Jornal Estado de Minas

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Usuários de transporte por aplicativo fazem apelo por mais segurança

Iori Takahashi, coordenador do Movimento dos Motoristas por Aplicativo da Grande BH, defende maior rigor para garantir segurança de usuários - Foto: Beto Novaes/EM/DA Press - 31/8/18 A chegada dos aplicativos de transporte de passageiros nas principais capitais do país e a multiplicação dos cadastros dos motoristas trouxe consigo um efeito colateral, sentido especialmente por mulheres que usam o serviço, em forma de assédio e até casos de violência mais grave, como estupros. Denúncias dão conta até de motoristas dirigindo carros a serviço de apps com tornozeleiras eletrônicas. Outro problema que veio junto com a popularização dos apps foram os assaltos praticados contra os condutores, principalmente depois que as empresas responsáveis pelos aplicativos passaram a aceitar dinheiro como forma de pagamento.

A publicitária Isabella Corradi, de 26 anos, que atualmente mora em São Paulo, viveu em Belo Horizonte os dois lados da moeda dos aplicativos. Enquanto viu a rotina de sua família mudar pelos benefícios trazidos pela facilidade de deslocamentos, ela também passou por uma situação que a deixou muito assustada. Na casa dela, os três veículos da família foram reduzidos para apenas um, pela facilidade de deslocamento com os apps.

Usuária assídua da Uber, ela defende a continuidade do serviço, mas é totalmente favorável a uma regulamentação que traga padrões de segurança, como maior controle dos motoristas. Em março, Isabella conta que pegou um carro usando o app da Uber em shopping no Bairro Santa Efigênia, por volta de 1h30, depois que saía de um evento. Logo de cara, percebeu que o motorista começou a encará-la frequentemente pelo retrovisor, o que a deixou incomodada. “Já estava tensa por passar em uma área erma à noite, quando parou em um semáforo, virou o corpo para trás e me encarou.

Então, perguntei porque estava me olhando daquele jeito e ele respondeu que não era nada.”

A atitude se repetiu, o que assustou ainda mais a publicitária. “Ele não falava nada, só me encarava. Eu não sabia o que ele estava pensando. Quando cheguei, fiz vários stories no Instagram e a Uber entrou em contato comigo, dizendo que tomaria as medidas cabíveis e perguntando se eu queria denunciar. Como ele sabia onde eu morava, fiquei com medo e resolvi esquecer essa questão”, diz a publicitária.

MAIOR RIGOR Isabella diz que o episódio a fez mudar a atitude dentro dos carros por aplicativo, dando menos espaço para conversas e sempre escolhendo veículos de uma categoria acima da mais popular. “Tenho amigos que já viram motorista dirigindo com tornozeleira eletrônica. Eu acho que a Uber abriu a porteira para ganhar dinheiro e se preocupou pouco com a segurança do usuário.”

Relatos como o de Isabella não são pontuais e desafiam as empresas principalmente pela exposição negativa gerada a partir de uma denúncia de violência.
Para o coordenador do Movimento dos Motoristas por Aplicativo da Grande BH, Iori Takahashi, essa situação acontece pois há pouca preocupação com a escolha dos motoristas. Na Uber, por exemplo, ele diz que no início havia até a necessidade de comprovar bons antecedentes criminais, o que não acontece mais hoje em dia.

BLOQUEIOS “Defendo muito a livre iniciativa das empresas, mas nesse ponto eu acho que o Estado precisa impor regras que aumentem a segurança do usuário. É necessário ter critérios para eliminar pessoas que não estão preocupadas em prestar um bom serviço. É muito comum você ter conta falsa de motorista. Pessoas que foram bloqueadas e voltam com outros cadastros, gente que não quer pagar a taxa para ter atividade remunerada na CNH”, diz Iori. Segundo ele, a falta de critérios para o controle de motoristas é mais comum nas empresas Uber e 99pop.

Por meio de nota, a Polícia Militar, informou que “para coibir delitos em veículos, dentre outras medidas, são realizadas blitz de trânsito, abordagens, operações de batida policial e operações presença em grandes corredores”. A corporação ressaltou em BH tem 86 bases de segurança comunitária instaladas em pontos estratégicos da cidade e que a estratégia de policiamento tem refletido bons resultados, “uma vez que as estatísticas apontam para redução de 50,7% nos crimes de roubo a veículos quatro rodas em Belo Horizonte no período de janeiro a maio de 2019, em comparação ao mesmo período do ano passado”.

Empresa destaca mudança de hábito


Principal representante das empresas que oferecem o serviço de transporte de passageiros por aplicativo, a Uber destaca que em Belo Horizonte, assim como em outras cidades do Brasil, o maior volume de viagens ocorre no período noturno e aos finais de semana, justamente quando o trânsito está menos congestionado, e a oferta de transporte público é menor. “Em BH, a faixa a partir das 20h na sexta-feira é o período da semana que tem o maior número de viagens acontecendo simultaneamente.
Esse uso representa o impacto que os aplicativos, como a Uber, têm na mobilidade urbana”, informou a companhia.

Além disso, a empresa destacou que uma pesquisa do Observatório Nacional de Segurança feita pelo Datafolha em 2019 mostrou que 83% da população da Região Metropolitana de Belo Horizonte que consome bebida alcoólica passou a usar apps de mobilidade em vez de dirigir. A Uber pontua que essa situação é uma das ações a ser consideradas que contribuíram para reduzir o número de mortes na capital mineira, que passou de 273 em 2008 para 121 em 2017, último ano com dados fechados de trânsito disponíveis na cidade.

Sobre a qualidade dos veículos, pontuou que para ter a capilaridade necessária para alcançar a população fora das áreas centrais precisou de alternativas mais práticas e acessíveis, com preços equivalentes ao tipo de serviço escolhido. Em relação às denúncias de crimes praticados pelos motoristas, a Uber informou que mantém uma central destinada exclusivamente a receber esse tipo de denúncia. “Temos uma equipe que monitora essas informações e pode banir da plataforma usuários ou motoristas que tiverem uma média baixa de avaliações ou conduta que viole os termos de uso, como por exemplo, comportamento inapropriado ou perigoso.”

EQUIPE DE VIGILÂNCIA A 99pop informou, em nota, “que a empresa incentiva o acesso e integração de diferentes modais de transporte, facilitando o deslocamento das pessoas nos centros urbanos” e citou pesquisa feita pela Fipe/USP no ano passado, em São Paulo, na qual indicou que o serviço não impactava no tempo de viagem médio, porque a maioria dos usuários (85%) já andavam em veículos individuais (particular ou táxi). Em relação à segurança dos passageiros, disse que “a empresa possui uma equipe composta por mais de 100 profissionais dedicados exclusivamente à segurança”, como ex-militares, engenheiros de dados e psicólogos, além de adotar outras iniciativas, como câmeras de segurança nos veículos.

Em nota, a Cabify informou que “sempre buscou e busca construir uma cultura de diálogo e transparência com o poder público, a fim de desenvolver, junto com as autoridades e órgãos reguladores, uma regulamentação equilibrada e justa para todos os envolvidos no negócio.” Em relação à segurança no serviço, a empresa ressaltou que para se cadastrar, “o carro do condutor precisa estar em perfeitas condições e com a documentação em dia”. A empresa informou que “investe constantemente em tecnologias que ofereçam mais segurança aos seus parceiros”.

A série "Para onde vamos" começou nesse domingo. Leia o que já foi publicado:

Tecnologia x mobilidade: como os aplicativos de transporte afetaram o cotidiano de BH

Especialistas e usuários falam sobre os prós e contras dos patinetes em BH

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