No Dia Mundial do Meio Ambiente, quando eventos destacam a necessidade de preservação da natureza e dos recursos hídricos, um grito de alerta vem das margens de um dos principais mananciais do país. No município de São Francisco, no Norte de Minas, município batizado com o mesmo nome do rio da integração nacional, a falta de coleta de lixo ameaça diretamente o Velho Chico. Moradores denunciam que a sujeira espalhada pelas ruas está chegando aos córregos e tende a ser carreada para o leito principal. Diante da situação, estudantes preparam para a manhã desta quarta-feira uma passeata para denunciar a ameaça. Também haverá um mutirão de limpeza nas margens do rio.
De acordo com moradores, a coleta regular de lixo em São Francisco foi interrompida há mais de um mês. Desde 17 de abril a empresa contratada para a limpeza pública paralisou o serviço, alegando atraso nos pagamentos por parte do município. Em 30 de abril o contrato com a empresa venceu e não foi renovado.
“Sem coleta do lixo em vários bairros, a cidade está sofrendo com o aumento de bichos como ratos, baratas e escorpiões. A questão virou um problema de saúde pública”, denuncia um morador, que preferiu não se identificar. Ele afirma que o lixo está sendo amontoado em locais próximo ao Rio São Francisco, representando uma séria ameaça para o curso d'água, que já sofre com várias formas de degradação. “A orla do rio, que era um cartão-postal da cidade, ficou feia”, lamenta o morador.
“A cidade está tomada de lixo e mato”, reforça o advogado Eduardo Leal de Melo, também morador da cidade. Segundo ele, a coleta ficou totalmente interrompida por cerca de 30 dias. Depois disso, afirma, a prefeitura retomou a limpeza pública, mas de forma precária. O advogado informou que entrou com representação no Ministério Público Estadual para que o Executivo municipal seja responsabilizado pelas falhas no serviço de coleta e por danos à saúde pública.
O empresário Danilo de Matos Cangussu, diretor-executivo da empresa Reviver Ambiental, que fazia a limpeza pública na cidade, disse que em 17 de abril foi “obrigado” a interromper o serviço, porque a firma não recebia havia quatro meses. “Notificamos a prefeitura de que teríamos que suspender o serviço, mas o município não nos procurou para resolver a situação”, disse. Cangussu afirma também que comunicou à gestão municipal de que o contrato venceria no fim de abril. No entanto, alega, a prefeitura não manifestou interesse na prorrogação, optando por “medida paliativa” para manter a limpeza urbana.
O empresário afirmou que administração municipal, no início de maio, por meio de licitação promovida pelo Consórcio Intermunicipal da Área Mineira da Sudene (Cimams), contratou outra empresa para fazer a coleta, mas alega que a firma “não é capacitada” para o serviço, “que exige projeto de engenharia básica”.
Ouvido pelo Estado de Minas, o chefe de gabinete da Prefeitura de São Francisco, Aldir da Silva Ramos, alegou que o município rompeu o contrato com a empresa Reviver Ambiental porque o serviço de limpeza havia sido contratado por um valor muito alto na gestão anterior. “A prefeitura não estava dando conta de pagar pelo serviço”, argumentou, reconhecendo falhas na situação atual. “A nova contratada ainda está se adequando às necessidades do serviço”, disse. Mas ele assegurou que a empresa adquiriu dois caminhões compactadores e que, com a chegada dos equipamentos, a limpeza na cidade deve ser regularizada a partir de amanhã.
LIMPEZA E PROTESTO Hoje, em comemoração ao Dia Mundial do Meio Ambiente, um grupo de alunos dos cursos de história e matemática do câmpus da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) em São Francisco, junto com estudantes de escolas de ensino fundamental e médio, vão promover um mutirão de limpeza na orla do rio na cidade. Depois, está prevista uma passeata até a porta da prefeitura. Com cartazes e faixas, eles pretendem chamar atenção para a necessidade do fim do desmatamento, recuperação de nascentes e revitalização do Velho Chico. Também organizam um ato de protesto contra as falhas na limpeza urbana.