O inverno começou e com ele uma preocupação que sempre traz dor de cabeça aos bombeiros e risco para o meio ambiente: as queimadas. A combinação de irresponsabilidade humana com a baixa umidade relativa do ar, que alcança os menores índices no trimestre formado pelos meses de junho, julho e agosto, faz com que os incêndios, sejam eles criminosos ou não, cresçam no período. Até ontem, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) já havia detectado, via satélite, 197 focos ativos (incêndios de qualquer natureza e intensidade) em Minas Gerais em junho – o maior índice entre todos os meses de 2019 até aqui, apesar de faltar mais de uma semana para o fim do mês. No ano, são 805, mais da metade do total registrado em toda a Região Sudeste (veja quadro). E a série histórica levantada pelo Inpe mostra o quanto os números desse tipo de ocorrência disparam durante essa estação do ano: nos últimos 20 anos, ocorreram, em média, mais de 5,6 mil queimadas entre junho e setembro, quando acontecem o solstício e equinócio do inverno.
Ainda segundo os dados do Inpe, 68,5% dos focos ativos de incêndio em 2018, em Minas Gerais, foram detectados entre junho e setembro, o que liga o sinal de alerta para os próximos meses. Foram 3.171 focos de incêndio no período e 4.627 em 2018 inteiro. Apesar dos dados elevados, a série histórica mostra que o período citado foi o segundo ano com menos registros nos últimos 20, perdendo apenas para 2000. Ou seja, o menor número desta década. Na contramão, o recorde de ocorrências foi batido em 2007, num total de 22.514 focos.
O alerta vale também para Belo Horizonte. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a média histórica de chuvas na capital é menor no inverno. Fica em 9,7 milímetros em junho, 7,9mm em julho e 14,8mm em agosto. A situação só muda em setembro, último mês da estação, quando a taxa alcança 55,5mm. As precipitações estão diretamente ligadas às queimadas, já que o tempo seco cria condições ideais para os incêndios.
Para se ter uma ideia, o Inmet aponta mais de 30 pontos de alto risco de queimadas no estado. O órgão considera o índice de inflamabilidade, medido com base na umidade relativa e nas temperaturas do ar e do ponto de orvalho. No estado, a preocupação se concentra, principalmente, nas regiões Norte, Vale do Jequitinhonha, Noroeste, Alto Paranaíba e Triângulo Mineiro.
Segundo o Corpo de Bombeiros, em 99,9% dos incêndios florestais as causas são humanas. As ações, que podem ser imprudentes ou criminosas, vão de jogar uma guimba de cigarro próximo a rodovias a colocar fogo na vegetação de maneira proposital. Por isso, a corporação pede à população que evite o acúmulo de lixo em lotes vagos ou soltar balões ou fogos de artifício perto de matas ou áreas rurais, além de sempre ensacar os resíduos de capina, em vez de optar pela queima.
CENÁRIO NACIONAL Os números obtidos pelos satélites do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) também indicam uma ameaça para os biomas brasileiros. Ainda sem passar pelo período mais crítico em relação às queimadas, o Brasil registrou, até ontem, 22.414 focos ativos de incêndio, das mais diferentes intensidades, este ano. Quanto às regiões, a mais afetada é a Região Norte, com 8.127 registros, seguida pela Centro-Oeste, com 7.802. A Sudeste tem 1.527 – a maioria vem de Minas Gerais, com 805 focos ou 52,7% do total.
A preocupação se estende também ao território da Amazônia Legal. Instituída pela Lei 1.806/53, durante o governo Getúlio Vargas, essa área compreende toda a Região Norte, o estado do Mato Grosso inteiro e parte do Maranhão. Só este ano, o Inpe computou 14.817 focos ativos nessa zona, que engloba diversas espaços de preservação ambiental.
Quanto aos biomas, o mais prejudicado em 2019 foi justamente a Amazônia, com 9.851 focos ativos. Depois vem o cerrado, com 7.778, e a mata atlântica, com 2.885.