Uma família de Belo Horizonte planejou percorrer o continente americano a bordo de um motorhome, mas o que parecia uma dificuldade, que foi ficar sem eletricidade por seis meses devido a problemas técnicos, uniu pais e filhos e os iniciou numa viagem que pode não ter mais fim, sempre na estrada, sempre juntos. Essa percepção de uma vida mais participativa e empírica motivou o filho mais velho, Leonardo Duarte, de 17 anos, a palestrar para alunos da sua idade e mostrar essa perspectiva diferente de encarar o mundo e de se desenvolver. Nesses dois anos de estradas, a família colecionou muitas aventuras, mas também dificuldades. Nada que não pudessem superar. O motorhome foi vendido e uma caminhonete 4x4 foi comprada e adaptada para as novas aventuras dos quatro, agora, pelo Brasil, do Chui ao Oiapoque pelo litoral. “Não dá mais para encarar aquela rotina estabelecida quando a gente vê que ter muitas coisas não é importante. Outras coisas mais intensas que existem pelo mundo, junto à família, é que são importantes”, disse a jornalista Carla Damiani, de 37 anos, que viajou com o marido, o advogado Fernando Duarte, de 41, e os filhos Leonardo Duarte, de 17, e Raphael Duarte, de 10.
A jornada do Brasil até o Alasca levou dois anos. Antes de deixar a casa em BH alugada e partir para a aventura, muitos medos pairavam. “No Brasil, a gente sempre está protegido pela casa. Para a viagem se tornar econômica foi fundamental dormir sempre no carro e isso trouxe dúvidas”, disse Carla. Uma das saídas que Fernando buscou para contornar essa preocupação foi procurar estacionar o caminhão transformado em casa sempre perto de alguma autoridade de segurança pública. “O mais importante é procurar um local tranquilo e que tenha segurança, usando também aplicativos que trazem informações para viajantes. Parávamos sempre em frente a quartéis da polícia, dos bombeiros ou outros locais seguros”, afirma.
Ainda assim, todo esse cuidado não foi suficiente para manter criminosos afastados. Logo aos dois meses de viagem, quando ainda estavam no Peru, a família acabou sendo furtada. Eles tinham deixado o veículo na frente do Exército apenas pelo tempo necessário para ir a um supermercado, mas bandidos arrombaram as portas e roubaram quatro mochilas. “Era praticamente tudo o que a gente tinha e todos os nossos documentos. Ficamos sem os passaportes que tinham vistos e também os documentos de entrada no Peru, sem os quais não poderíamos nem deixar do país”, conta Carla. A solução foi tentar tirar a segunda via pela internet do que era possível. Quando ficaram prontos, a família no Brasil enviou a documentação para eles. “Tivemos de viajar até Lima, só com o boletim de ocorrência da polícia. Fomos à embaixada brasileira onde pagamos por novos documentos. Passamos por todo o processo de vistos de novo nas embaixadas norte-americana e canadense, regularizando a nossa situação na emigração peruana para deixar o país”, conta Fernando.
A jornada do Brasil até o Alasca levou dois anos. Antes de deixar a casa em BH alugada e partir para a aventura, muitos medos pairavam. “No Brasil, a gente sempre está protegido pela casa. Para a viagem se tornar econômica foi fundamental dormir sempre no carro e isso trouxe dúvidas”, disse Carla. Uma das saídas que Fernando buscou para contornar essa preocupação foi procurar estacionar o caminhão transformado em casa sempre perto de alguma autoridade de segurança pública. “O mais importante é procurar um local tranquilo e que tenha segurança, usando também aplicativos que trazem informações para viajantes. Parávamos sempre em frente a quartéis da polícia, dos bombeiros ou outros locais seguros”, afirma.
Ainda assim, todo esse cuidado não foi suficiente para manter criminosos afastados. Logo aos dois meses de viagem, quando ainda estavam no Peru, a família acabou sendo furtada. Eles tinham deixado o veículo na frente do Exército apenas pelo tempo necessário para ir a um supermercado, mas bandidos arrombaram as portas e roubaram quatro mochilas. “Era praticamente tudo o que a gente tinha e todos os nossos documentos. Ficamos sem os passaportes que tinham vistos e também os documentos de entrada no Peru, sem os quais não poderíamos nem deixar do país”, conta Carla. A solução foi tentar tirar a segunda via pela internet do que era possível. Quando ficaram prontos, a família no Brasil enviou a documentação para eles. “Tivemos de viajar até Lima, só com o boletim de ocorrência da polícia. Fomos à embaixada brasileira onde pagamos por novos documentos. Passamos por todo o processo de vistos de novo nas embaixadas norte-americana e canadense, regularizando a nossa situação na emigração peruana para deixar o país”, conta Fernando.
