Jornal Estado de Minas

Hospital e bombeiros fazem alerta sobre queimaduras em Belo Horizonte



Dois mil atendimentos por ano, dos quais 500 levam a internações com permanência superior a 30 dias. Os números são do Centro de Tratamento de Queimados do Hospital de Pronto-Socorro João XXIII, referência nos primeiros socorros e no tratamento de vítimas desse tipo de acidente. As queimaduras exigem tratamento complexo, de longa duração, e com frequência deixam sequelas. As que atingem grandes áreas do corpo têm alto grau de letalidade.

Em ação no Dia Nacional de Combate e Prevenção a Queimaduras – 6 de junho –, o CT do João XXIII e o Corpo de Bombeiros reuniram voluntários no Parque Municipal Américo Reneé Guiannetti, no Centro de BH, para chamar a atenção da população para os riscos e como prevenir acidentes, mas também das autoridades sobre a necessidade de uma campanha preventiva permanente. “Em torno de 52% de queimaduras ocorrem no ambiente doméstico e 90% poderiam ser evitadas”, alerta Daniela Melo, coordenadora de enfermagem do CT.

As crianças são as principais vítimas das queimaduras de escaldaduras (líquidos com altas temperaturas) e entre os adultos a principal causa é o mau uso de álcool líquido. “É preciso que as pessoas saibam como acender uma churrasqueira adequadamente e que os cabos de panela devem estar sempre voltados para o lado de dentro do fogão. Para crianças menores, e em tempos frios, é comum as mães colocarem água quente primeiro para depois temperar a água do banho em banheiras e bacias, o que leva a acidentes. São também frequentes queimaduras ligadas à rede elétrica: crianças que colocam objetos nas tomadas ou até mordem os fios, alerta o sargento Mauro Ribeiro, do 1º Batalhão do Corpo de Bombeiros, que levou uma equipe para demonstrações que incluíram utilização correta de utensílios domésticos como ferro elétrico, ebulidor, gás de cozinha e panelas de pressão.

A médica Kelly Danielle, coordenadora do centro de tratamento de queimados e cirurgia plástica do João XXIII ressaltou o grande número de óbitos resultantes de grandes queimaduras.
“O tratamento é complexo, temos somente um centro de referência no estado e precisamos muito engajamento do poder público para ampliar esse atendimento. Trabalhamos sempre além da nossa capacidade”. Ela explicou que o tratamento envolve várias cirurgias, “às vezes duas na mesma semana”, até se atingir a fase de limpeza da pele necrosada e só então dar início às reconstruções, que são feitas com a pele do próprio paciente”, para evitar rejeição. Quando a perda é muito grande, o tecido é retirado de outra parte do corpo e pode ser expandida em até nove vezes.

Kelly chamou a atenção para os primeiros socorros em caso de queimaduras, enquanto se aguarda a chegada de atendimento profissional. “Água fria é o que alivia a dor no primeiro instante. Nunca se deve passar nada, nem pasta de dentes, borra de café ou qualquer outro produto”, alerta.

Experiência dramática


A dona de casa Coleta Maria Ribeiro Lutkenhause, de 68 anos, morava em São Gotardo, região do Alto Paranaíba/Triângulo Mineiro, quando, aos 4 anos e meio de idade teve um terço de seu corpo queimado. Ela contou que brincava com uma caixinha de fósforos, e um único palito incendiou suas roupas.
“Com a mão direita eu tentava apagar e corri para a minha mãe, que me viu em chamas e usou um cobertor para abafar o fogo. Quando tirou (o cobertor), minha pela saiu”. À época eram poucos os recursos para tratamento e o médico que a atendeu usou pó antisséptico, cobriu os ferimentos com ataduras e orientou os familiares a trocar os curativos amolecendo com água. A infecção foi inevitável. Ela perdeu quatro dedos da mão direita.

Coleta mudou de médico e de tratamento e, aos poucos, a pele foi se recuperando, mas foram necessárias inúmeras cirurgias. Ontem, ela particiou de teatro no parque sobre o perigo do fogo, do álcool, de panelas, cabos elétricos e de se falar ao celular ligado à rede elétrica..