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Estado de Minas

Celulares são flagrados mais uma vez em alimentos fornecidos por empresa a presídio

Os aparelhos estavam em marmitas destinadas aos presos. A alimentação na penitenciária está a cargo da Eldorado Refeições. Em 2012, telefones foram encontrados junto com pães que seriam entregues na penitenciária pela mesma empresa


postado em 14/06/2019 06:00 / atualizado em 14/06/2019 17:25

Nelson Hungria, onde presidiários vêm usando celulares para cometer crimes, entre eles 28 extorsões mediante sequestro desde 2018 até quarta-feira(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press - 25/4/18)
Nelson Hungria, onde presidiários vêm usando celulares para cometer crimes, entre eles 28 extorsões mediante sequestro desde 2018 até quarta-feira (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press - 25/4/18)

Agentes da Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, impediram a entrada de quatro celulares no complexo. A mercadoria estava em marmitas que seriam entregues aos presos no almoço de ontem. Além dos aparelhos eletrônicos, ainda foram encontrados seis carregadores, dois pen drives, quatro chips, uma antena para celular e quatro comprimidos. A Secretaria de Administração Prisional de Minas Gerais (Seap-MG) não informou sobre os componentes do comprimido nem o conteúdo dos pen drives localizados.  

De acordo com a pasta, os materiais eletrônicos não chegaram a entrar na penitenciária, já que foram apreendidos durante o procedimento-padrão de revista das marmitas. A entrega dos alimentos é de responsabilidade da Eldorado Refeições Ltda, empresa que fornece café da manhã, almoço, lanche e jantar à penitenciária todos os dias. A Seap informou que a empresa tem contrato com o governo de Minas desde 7 de novembro de 2018 e é responsável pelo fornecimento de alimentação em cinco unidades prisionais, sendo quatro na Grande BH e uma no Triângulo Mineiro. 

Essa não é a primeira vez que a Eldorado Refeições Ltda tem seu nome associado à entrada de celulares na Penitenciária Nelson Hungria. Em abril de 2012, o centro de inteligência da penitenciária impediu o ingresso de 173 chips e 18 celulares na unidade. Na ocasião, os produtos eletrônicos estavam dentro de um carro e seriam entregues junto com pães de sal destinados aos presos.

Na época, a Eldorado Refeições Ltda alegou que os veículos usados para transporte costumavam pernoitar em um local de livre acesso ao público em geral. De acordo com a empresa, seus funcionários eram responsáveis apenas pelo transporte e manutenção dos alimentos e não pela fiscalização de pátios de estacionamento ou revistas de veículos.

Ontem, a reportagem tentou contato pelo menos três vezes com a empresa, mas em todas as ocasiões a ligação foi interrompida logo após o repórter se identificar e anunciar o objetivo do telefonema. Um e-mail foi enviado à empresa, mas até o fechamento desta edição também não tinha sido respondido. A entrega de refeições na Nelson Hungria, via marmitex começou neste ano. Até 31 de dezembro, a alimentação distribuída era produzida na cozinha da penitenciária pelos próprios presos.

Na época da terceirização, a decisão foi bastante criticada por especialistas, que apontavam queda na qualidade da alimentação dos presos com a mudança de regime. As críticas continuam. “Além de retirar o emprego dos detentos que trabalhavam na cozinha da penitenciária, há uma queda da qualidade da alimentação; os agentes penitenciários e os presos têm reclamado bastante”, afirma o advogado Fábio Piló, ex-presidente da Comissão de Assuntos Carcerários da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MG).A reclamação se baseia na qualidade dos alimentos, já que as empresas responsáveis pela fabricação e fornecimento dos marmitex são privadas e na visão dos especialistas tendem a objetivar o lucro.   

USO NO CRIME Na quarta-feira, a Polícia Civil anunciou a prisão de cinco pessoas suspeitas de participarem de uma quadrilha chefiada por Breno Henrique Gonçalves de Barcelos, de 27 anos, preso da Nelson Hungria. De acordo com as investigações, o presidiário se passava por vendedor de gado em um grupo de WhatsApp e encaminhava vários vídeos anunciando um suposto lote de bezerras.

Em uma das ocasiões, ele conseguiu atrair o filho de um fazendeiro do Norte de Minas, que fez a negociação de 120 bezerras a R$ 850 cada uma. A partir daí, eles combinaram de conferir os animais na cidade Pitangui, mas chegando lá, a vítima, que estava acompanhada de seu pai e um intermediador, foi surpreendida pelos sequestradores. 

Segundo a Polícia Civil, pelo menos 28 casos investigados pela Delegacia Antissequestro do Departamento Estadual de Operações Especiais de janeiro de 2018 até maio deste ano tinham comando ou participação de algum preso da Nelson Hungria. 

Comida denunciada


Em 28 maio, o Estado de Minas publicou uma reportagem na qual representantes do Sindicato dos Agentes Penitenciários de Minas Gerais (Sindasp-MG) denunciavam comidas estragadas e até com insetos distribuídas em ao menos duas penitenciárias do estado. Além da Nelson Hungria, a Professor Jason Soares Albergaria, em Betim, também estaria recebendo alimentação de má qualidade. Segundo Adeilton Souza Rocha, presidente do Sindasp-MG, as denúncias por parte dos agentes penitenciários vêm crescendo.

“De quatro meses para cá (o problema) está ocorrendo de forma assustadora. Na gestão passada, o estado começou a terceirizar as cozinhas para diminuir gasto e otimizar recursos. Então, elas saíram de dentro das unidades prisionais”, explicou Rocha, no fim de maio. A Seap administra 197 unidades prisionais em todo o estado. Em cerca de 9% das unidades a alimentação dos presos é feita na cozinha da própria unidade. 

*Estagiário sob supervisão da subeditora Rachel Botelho
 


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