Pegue pitadas generosas de eventos recheados de receitas para atrair toda a sorte de paladares; acrescente porções fartas de recursos que fazem crescer a economia; misture tudo em um caldeirão que reúne e sintetiza a rica diversidade da culinária mineira. Leve a Paris e espere o resultado. No último dia do prazo para que cada cidade postulante ao título de Cidade Criativa da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) envie à capital francesa a defesa de sua candidatura, o Estado de Minas revela com exclusividade o conteúdo do dossiê entregue pela capital mineira, que concorre com Aracaju, Fortaleza e Cataguases a uma das duas vagas do país na disputa.
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Com quase 90 mortes por dengue em 2019, Minas pode ter ano mais letal da históriaRisco de febre maculosa na Pampulha? Mesmo com apreensão, visitas continuamCampanha vai escolher o nome do novo bebê gorila nascido no zoo de BHEncontro Gastrô premiará destaques da gastronomia de BHConcorrendo a título da Unesco, Cataguases aposta em tradição no cinemaDe acordo com o presidente da Belotur, Gilberto Castro, a cidade cria harmonia perfeita de tradição, história, singularidade, versatilidade, inclusão e sustentabilidade nas artes culinárias, consolidando-se a cada dia como cidade criativa da gastronomia. O documento de BH procura destacar a criatividade e talento gastronômico do mineiro, valorizando os ingredientes regionais.
Tudo isso está refletido nos cardápios dos botecos aos restaurantes especializados. “Belo Horizonte concorreu ao título de Cidade Criativa, há dois anos. No entanto, na época, os setores púbico e privado não estavam com integração como conseguimos desta vez. Juntos somos mais fortes. Vamos trabalhar em conjunto e de mãos dadas”, afirma o presidente da Associação de Bares e Restaurantes (Abrasel) e da Frente Mineira da Gastronomia, Ricardo Rodrigues.
O dossiê apresenta dados econômicos, em especial os relacionados à gastronomia, aspectos culturais e as políticas de inclusão – tendo a gastronomia como intermediária. Orgulhosa do título de capital brasileira dos botecos, BH reúne o maior número de bares e restaurantes por habitante do Brasil. São 18,6 mil negócios, em mais de 10 polos gastronômicos cidade afora. A capital concentra mais de 30% dos trabalhadores do setor criativo de Minas, ocupando o terceiro lugar no ranking nacional, com maior número de profissionais trabalhando em atividades do gênero.
De acordo com dados da Abrasel, há 45.662 empresas do segmento de alimentação, movimentando bilhões. A gastronomia responde por quase 40% do mercado da economia criativa, com cerca de 54 mil postos de trabalho. O dossiê aponta ainda que existem mais de 21 mil pessoas empregadas no setor, cerca de 25% do total de todo o estado nessa atividade.
PRATO DE ENTRADA A história da Belo Horizonte, bem como as características, tradição e peculiaridades da gastronomia, são apresentadas na primeira parte do dossiê. O documento se concentra na conexão da capital com a gastronomia, destacando que, antes mesmo da fundação, ainda no ano 1701, a localidade abrigava fazenda que abastecia as áreas mineradoras do estado – a Fazenda Cercado, que, posteriormente, deu lugar ao Arraial do Curral del-Rei.
Foram apresentados ainda os principais pratos e ingredientes, eventos e festivais e características belo-horizontinas, com ênfase para a cultura de boteco. O dossiê ainda tem a função de apresentar o trabalho feito pelos setores público e privado em apoio ao desenvolvimento do segmento.
Um trunfo com que a candidatura conta são as políticas de segurança alimentar e nutricional, geridas pela Subsecretaria de Segurança Alimentar da Prefeitura de Belo Horizonte. Nessa linha, o documento defende que a cultura gastronômica da cidade vai muito além do pão de queijo e outros estereótipos a ela associados. O poder público se apresenta como agente que implanta um sistema que garanta acesso ao alimento e fomente a produção, a comercialização e o consumo de produtos agroecológicos.
TEMPERO SALPICADO PELO MUNDO AFORA
O dossiê destaca também a culinária típica de Minas Gerais, com pratos elaborados e saborosos, como o feijão-tropeiro. Ao apresentar os pratos típicos, estabelece a relação entre a culinária e a história de diferentes povos que ocuparam o território.
As influências dos colonizadores portugueses, dos africanos e dos indígenas dando origem a uma culinária que tem um pé no quintal, com pratos elaborados feitos à base de ingredientes simples, como mandioca, feijão, milho, verduras, frango e porco. O dossiê destaca ainda que a cozinha mineira é autoral e reflete a cultura e os saberes de seu povo. E destaca: de tão singular, a culinária mineira é replicada em vários estabelecimentos “tipicamente mineiros” pelo Brasil e pelo mundo afora.
Foram quantificados no levantamento mais de 70 festivais e eventos anuais de gastronomia abertos ao público, como o precursor Comida di Buteco, o Botecar ou o de Bar em Bar, festivais que exaltam a cultura do boteco, tipicamente belo-horizontina, e já são replicados em várias partes do país. BH põe à mesa em Paris ainda eventos como o Festival Internacional de Cerveja e Cultura (FICC), o maior evento de cervejas artesanais do estado, ou o Circuito Gastronômico de Favelas, que coloca como protagonistas os cozinheiros de 10 comunidades vulneráveis.
No cardápio convivem ainda a Semana da Gastronomia Mineira, que celebra os pratos típicos, e as festas de diversas culturas. Sem contar eventos que descentralizam a cultura gastronômica e celebram os ingredientes belo-horizontinos, como Restaurant Week, Brasil Sabor, Festival Fartura, Festival do Queijo Minas Artesanal, Circuito Gastronômico da Pampulha e Circuito Sapucaí de Gastronomia.
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