Serragem, sabão em pó, areia, pó de café, corante, sal, farinha... São diversos os ingredientes que compõem a festa dos fiéis católicos nesta quinta-feira (20), dia de Corpus Christi. Na Avenida Afonso Pena, no Centro de Belo Horizonte, desde o início da manhã, centenas de pessoas decoram o asfalto. Entre elas, está um grupo de venezuelanos abrigados pela Arquidiocese de BH, que chamam a atenção de quem passa pelo local.
Confira a programação completa da Arquidiocese de Belo Horizonte nesta quinta-feira
Eles fizeram dois tapetes. Em um deles, é possível ver a combinação entre as bandeiras do Brasil e do país vizinho, que vive uma das maiores crises humanitárias da atualidade. O momento já forçou a migração de mais de 4 milhões de pessoas, segundo o último levantamento da Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados.
César Bandrés chegou no Brasil em dezembro do ano passado. Ele ficou em Boa Vista até semana passada, quando veio para a capital mineira. “O Brasil é país que nos acolheu muito bem, então queremos homenagear esta nação amiga com esses tapetes. É muito gratificante para nós ser tão bem recebido em um momento tão complicado”, contou o jovem.
Além dos venezuelanos, centenas de pessoas decoram o asfalto no aguardo da procissão arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo, atual presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). A solenidade está marcada para as 17h30.
Os tapetes da Afonso Pena vão desde a Igreja São José até a Igreja Nossa Senhora da Boa Viagem – dois templos históricos da Região Central de Belo Horizonte. “Para nós, é tudo. A eucaristia é o centro da nossa fé católica. É uma forma que nós temos de exaltar Jesus Cristo, seu corpo, sangue, alma e divindade, que expressamos através do tapete e da procissão”, conta Conceição Aparecida Oliveira, de 47 anos.
Com apenas 11 anos, Gustavo Araújo Costa ajuda o primo Gelber Soares a constituir um dos tapetes na Afonso Pena. “Eu estou gostando muito, porque vou fazer a primeira comunhão no sábado que vem. Estou ansioso”, conta a criança.
Membros do Encontro de Jovens com Cristo (EJC) da Boa Viagem, um grupo formado por quatro jovens homenageava os 10 anos de criança do EJC da paróquia. “Eu cheguei por volta das 8h30 e estamos fazendo dois tapetes, nos lotes 19 e 20. O primeiro comemora os 10 anos do EJC, ao lado de Nossa Senhora (Aparecida), e o outro é uma rosa, o lema do nosso grupo”, afirma o advogado Matheus Campos, de 24, que participa pela primeira vez da festa, classificada por ele como uma “experiência incrível”.
Brumadinho
A tragédia de Brumadinho, que nesta terça-feira (25) completa cinco meses, também foi lembrada. A ideia partiu da vendedora Ana Paula Silva, 27. O desenho se compõe a partir de cruzes, que lembram as vidas perdidas na catástrofe, e da serragem marrom, essa em alusão à lama despejada pela Barragem 1 da Mina do Córrego do Feijão.
“A gente quis retratar essas pessoas, que perderam suas vidas e famílias, e são nossos irmãos de certa forma. Eles são os nossos crucificados dos dias atuais”, explicou a fiel. “A natureza é nosso primeiro santuário. Através da natureza, Deus criou os demais santuários. A gente não poderia esquecer de Brumadinho neste momento”, ressaltou.
Corpus Christi
Tradução do termo ''Corpo de Cristo'' em latim, Corpus Christi celebra o dia em que Jesus instituiu o sacramento da eucaristia. De acordo com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a data se dedica à “presença real de Jesus Cristo no pão e no vinho consagrados”.
A festa foi instituída em 8 de setembro de 1264, quando o papa Urbano IV publicou a "Transiturus", uma bula papal sobre o tema. O texto, inclusive, teria sido escrito pelo filósofo e teólogo italiano São Tomás de Aquino. Apesar dos esforços, Urbano IV morreu em outubro do mesmo ano. Por isso, Corpus Christi só virou tradição em 1311, graças ao Concílio de Viena.