Já pensou em programar um filho com olhos azuis? Entre avanços e incertezas sobre a mutação genética, a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) promove, nesta terça-feira, um simpósio para debater a técnica de edição de genomas. O evento aberto ao público vai discutir os avanços para a saúde humana e suas implicações éticas e regulatórias.
De acordo com a professora titular do Departamento de Bioquímica e Imunologia, esta é uma oportunidade para que a sociedade participe e entenda as discussões que permeiam a alteração genética em seres humanos. “Não pode deixar só na mão do cientista. É necessário mostrar para a sociedade que esse é um debate importante e que ela precisa estar envolvida”, disse Santuza Teixeira.
Na programação, duas mesas-redondas vão abordar os recentes avanços da edição de genomas, as promessas e controvérsias da manipulação genética em humanos e em embriões, além dos limites éticos e questões legais relacionadas a pesquisas da área.
A professora contou que, em novembro de 2018, um pesquisador chinês modificou o genoma de um embrião, o que trouxe à tona a questão ética na sociedade científica sobre essas mudanças. “Alguns países proíbem isso, o que abre um debate para questionar se a gente deve ou não fazer isso, pois estamos falando de seres humanos. Como regulamentar isso? E qual a punição para quem fizer?”, argumentou Santuza.
Alguns cientistas defendem que a edição de genomas pode eliminar doenças genéticas e até alterar características dos seres humanos, como, por exemplo, definir a cor dos olhos de um bebê. “Do mesmo jeito que você pode evitar doença, pode ter olho azul, por exemplo”, explicou Santuza. O problema é que a tecnologia ainda passa por processos de teste em todo mundo.
“O método ainda não está totalmente testado para garantir que vai alterar somente um gene, então pode ocorrer de alterar outra característica sem querer, podendo alterar o trabalho de outros genes. Você acha que está causando só um efeito, mas vai que ele tem outra função importante”, alertou a pesquisadora.
O cuidado que se deve tomar com a edição de genomas, abre espaço no simpósio para pessoas que estão trabalhando com essas tecnologias. “E além deles, o evento ainda conta com especialista do direito para saber o que o Código Civil diz sobre isso, e com especialista em filosofia para debater o que isso representa para o ser humano”, contou Santuza.
Mais sobre a técnica
O evento vai abordar o emprego da técnica CRISPR (Palindrômicas Curtas Agrupadas e Regularmente Interespaçadas), baseada em um sistema natural de modificação do genoma em bactérias.
Os cientistas descobriram que as bactérias capturam fragmentos de DNA de vírus invasores e os inserem no meio de sequências de DNA conhecidas como CRISPR. As matrizes CRISPR, que funcionam como banco de memória, possibilitam que as bactérias "se lembrem” dos vírus que as infectaram no passado. Assim, caso os vírus ataquem novamente, a técnica impedirá sua replicação.
Nos últimos sete anos, a técnica tem revolucionado o campo da genética. Por ser extremamente eficiente, de rápida aplicação e baixo custo, ela passou a ser largamente empregada por cientistas na edição de genes de microorganismos, plantas, animais ou em humanos, incluindo a modificação do genoma em células germinativas e em embriões.
Entretanto, sua aplicação esbarra em aspectos éticos e de biossegurança, uma vez que ainda não há estudos suficientes sobre os impactos da edição de genes para as gerações futuras ou se o uso da técnica pode gerar mutações genéticas prejudiciais à vida no Planeta.
Serviço:
Evento: Simpósio Edição de genomas com CRISPR: avanços para a saúde humana e suas implicações éticas e regulatórias
Data: 11/6/2019
Horário: A partir das 13h
Local: Auditório nobre da Escola de Engenharia, campus Pampulha.
* Estagiária sob supervisão da subeditora Ellen Cristie.