As obras de revitalização do Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, deixaram o terminal moderno e maior. Empresas aéreas passaram a abrir novos voos com destinos diferentes do que já existiam. Além de atrair os turistas, a modernização atiçou também criminosos. Traficantes de drogas vêm usando o terminal para tentar distribuir os entorpecentes pelo país e no mundo. De janeiro a 3 de junho deste ano, a Polícia Federal (PF) conseguiu apreender 56% a mais de cocaína do que todo o volume registrado no ano passado. E o número de comprimidos de ecstasy retidos já é o quíntuplo do total de 2018. Novos voos, especialmente para os Estados Unidos e Europa, estão por trás do aumento, avaliam especialistas. Além disso, eles citam como hipótese para a alta a fuga de outros terminais brasileiros em que a fiscalização já está mais intensa, como em São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal.
Nos primeiros seis meses deste ano, foram registradas ao menos sete ocorrências de tráfico de drogas no aeroporto de Confins pela Polícia Federal (PF). Elas resultaram na prisão de seis pessoas. Em uma das fiscalizações, uma mala com entorpecentes foi encontrada, mas estava sem passageiro vinculado. Os voos que transportavam as bagagens e os passageiros vieram de diferentes partes do país e do mundo. Dois dos presos desembarcaram de voo de Porto Velho, um de Manaus, outro de Tabatinga, uma do Rio de Janeiro, mas que fez escalas em Bruxelas, e outro que sairia do Brasil com destino a Lisboa, em Portugal.
Já a última apreensão ocorreu na última segunda-feira. Uma confeiteira, de 27 anos, foi detida ao desembarcar no terminal com 15 quilos de skunk, droga mais potente que a maconha, escondidos em uma mala. A ação dos policiais federais contou com a ajuda de cães farejadores. De acordo com a PF, a passageira saiu de Porto Velho, capital de Rondônia, e seguia para o Rio de Janeiro. Ao desembarcar no aeroporto internacional de Confins, onde fez uma conexão, acabou sendo flagrada pela fiscalização. Um cão farejador indicou a mala como um possível local onde estaria algo ilícito. Os agentes fizeram as buscas e encontraram os 15 quilos de skunk escondidos na mala da confeiteira, que é natural de Manaus.
FUNCIONÁRIOS NA MIRA
Uma das ocorrências chama a atenção e pode indicar a participação de funcionários de empresas aéreas no esquema do tráfico de drogas. Em 20 de maio, a PF apreendeu 34 quilos de cocaína em uma mala que estava despachada em um voo rumo a Portugal, porém sem passageiro vinculado. O objeto estava etiquetado em nome de uma pessoa que já tinha voado havia dois dias e, portanto, não tem relação com o caso, segundo a PF. A droga foi descoberta durante fiscalização de rotina por meio de aparelho de raios x. No dia do caso, a PF afirmou que não houve prisões em flagrante nem interrogatórios, mas a BH Airport, concessionária que administra o terminal em Confins, relatou prisões de “trabalhadores de empresas terceirizadas contratadas pelas companhias aéreas”, que “não pertencem aos quadros de colaboradores da concessionária”. Um inquérito apura o fato.
Dados da PF mostram que a apreensão de algumas drogas está aumentando nos últimos anos. A mais significativa é a cocaína. Em 2016, foram 12,03 quilos (kg) retidos. No ano seguinte, o número aumentou para 17,95kg. Em 2018, subiu novamente e passou para 24,66kg. Somente nos primeiros seis meses de 2019, foram retirados de circulação no aeroporto de Confins 39,20kg, um aumento de 56% em relação ao ano passado, e três vezes mais do que o total registrado em 2016.
Aumento de apreensões também pode ser visto em relação ao ecstasy. Neste ano, já foram encontrados 50 mil comprimidos no terminal, quase cinco vezes a mais do que no ano passado inteiro, quando foram apreendidas 10.306 pílulas. Em 2017, foram 71.754 ecstasys encontrados. Em 2019, também houve apreensão de 29,3kg de skunk, 4kg de haxixe e 11kg de maconha.
NA ROTA
O aumento da apreensão de drogas pode estar ligado com o investimento nas fiscalizações, mas também com uma procura pelos traficantes de drogas para espalhar o produto pelo Brasil e outros países. “Sem dúvida, o fato de ser um aeroporto internacional, fazer conexões com todo o Brasil e incluir duas rotas fundamentais, a Europa e os Estados Unidos, coloca o terminal como potencial na rota do tráfico internacional”, explica Robson Sávio, integrante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
O especialista cita ainda outra possibilidade: de as quadrilhas estarem migrando para outras rotas devido ao aumento da fiscalização. “Temos alguns locais que podem estar visados, como São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal, com muitos equipamentos e maior vigilância. Então, pode ser um grande fator”, comentou. Segundo ele, Minas Gerais também é rota do tráfico de drogas pelas estradas. “Temos um estado que tem a maior malha viária do país e faz divisa com vários estados, além de interligar o Sul e o Sudeste ao Nordeste”, completou.
O Estado de Minas questionou a BH Airport, concessionária responsável pela administração do aeroporto internacional de Confins, sobre as apreensões de drogas. A empresa informou que o assunto deve ser tratado com a PF. A reportagem fez vários questionamentos à corporação, que não foram respondidos até o fechamento desta edição.