Aplauso para uma das mais antigas salas de espetáculos do país e, na mesma “grande plateia” de admiradores e defensores do patrimônio cultural, expectativa para o próximo ato: o término da restauração. O Teatro Municipal de Sabará, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, completa amanhã 200 anos, mas só em setembro as cortinas deverão se abrir para a festa de reinauguração. Com obras iniciadas em outubro de 2016 e valor total da intervenção estimado em R$ 2,6 milhões – recursos do PAC Cidades Históricas, do governo federal –, o bem tombado desde 1963 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) recebe, agora, os serviços finais.
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Na tarde de ontem, era possível ver os trabalhadores em cena e entregues aos serviços no teatro em estilo elisabetano, inaugurado em 2 de junho de 1819, chamado originalmente Casa da Ópera e localizado na Rua Dom Pedro II, no Centro Histórico. A arquiteta Milene explica que no período de restauro houve recuperação do piso, pois muitos barrotes estavam podres; imunização da madeira, tendo em vista o ataque de cupins; substituição do forro de palhinha; restauro de portas e janelas e adequação da acessibilidade. Nesse último aspecto, explica, foram instaladas duas plataformas, tanto no acesso do público como no fundo do palco, para ligá-lo ao camarim.
“Estamos todos, na cidade, ansiosos para a reabertura. Alguém sempre pergunta que dia o teatro vai abrir, pois há uma história muito intensa com Sabará e Minas. Ele sempre foi palco de arte e cultura e também de fatos políticos importantes, em especial no período da abolição”, diz o pesquisador da história local José Bouzas.
O público terá à disposição banheiros com acessibilidade, da mesma forma que os atores que ocuparem os camarins. De acordo com a assessoria da prefeitura, a administração ficará a cargo da Secretaria Municipal de Cultura, também responsável pela programação ao longo do ano. “O Teatro Municipal de Sabará é uma valiosa edificação para a história de Minas. Sediou grandes momentos das artes no estado, recebendo importantes grupos teatrais desde meados do século 19 e passa agora por uma importante obra de restauração promovida pelo Iphan”, afirma o diretor do Departamento de Projetos Especiais do órgão, Robson de Almeida,
PANO DE BOCA Quem já assistiu a um espetáculo no Teatro de Sabará, com 400 lugares, sabe que o espaço é obra de arte genuína, tanto que recebeu a visita dos imperadores dom Pedro I (1798-1834), em 1831, e dom Pedro II (1825-1891), em 1881. Embora sem as cadeiras e ornamentos, em função da pintura, dá gosto ver a sala em forma de ferradura, com vasto palco elevado e ótima visibilidade. Conforme os relatos e pesquisas, há três andares de camarotes, com detalhes que enriquecem a história: “As portas de entrada pertenceram à antiga cadeia.
As pinturas do pano de boca, no entanto, desapareceram com o tempo, lamenta Bouzas.
Nesse ambiente, os operários fazem seu trabalho e os moradores têm orgulho em dizer que, nesse palco, com “uma das melhores acústicas da América”, se apresentaram artistas renomados, a exemplo de Paulo Gracindo, Ítala Nandi, Arthur Moreira Lima, Belchior, Roberto de Regina, Nelson Freire, Clementina de Jesus, Jackson Antunes, Felipe Silvestre, Marco Antônio Araújo e Maria Lúcia Godoy. Placas na entrada indicam reformas em 1970, 1983 e 1996 e informam que, há 32 anos, a propriedade do prédio passou do estado para a prefeitura.
De acordo com as pesquisas, a antiga Casa da Ópera de Sabará é considerada “um dos mais interessantes edifícios de Minas, principalmente por ser o teatro um programa pouco comum na época de abertura”. Em 1831, viveu grandes momentos com a visita do imperador dom Pedro II. Sabe-se que o teatro foi erguido em terreno pertencente ao alferes Francisco da Costa Soares, com a constituição de uma sociedade anônima da qual o povo participou e reuniu recursos para a obra. Diz um documento que “aos poucos, os cotistas proprietários do teatro foram doando suas ações à Santa Casa de Sabará, que mantinha a maioria das cotas na ocasião de seu tombamento em 1963.
Cobrança de recursos Há pouco mais de dois anos, em 25 de maio de 2017, o Estado de Minas publicou uma matéria sobre o atraso na obra do Teatro Municipal de Sabará, ocasionado, conforme denúncia da prefeitura, pelo não repasse, na época, de duas parcelas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A medição (serviço concluído) feita em março daquele ano e totalizada em R$ 75 mil ainda não havia sido paga, mesmo com a vistoria feita pelo Iphan, o que deixava as autoridades municipais preocupadas com o cronograma. O mesmo ocorria com outra parcela de R$ 106 mil, cuja medição ocorrera em 19 de maio e ainda estava sem vistoria.