meio de nota.
Monitoramento
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Relator da CPI de Brumadinho diz que pedirá indiciamento de até 15 pessoasMobilização de emergência pode se prolongar por semanas em Barão de CocaisTalude de Barão de Cocais já se deslocou 2 metros neste anoVelocidade de deslocamento do talude salta para 42,4 centímetros por dia Obras no entorno da Mina de Gongo Soco tentam reduzir impacto de eventual desastreDeslocamento de talude da Vale em Barão de Cocais sobe a 33,4 cm por diaDeslizamento de área de 600m² reforça expectativa de acomodação de talude em cavaBarão de Cocais: placa que se desprendeu de talude tinha 600 metros quadradosDependente químico morre asfixiado após ser encaminhado a uma clínicaNo início da tarde, o tenente-coronel Flávio Godinho, da Defesa Civil de Minas, a Vale informou que o desplacamento ocorreu por volta das 5h. “Foi um desprendimento de uma parte insignificante, segundo o empreendedor, que caiu dentro da cava e ali ele foi acondicionado e não trouxe nenhuma característica de gatilho ou possível tremor que viesse a ter consequências na Barragem Sul Superior”, destacou. “As ações continuam de monitorar, de acompanhar cada situação, já era previsto que esse talude poderia romper na sua totalidade ou partes dele e isso vem concretizando a cada dia que aumenta a velocidade desse deslocamento”, pontuou o militar.
Entenda o risco
De acordo com a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec), o cenário mais provável é que ocorra um deslizamento com assentamento gradual do talude no fundo da cava da mineração, o que pode preservar a barragem. A cava, que é o local de onde se extraiu o minério, tem cerca de 110 metros de profundidade, sendo que a água acumulada dos lençóis freáticos e chuva está ao nível de 50 metros. O paredão em movimento apresenta inúmeras erosões, trincas e fissuras. Uma boa parte se encontra submersa. “Uma das possibilidades de ter ocorrido essa fragilização foi justamente a perda de água, que ajudava a manter a estrutura no lugar”, disse o major Marcos Afonso Pereira em matéria do Estado de Minas publicada na edição desta sexta.
O talude que está ameaçando ruir tem 10 milhões de metros cúbicos. Segundo a Cedec, cálculos dos engenheiros contratados pela Vale para o monitoramento dessa estrutura mostram que a cava da mina pode comportar duas vezes e meia o volume do paredão. Há possibilidade de o paredão escorregar aos poucos, já que as movimentações são irregulares. É possível que o material se deposite de forma lenta e gradual no fundo, sem causar estragos. O pior cenário é um descolamento repentino da placa, que pode causar uma onda de choque capaz de fazer com que os rejeitos da Barragem Sul Superior iniciem um processo de liquefação e façam romper o represamento. (Com informações de Mateus Parreiras)
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