Enquanto os aplicativos de transporte continuam ganhando terreno no mercado e cada vez mais se consolidam como ferramentas prioritárias na hora de se pensar em deslocamento, a atuação dos taxistas nesse segmento ainda não engrenou, mesmo passados cinco anos da chegada dos apps particulares, como Uber, Cabify e 99pop. Os dois aplicativos, que chegaram a ser apontados como ferramentas para unificar os mais de 7 mil taxistas e estender a inovação a 100% da categoria, não estão funcionando. O TXS2, iniciativa do próprio setor, teve problemas técnicos e deve ser relançado em julho, de acordo com o presidente do Sindicato dos Taxistas (Sincavir), Avelino Moreira. Já um aplicativo oficial que chegou a ser cogitado pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) não saiu do papel. Dominantes no mercado de transporte individual até a chegada dos apps, os taxistas experimentaram redução de mais de 50% no movimento, segundo Avelino Moreira.
Iniciativas pontuais já existem no mercado da tecnologia para intermediar corridas exclusivas de táxi, mas não emplacaram da mesma forma que os apps privados. O mais esperado para agregar o maior número possível dos 7.156 táxis da cidade é o TXS2, opção liderada pelo Sincavir. O app chegou a ser lançado, mas segundo Avelino Moreira, teve problemas técnicos que impediram o funcionamento. “Alguns quesitos estão sendo reformulados e em breve ele vai atender de forma incisiva a população”, afirma Moreira, destacando que a previsão é de que até a primeira quinzena de agosto o app esteja na praça com surpresas que ele não quis adiantar. Em 2017, ainda no início da gestão do prefeito Alexandre Kalil (PSD), quando o chefe do Executivo municipal conheceu táxis do modelo híbrido, chegou a ser ventilada a possibilidade de a Prefeitura de BH encampar a criação de um aplicativo oficial do município, o que também não foi para frente.
Enquanto isso, os taxistas assistiram a uma queda vertiginosa nas corridas na cidade, que chegou a 50%, segundo Avelino Moreira. O preço das corridas dos aplicativos acabou mudando a lógica dos deslocamentos e transformou a profissão de motorista de app em um bico, na avaliação do sindicalista. “A pessoa normalmente está passando pelo serviço de aplicativo para fazer um bico. Ela entra e sai o tempo todo. Diferente do serviço de táxi, onde o taxista faz curso, tem certidões criminais negativas, passa por um controle rigoroso de quem é o condutor, conhece a cidade, entende de turismo”, diz ele. Por essa questão, Avelino defende que seja feita o mais rápido possível a regulamentação dos aplicativos, para trazer parâmetros que hoje já são aplicados aos táxis, como idade da frota, número de veículos e principalmente as questões de segurança do motorista e do passageiro. A partir daí a população terá condições, segundo Moreira, de escolher entre os diferentes serviços em pé de igualdade, em condições de equilíbrio.
Um dos itens previstos no projeto de lei de autoria do Executivo que tramita na Câmara Municipal e está pronto para ser votado em segundo turno na casa legislativa libera as faixas do Move para circulação dos taxistas. Para o presidente da BHTrans, Célio Freitas, essa é uma medida importante para a categoria. “Isso para nós é importante, porque como eu controlaria quem está entrando na faixa do Move? Nos preocupava muito a questão de segurança. Uma coisa é 7 mil táxis rodarem, sendo que nem todos estão naquele lugar ao mesmo tempo”, diz Freitas.
BIOMETRIA O presidente da BHTrans ainda lembra que existe uma iniciativa ligada à tecnologia que representa um benefício dos táxis em relação aos apps. Dos 7.156 táxis da cidade, 2.889 possuem biometria, o que garante a possibilidade de controle de jornada. “É uma coisa que queremos avançar. Com a biometria a gente consegue controlar a jornada do motorista para não ter aquela jornada excessiva. Coisas que os aplicativos hoje não oferecem. Pelo que a gente vê, a prática leva à exploração exacerbada do trabalhador”, completa Freitas. Essa situação foi mostrada pelo Estado de Minas entre as reportagens desta série de mobilidade, na quarta-feira.
Enquanto a regulamentação dos aplicativos esperada pelos taxistas para colocar os apps em pé de igualdade com táxis, condutores dos carros brancos continuam amargando baixo movimento. Carlos Roberto da Silva, de 64 anos, dos quais 40 como taxista, diz que o tempo de espera na fila de táxis da rodoviária de Belo Horizonte gira em torno de duas horas para uma corrida. “E essa corrida que estamos pegando varia de R$ 10 a R$ 15, porque quando é uma corrida longa eles preferem os aplicativos”, afirma Carlos.
Ele reforça a ideia de que os motoristas de apps fazem bicos e ficam expostos a longas jornadas para ganhar pouco. “Toda casa que tem uma garagem tem um carro no aplicativo e assim vai. É um procedimento em que eles não ganham e não deixam a gente ganhar”, afirma. Outro que defende a regulamentação dos apps é o taxista Geraldo Viana dos Santos, de 59. Ele também sentiu em cheio o impacto da concorrência a preços baixos. “Eu chegava a fazer até R$ 350 antes dos aplicativos e hoje gira em torno de R$ 120. A gente faz o que pode para tentar levar a vida”, afirma.
Faixas exclusivas
Na tentativa de garantir vantagens aos táxis em meio à guerra por corridas com os aplicativos, a BHTrans permitiu que eles circulem por algumas vias exclusivas de ônibus na cidade. Veja regras.
» Os táxis podem rodar nas pistas exclusivas do Move das Avenidas Antônio Carlos, Pedro I e Cristiano Machado. Nesta última, o trecho permitido vai do Viaduto Hélio Pelegrino, no Bairro São Paulo, à Rua Jacuí, no Bairro da Graça. Nesses endereços a circulação só é permitida com passageiros
» Os táxis não podem circular na pista exclusiva do Túnel da Lagoinha, nos viadutos de uso exclusivo do transporte coletivo e nas faixas exclusivas do transporte coletivo entre o Túnel da Lagoinha e a Avenida do Contorno.
Série de reportagens
Desde domingo o Estado de Minas publica a série "Para onde vamos", que discute o impacto da tecnologia dos aplicativos de transporte para a mobilidade de Belo Horizonte e quais são as perspectivas da cidade para o futuro. No primeiro dia, a série contextualizou impactos positivos e negativos das mudanças e trouxe o desafio dos patinetes elétricos. Na segunda-feira, o assunto foi a consolidação do transporte de passageiros por meio dos apps e também os desafios relacionados à segurança. Na terça-feira, a reportagem abordou a popularização das motocicletas a serviço de entregas por aplicativos e o que esse cenário gerou para a segurança do trânsito. Na quarta-feira, foi publicada uma discussão sobre as relações de trabalho por causa da tecnologia e as repercussões para a economia. Na quinta-feira, a reportagem do EM mostrou que os apps já ameaçam o transporte público. Ontem, foi a vez de falar da situação das bicicletas nas ruas da capital e o gargalo no trânsito. A série termina hoje, com as mudanças dos últimos cinco anos para os taxistas.