DESCOBERTAS Daí em diante, as dificuldades foram sendo vencidas e o problema de falta de eletricidade também foi contornado com um gerador. A liberdade que experimentaram, conhecendo os pontos mais místicos e importantes da história americana, praticamente da 'varanda' do motorhome, compensou cada perrengue vivido. “Conhecemos vários lugares que queríamos ir desde a adolescência e ainda pudemos levar os nossos filhos”, afirma Fernando. Para ele, os locais mais fascinantes de se visitar foram os sítios arqueológicos da América do Sul. “Fomos a locais sagrados e estruturas da civilização inca e dos maias. Visitamos Machu Picchu.” Como nos países hispânicos a tradição de se viajar em motorhomes é mais difundida do que no Brasil, há espaços para se parar os veículos e mais estruturas possíveis para os viajantes. “Aproveitamos muito a Cidade do México, onde a comida é muito boa. Lá, vimos também as pirâmides do Sol e da Lua, dos astecas”, destaca Fernando.
A parte mais aventureira dessa jornada para a família, contudo, foi no Alasca. A chamada última fronteira norte-americana surpreendeu pela exuberância do meio ambiente. “Uma das melhores experiências foi quando a gente se sentiu em meio à natureza, lá no Alasca. As pessoas pensam ser um lugar só coberto de gelo, mas no verão é tão quente quanto aqui no Brasil”, disse Fernando. Os filhos disseram ter gostado muito dessa parte da aventura. “Achei a corrida dos salmões (quando os peixes saem do mar e nadam na direção das nascentes dos rios para desovar) muito legal. Os peixes sobem os rios em alguns lugares tão altos, que quando passam, dá para você pescá-los com as mãos. Pegamos alguns peixes com as mãos e depois armamos uma fogueira para assá-los”, lembra Leonardo.
A parte mais aventureira dessa jornada para a família, contudo, foi no Alasca. A chamada última fronteira norte-americana surpreendeu pela exuberância do meio ambiente. “Uma das melhores experiências foi quando a gente se sentiu em meio à natureza, lá no Alasca. As pessoas pensam ser um lugar só coberto de gelo, mas no verão é tão quente quanto aqui no Brasil”, disse Fernando. Os filhos disseram ter gostado muito dessa parte da aventura. “Achei a corrida dos salmões (quando os peixes saem do mar e nadam na direção das nascentes dos rios para desovar) muito legal. Os peixes sobem os rios em alguns lugares tão altos, que quando passam, dá para você pescá-los com as mãos. Pegamos alguns peixes com as mãos e depois armamos uma fogueira para assá-los”, lembra Leonardo.
Saúde quase barra sonho
Um susto que poderia ter tirado das estradas definitivamente a família Duarte não foi capaz de esmorecer a vontade de viver em liberdade. Quando estavam retornando para o Brasil, já no México, o advogado Fernando Duarte passou muito mal e precisou ser hospitalizado às pressas. De repente, aquela alegria foi interrompida com uma internação no Centro de Tratamento Intensivo (CTI) de um hospital mexicano. O diagnóstico não foi mais animador. Ele havia sofrido um acidente vascular cerebral (AVC). Mais uma vez, contudo, a família mostrou união e conseguiu superar o restabelecimento do pai. Depois do susto, veio a decisão de vender o motorhome, voltar ao Brasil e iniciar uma nova fase da aventura, desta vez rodando pelo Brasil.
Para o plano renovado de viagens, preferiram trocar o motorhome por uma caminhonete. “Conhecemos um fabricante de abrigos que eram montados sobre os veículos. Ele usou esse sistema no Alasca, com a família. Resolvemos, então, utilizar esse produto para rodar o Brasil”, disse Fernando. “Temos o desejo de conhecer várias partes do Brasil, já que na nossa primeira viagem a gente saiu daqui. Sabemos que o país é muito bonito e tem muitas coisas legais para vermos. De BH, vamos para o Sul do Brasil, para uma grande feira de motorhomes. De lá, iremos pelo litoral aos extremos do Brasil, do Chui ao Oiapoque”, completou.
O novo sistema consiste em dois jogos de barracas que ficam empacotadas sobre a cabine da pick-up, onde os adultos dormem, por serem mais pesados, e outra fixada sobre a fibra de vidro, destinada aos filhos, por serem mais leves. O aparato é sanfonado e basta puxar para fora do teto para que o teto se erga e uma plataforma se estenda, praticamente dobrando a área da habitação.
Na hora de erguer “acampamento”, todos da família podem ajudar na montagem. Há até quem aposte quem monta sua casa mais rápido. “Em média, leva uns dois minutos e meio, mas tem quem consiga montar em dois minutos”, afirma o advogado. “Aqui tem espaço bastante para todo mundo. No começo, tinha medo de a escada cair, mas fica muito bem presa no chão”, disse o caçula da família, Raphael, de 10. Entre os ajustes, a família buscava instalar organizadores de roupas nos espaços que sobraram.
