O trabalho exaustivo dos resgatistas que atuam em Brumadinho completa cinco meses hoje. Em 25 de janeiro, a barragem B1 da Mina Córrego do Feijão se rompeu, liberando 10 milhões de metros cúbicos de rejeitos e causando destruição e mortes nas áreas próximas à estrutura. O último balanço divulgado pelo Corpo de Bombeiros aponta que 246 corpos foram encontrados e 24 pessoas ainda estão desaparecidas.
É por essas 24 famílias que os bombeiros ainda atuam na região. Em média, 150 agentes trabalham diariamente, durante dia e noite, à procura das vítimas do maior desastre humano da mineração no país. Quando a barragem se rompeu, esse número margeava os 400, abrangendo socorristas mineiros e de outros estados.
Com o passar dos meses, o rejeito se secou e nadar na lama – método que chamou a atenção de todo o mundo na época – já não é mais tão eficaz quanto no início das buscas. Atualmente, diferentemente do que se via nos primeiros dias após o colapso da barragem, as buscas dependem muito mais de máquinas pesadas, que dão suporte na remoção do minério e facilitam a chegada dos agentes a locais inacessíveis.
Mesmo assim, em cada escavadeira, há um militar ao lado da cabine do condutor, que verifica o terreno visualmente. Caso nenhum segmento corpóreo seja localizado, o rejeito é levado para um local dentro da mina do Córrego do Feijão. Lá, depois de seca, a lama é novamente vistoriada.
Os trabalhos se iniciam todos os dias às 6h e vão até a noite. Em muito casos, com a ajuda de aparelhos que fornecem iluminação, as buscas se arrastam até as 22h. Com a enorme dificuldade de encontrar fragmentos corpóreos em uma grande área, os bombeiros optam pela estratégia de cruzar dados no serviço de inteligência da força-tarefa.
É no posto de comando que esse trabalho é feito. Lá, os socorristas tentam entender a dinâmica de todo o ocorrido, levantando informações de cada vítima, a partir de seu perfil. Os bombeiros acreditam que esse conjunto de dados pode levar a uma aproximação de onde cada pessoa estava no momento do rompimento da barragem.
De acordo com o porta-voz do Corpo de Bombeiros, tenente Pedro Aihara, esse perfil é composto de informações levantadas com a Vale (proprietária da barragem), sobreviventes da tragédia e familiares dos desaparecidos. Após o traço de cada vítima, os bombeiros verificam onde foram encontradas as outras pessoas que exerciam a mesma função na mina e, assim, direcionam as buscas.
Além disso, os agentes do posto de comando estudam o comportamento do fluxo de lama e por onde o rejeito passou. Para isso, os socorristas comparam a localização original dos piezômetros (instrumentos que medem a pressão na barragem) com a de onde eles foram encontrados. A localização das últimas vítimas só teria sido possível graças ao serviço de inteligência. No início de junho, 130 dias após o colapso, os bombeiros conseguiram localizar um corpo intacto. Cristiano Jorge Dias, de 42 anos, estava entre sete e nove metros de profundidade e, segundo os agentes, não teve seu corpo destruído porque ficou preso em uma pilha de minério. “Foram liberados 10,5 milhões de metros cúbicos e conseguimos encontrar 91% das vítimas, removendo menos de 10% da lama. Isso foi graças ao trabalho de inteligência”, disse o tenente Pedro Aihara. “É o momento de melhorar ainda mais esse trabalho de inteligência. Temos horas e horas de estudo de planejamento, com especialistas e professores de universidades”, completou.
ANIMAIS Os animais são outro ponto essencial no estágio atual das buscas. São eles os responsáveis por detectar a presença de algum segmento depois do processo de secamento da lama. É justamente devido a essa importância, que o Corpo de Bombeiros vai adquirir 40 novos cães de salvamento – atualmente, os socorristas mineiros têm menos de 10 animais. No total, 58 cachorros participaram de toda a operação de Brumadinho. Desses, três eram integrantes das tropas israelenses e os demais provenientes de vários estados brasileiros. A nova tropa animal deve ser composta das raças Border Collie, Pastor-Belga de Malinois e Labrador.