Enquanto a Polícia Federal registra aumento da quantidade de cocaína apreendida no Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, na Região Metropolitana de Belo Horizonte – como o Estado de Minas mostrou na sua edição de ontem –, as demais autoridades da segurança pública também observam crescimento nas apreensões da mesma droga em Minas Gerais.
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Tráfico de cocaína em Confins já é 56% maior do que em todo o ano passadoPolícia desmantela quadrilha que traficava drogas por aplicativo em MinasApreensões de maconha nas BRs mineiras em seis meses superam todo ano passadoPolícia encontra quase 800 pinos de cocaína em casa de Santa LuziaLaboratório para fabricação de ecstasy é encontrado em apartamento na Região Centro-Sul de BHOperação termina com 1,3 tonelada de maconha apreendida em UberlândiaMesma situação é verificada nas estradas de Minas sob a responsabilidade da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Em 2017, os agentes que fiscalizam grandes BRs do estado, como 040, 381 e 262, apreenderam uma média mensal de 16 quilos da droga, valor que chegou a 20 quilos, em média por mês, em 2018, e já subiu para 26 kg por mês de janeiro a maio de 2019 (veja quadro).
Os dados das polícias Civil e Militar mostram que, em números absolutos de ocorrências, de janeiro a março deste ano, foram mais casos de apreensão de drogas em geral. Enquanto no primeiro trimestre do ano passado foram 18,1 mil casos, esse número cresceu 1,06%, chegando a 18,3 mil. O que mais chama a atenção é o movimento das apreensões de cocaína nos últimos 5 anos. Enquanto em 2015 as ocorrências em que policiais apreendiam essa droga eram quase 20% do total, ano a ano esse percentual foi crescendo, chegando a 24,33% no primeiro trimestre de 2019.
Para o delegado Rodolpho Tadeu Machado, do Departamento Estadual de Combate ao Narcotráfico (Denarc), essa situação pode ser explicada com uma mobilização maior dos órgãos de segurança para atuar fora das chamadas “bocas”, que são os locais onde as drogas são comercializadas no varejo.
“Existe uma organização para o combate durante a logística de transporte e não só pontos de venda”, afirma o policial. Machado também aponta que a pasta base de cocaína é desdobrada em quantidades maiores, o que pode explicar mais ações voltadas à apreensão dessa droga. “Os traficantes usam a cocaína para desdobrá-la em pequenos laboratórios. Então 1kg de pasta base rende mais do que 1kg de maconha, por exemplo”, completa Machado. O Denarc passou por reestruturação em fevereiro e conta com um número maior de policiais com mais qualificação para atuação na apreensão de drogas.
O major Flávio Santiago, porta-voz da Polícia Militar, destaca que o quilo da pasta base chega ao Brasil cotado entre R$ 6 mil e R$ 10 mil e o traficante consegue quadruplicar esse valor quando ela é desdobrada no aspecto pó e também em outras drogas, como crack. “O serviço de inteligência das polícias tem trabalhado muito nisso”, diz o militar. Santiago pontua ainda que a PM tem investido mais pesado em qualificar seu próprio setor de inteligência para favorecer a atividade de repressão.
“Trabalhamos com geoprocessamento em nível de abordagens e em pontos específicos, monitorando as rotas, e instrumentalizando o poder público, no caso a Polícia Militar, para atuar em abordagens sistemáticas e, consequentemente, fazer essa apreensão”, acrescenta.
ESTRADAS
Nas rodovias que cortam Minas Gerais, o crescimento das apreensões de cocaína é medido no peso da droga que sai da mão de traficantes e tem seu transporte barrado pela Polícia Rodoviária Federal (PRF). De acordo com a corporação, em 2017 foram 193 quilos da droga apreendidos nas BRs sob a responsabilidade da PRF no estado, o que dá uma média de 16 quilos todos os meses.
Em 2018, essa quantidade subiu para 247 quilos, chegando à média mensal de 20kg no ano passado. Em 2019, já são 130kg entre janeiro e maio, o que significa 26kg todos os meses, em média, retirados das mãos dos traficantes. Em um dos últimos trabalhos que contribuíram para esse resultado, 44 quilos de pasta base foram apreendidos dentro de um fundo falso em uma cegonheira, parada por policiais na BR-381, em Betim, na Grande BH, na terça-feira. O condutor do caminhão, que tinha apenas dois veículos na carroceria, confessou que pegou a droga no Triângulo Mineiro e a levaria para Belo Horizonte.
O veículo em questão já constava como suspeito, conforme ação conjunta entre a PRF e a Polícia Civil do Mato Grosso do Sul. A troca de informações entre as agências é um dos fatores que contribui para o resultado de maior apreensão de drogas nas estradas mineiras, levando em consideração também a maconha. Em cinco meses, já foi apreendida quase a mesma quantidade de todo o ano passado.
Mas um fator decisivo é o trabalho de cães farejadores no estado. Seis animais compõem um grupo itinerante que roda pelas 18 delegacias do estado e outros dois ficam exclusivamente na BR-381, em Pouso Alegre, no Sul de Minas. Outra situação é a atuação dos policiais integrantes do chamado Grupo de Policiamento Tático (GPT), que estão presentes nas principais delegacias mineiras e são treinados com as técnicas de abordagem focadas nas situações criminais, como a apreensão de drogas. “Hoje posso afirmar que esse trabalho é muito mais profissionalizado. Tenho policiais especialistas em compartimentos secretos, tenho o canil e a inteligência fluindo melhor e trocando informações com outras agências”, afirma.
O inspetor destaca que a PRF sabe que a rota das drogas, incluindo a cocaína e a maconha, passa pelo Triângulo Mineiro quando vem em grandes quantidades. Em volumes menores, existe uma rota importante que usa os ônibus de viagem entre o estado de São Paulo e o Nordeste do Brasil. Mas carros de passeio também são alvo de fiscalização. Na semana passada, a PRF apreendeu cerca de quatro quilos de pasta base de cocaína escondidos no para-choque de um carro na BR-365, em Uberlândia, no Triângulo..