Para o plano renovado de viagens, preferiram trocar o motorhome por uma caminhonete. “Conhecemos um fabricante de abrigos que eram montados sobre os veículos. Ele usou esse sistema no Alasca, com a família. Resolvemos, então, utilizar esse produto para rodar o Brasil”, disse Fernando. “Temos o desejo de conhecer várias partes do Brasil, já que na nossa primeira viagem a gente saiu daqui. Sabemos que o país é muito bonito e tem muitas coisas legais para vermos. De BH, vamos para o Sul do Brasil, para uma grande feira de motorhomes. De lá, iremos pelo litoral aos extremos do Brasil, do Chui ao Oiapoque”, completou.
O novo sistema consiste em dois jogos de barracas que ficam empacotadas sobre a cabine da pick-up, onde os adultos dormem, por serem mais pesados, e outra fixada sobre a fibra de vidro, destinada aos filhos, por serem mais leves. O aparato é sanfonado e basta puxar para fora do teto para que o teto se erga e uma plataforma se estenda, praticamente dobrando a área da habitação.
Na hora de erguer “acampamento”, todos da família podem ajudar na montagem. Há até quem aposte quem monta sua casa mais rápido. “Em média, leva uns dois minutos e meio, mas tem quem consiga montar em dois minutos”, afirma o advogado. “Aqui tem espaço bastante para todo mundo. No começo, tinha medo de a escada cair, mas fica muito bem presa no chão”, disse o caçula da família, Raphael, de 10. Entre os ajustes, a família buscava instalar organizadores de roupas nos espaços que sobraram.
Educação em primeiro lugar
Uma das grandes dúvidas da família era quanto à educação dos filhos durante os dois anos de viagem. Os dois estudavam no Colégio Magnum. “Os dois estavam numa das escolas brasileiras que tinham uma das melhores classificações do Enem. Por isso tinha muito medo de como seria essa volta”, revela Carla Damiani. Hoje, a forma que encontraram de manter a educação dos filhos foi matriculando-os numa escola norte-americana de ensino a distância. “Hoje, os dois falam fluentemente inglês e espanhol, sem contar que viram lugares sobre os quais provavelmente só saberiam por meio de livros”, conta Carla.
A experiência se mostrou muito positiva, especialmente para o filho mais velho, Leonardo Duarte, de 17 anos, que ao mergulhar no ensino a distância, pela internet, desenvolveu uma forma mais eficiente de obter conhecimentos. Ele até lançou um livro mostrando suas experiências, chamado Como sobrevivi dois anos sem tomada e tem feito palestras para jovens da sua idade pelo Brasil, em escolas públicas e privadas. “Um dos objetivos foi incentivar os estudantes a usar a internet como uma ferramenta para saber mais sobre os lugares. Eu já aprendi as melhores coisas durante a viagem, então isso me incentivou a fazer um uso mais produtivo da internet.”
O adolescente afirma que suas experiências, na linguagem dos jovens, os estimula a buscar esse tipo de experiência. O conhecimento sobre os lugares para onde se vai, por exemplo, se torna mais profundo e permite enxergar uma realidade que o simples turista não consegue ver. “Na Bolívia, por exemplo, descobri que as pessoas são legais, mas muito fechadas com os estrangeiros, porque o país perdeu o território para todos os vizinhos. Por isso, são muito desconfiados. Você pensa que estão te tratando mal, mas aquele é o jeito daquele povo”, ensina Leonardo.
A experiência se mostrou muito positiva, especialmente para o filho mais velho, Leonardo Duarte, de 17 anos, que ao mergulhar no ensino a distância, pela internet, desenvolveu uma forma mais eficiente de obter conhecimentos. Ele até lançou um livro mostrando suas experiências, chamado Como sobrevivi dois anos sem tomada e tem feito palestras para jovens da sua idade pelo Brasil, em escolas públicas e privadas. “Um dos objetivos foi incentivar os estudantes a usar a internet como uma ferramenta para saber mais sobre os lugares. Eu já aprendi as melhores coisas durante a viagem, então isso me incentivou a fazer um uso mais produtivo da internet.”
O adolescente afirma que suas experiências, na linguagem dos jovens, os estimula a buscar esse tipo de experiência. O conhecimento sobre os lugares para onde se vai, por exemplo, se torna mais profundo e permite enxergar uma realidade que o simples turista não consegue ver. “Na Bolívia, por exemplo, descobri que as pessoas são legais, mas muito fechadas com os estrangeiros, porque o país perdeu o território para todos os vizinhos. Por isso, são muito desconfiados. Você pensa que estão te tratando mal, mas aquele é o jeito daquele povo”, ensina Leonardo.